No dia 13 de março, a equipe responsável pelas atividades do rover Perseverance, que explora a superfície de Marte, foi surpreendida após imagens capturadas pelo equipamento revelarem uma estranha rocha composta por centenas de esferas de tamanho milimétrico. A formação, que mais lembra ovos de aranha, foi descoberta em Broom Point, situado na borda da cratera Jezero.
A rocha ficou conhecida como “Baía de St. Paul”. Ela parece ser composta por esferas de diferentes formatos em tom cinza-escuro. Algumas marcas têm forma elíptica alongada, já outras apresentam bordas angulares, como esférulas quebradas. Em alguns casos, as marcas até possuíam pequenos furos. Veja em detalhes:
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Achado recorrente
Como lembra um comunicado emitido pela Nasa no dia 21 de março, esta não é a primeira vez que esferas estranhas foram avistadas em Marte. Em 2004, por exemplo, a missão Mars Exploration Rover Opportunity identificou formações semelhantes em rochas de Meridiani Planum.
Desde então, o rover Curiosity observou por várias vezes esférulas nas rochas da Baía de Yellowknife, na cratera Gale. Há apenas alguns meses, o próprio Perseverance também avistou texturas semelhantes a pipocas em rochas sedimentares expostas no canal de entrada da cratera Jezero, Neretva Vallis.
Em cada um desses casos, as esférulas foram interpretadas como concreções, características que se formaram pela interação com cursos de águas subterrâneos circulando através de espaços porosos na rocha. No entanto, nem todas as esférulas se formam dessa forma.
Quando observadas na Terra, essas estruturas costumam estar associadas a um processo de resfriamento rápido de gotículas de rocha derretida formadas em uma erupção vulcânica. Outra explicação para a sua aparição reside na condensação de rochas vaporizadas por um impacto de meteorito.
Rocha flutuante
A partir das múltiplas hipóteses levantadas para explicar os “ovos de aranha” nas rochas marcianas, os especialistas agora analisam como cada um desses mecanismos de formação teria implicações na evolução dessas rochas. Portanto, a equipe está determinada em identificar o seu contexto e a sua origem.
St. Pauls Bay, no entanto, era “rocha flutuante”. O termo é usado por geólogos para descrever algo que não está no lugar – isso é, que, por meio de algum processo, saiu de seu espaço de origem e “migrou” para uma região estranha.
A equipe trabalha para vincular a textura rica em esférulas observada em St. Pauls Bay àquelas encontradas em Witch Hazel Hill. As observações iniciais forneceram indicações tentadoras de que ela poderia estar vinculada a uma das camadas de tons escuros vistas da órbita.
Colocar essas características em um contexto geológico é crítico para entender sua origem e determinar a história geológica da borda da cratera de Jezero. O estudo ainda abre margem para relacionar as complexas interações entre a água, as rochas e as forças geológicas do Planeta Vermelho, o que pode ajudar a responder se ele poderia ter abrigado vida no passado.
(Por Arthur Almeida)