O candidato à Presidência Padre Kelmon (PTB), substituto de última hora de Roberto Jefferson (PTB), gastou R$ 1,2 milhão — 97% do dinheiro público que obteve — com uma empresa de um aliado do ex-deputado, a B2C Marketing.

A firma não funciona no endereço que declara à Receita Federal, também não tem um site e, até agora, só prestou serviço para mais dois candidatos do próprio partido.

A B2C Marketing pertence a Ezequiel Bruno Cortez Gonzaga, que tem um longo histórico de negócios com o PTB. Bruno Cortez, como é conhecido, mora em Brasília e já ocupou um cargo de confiança na Câmara da cota do partido, em 2005, quando Jefferson ainda era deputado federal.

Antes, Cortez já havia recebido recursos do PTB como funcionário de outra empresa, a D’uart Produtora de Filmes e Eventos, fornecedora que apenas em 2021 ganhou R$ 746 mil da legenda.

— Ele (Cortez) trabalha há alguns anos no partido. Ele é próximo de toda a direção do partido. Há muitos anos — diz a ex-deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson.

A B2C Marketing, porém, só foi criada em 2020. Embora Cortez more em Brasília, o endereço da empresa registrado na Receita é um escritório de “coworking” em um shopping de Cuiabá (MT).

A Use Coworking, que administra o espaço, disse ao GLOBO que a firma não usa mais o local, mas manteve um contrato de endereço fiscal — apenas para receber correspondências — até dezembro de 2020. “Consta encerrado em nosso sistema”, informou a Use.

Em nota conjunta, a empresa e o advogado da campanha de Kelmon, Luiz Gustavo Pereira Da Cunha, dizem que “a agência não exerce a atividade no endereço citado, pelo fato de seus diretores e funcionários trabalharem em regime de home office full time” e que esse é seu domicílio fiscal.

“Endereço fiscal, ou domicílio fiscal, é o local apontado na documentação da empresa como referência para questões ligadas ao Fisco, de contabilidade.”

O serviço prestado à campanha de Kelmon é descrito apenas como “serv. planej. criação prod. e coord de campanha”.

Kelmon tem 25 segundos de tempo de televisão e começou a fazer campanha em setembro, após Jefferson ter a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O ex-deputado é considerado inelegível pela condenação no escândalo do Mensalão.

O GLOBO questionou a empresa sobre a quantidade de funcionários e sobre quais serviços foram prestados à campanha do Padre Kelmon, mas não obteve resposta.

A empresa é registrada com “produção de filmes para publicidade” como sua atividade principal, assim como “web design”.

Além de Kelmon, outros dois candidatos da sigla contrataram a empresa: Coronel Moreno, que disputa o governo do Distrito Federal, e Marcelo Hipólito, candidato a senador do Distrito Federal.

Eles pagaram R$ 125 mil e R$ 75 mil à B2C, respectivamente. Procurados pela reportagem, eles não responderam.

Fonte: O GLOBO