Na falta de espaços, é preciso ter paciência. E foi assim que o Flamengo conseguiu vencer o Corinthians na tarde de domingo, no Maracanã, para seguir vivo na caça ao Inter pelo sonho do título do Brasileirão.
Gabigol comemora com Rogério Ceni em Flamengo x Corinthians, no Maracanã, pelo Brasileiro — Foto: André Durão
Um relato sucinto do jogo até poderia indicar uma superioridade ao ponto de o time de Rogério Ceni construir sem dificuldades a vitória por 2 a 1: o Flamengo teve maior posse de bola, empurrou o Corinthians para seu campo e foi senhor da partida. A questão, no entanto, está no que os cariocas conseguiram fazer nos 66% (estatística que chegou a superar 75%) do tempo em que ditaram as ações quase sempre rondando a baliza de Cássio.
O Flamengo ter a bolas nos pés não era algo que preocupasse o Corinthians. Com linhas bem definidas e próximas, os visitantes formavam um paredão na frente da área e reduziam o jogo a praticamente um terço do campo do Maracanã. O cenário era claro: um time trocava passes em busca de espaços e o outro apostava em uma saída bem encaixada. Estratégia que deu certo para ambos no primeiro tempo.
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Com todo time no campo de ataque, o Flamengo fazia a bola girar com velocidade pelos pés de Diego e Gérson para levar perigo em jogadas pelos lados. Se o meio estava congestionado, a equipe de Ceni encontrava soluções, mas acabava se vendo obrigada a alçar muitas bolas na área. Foram 21 cruzamentos em todo o jogo.
Em um deles, Willian Arão abriu o placar de cabeça. Logo depois, Bruno Henrique carimbou o travessão. O roteiro indicava uma vitória tranquila, e não foi. O passe bem feito por Araos após se desvencilhar da marcação de Diego encontrou Léo Natel nas costas de Willian Arão. Um chute, um gol e o Flamengo novamente se via obrigado a “inventar” espaços na defesa corintiana, a esta altura já ciente de que o Inter vencia sua partida em São Januário.
Flamengo x Corinthians
Posse de bola: 66% x 34%
Finalizações: 14 x 11
Faltas cometidas: 21 x 16
Passes trocados: 594 x 305
Cruzamentos: 21 x 11
As jogadas pelos lados seguiram sendo as melhores para levar perigo, mas a dinâmica já não era a mesma do início do jogo. As estocadas demoravam mais para acontecer, os passes laterais se multiplicavam e o Corinthians foi para o intervalo com o empate controlado.
Os cartões de Fagner e Fábio Santos indicavam ao Flamengo que as jogadas em profundidade seguiam como caminho mais viável, e na volta para o segundo tempo Bruno Henrique resolveu entrar no jogo. Longe de ser o atacante que a torcida está acostumada, mas suficiente para levar perigo pela esquerda e participar do lance do gol.
Willian Arão começou o jogo como zagueiro e terminou como volante — Foto: André Durão
Foi um chute do camisa 27 que Cássio espalmou para Everton Ribeiro servir Gabigol no rebote: 2 a 1 e promessa de meia hora de jogo mais aberto. Na luta por uma vaga na Libertadores, o Corinthians se soltou, por mais que os ainda apostasse mais em contra-ataques do que em presença no campo ofensivo.
Em vantagem, o Flamengo se arriscou pouco, e Rogério Ceni optou por simplificar e dar fôlego ao time nos minutos finais. Ciente da pressão que o Corinthians tentava esboçar, colocou Gustavo Henrique, adiantou Arão para volante e povoou os arredores da grande área. Deu certo.
Pelo alto, Rodrigo Caio e Gustavo Henrique eram soberanos, e pelo chão o Flamengo conseguia conter as jogadas corintianas quase sempre na intermediária. Pepê teve participação importante com desarmes e foram os rubro-negros que tiveram as melhores chances, desperdiçadas por Vitinho e Pedro.
No jogo de paciência e estratégia, o Flamengo fez valer o clichê do “saber sofrer” e chega vivo para o confronto direto com o Inter, domingo, no Maracanã.