“Tempos difíceis geram pessoas fortes”. Acredito que muitos já ouviram ou leram tal frase, a qual não está totalmente equivocada. Vivemos em um mundo cada dia mais usual, veloz, intuitivo e pouco reflexivo, com milhares de aplicativos e toda uma usabilidade para facilitar a vida dos homo sapiens. Sites perderam relevância e a internet se tornou uma verdadeira Meca dos aplicativos: marketplace, busca de preços em marketplaces e aplicativos de cashback em marketplace, tudo à procura de um usuário que se interesse por algo que se possa vender ou induzi-lo a isso.
A busca por soluções para simplificar a vida é a palavra de ordem do século 21. as a que custo? Não é por mera coincidência que se utiliza a palavra usuário para se classificar os humanos que utilizam das ferramentas espalhadas por toda a internet, o que nos leva a mais uma pergunta: será que não vivemos uma onda de usuários contumazes pelas facilidades oferecidas no mundo digital? A utilização desenfreada desses aplicativos não pode nos levar a uma dependência psicológica permanente, conseguindo descontruir toda uma evolução dos processos cognitivos construídos há milênios pela raça humana?
Trata-se do que o neurocientista francês Michel Desmurget trouxe em seu último livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, pela editora Vestígio, a respeito de como os dispositivos digitais e aplicativos embarcados estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens. Pesquisadores brasileiros, como a Prof. Dra. Thayse de Oliveira Silva, da Universidade da Paraíba, estudam há muitos anos de que modo o uso de aplicativos em excesso vem atrapalhando os processos de aprendizado, levando a uma letargia do pensamento, devido à dependência de soluções algorítmicas vindas do mundo digital. Até o início dos anos 2000, observávamos claramente que, de geração em geração, o QI (Coeficiente de Inteligência) se elevava, o chamado “efeito Flynn”, em referência ao psicólogo americano o qual descreveu esse fenômeno. Todavia, recentemente, essa tendência começou a se reverter em vários países, afirmou o pesquisador francês.
O distanciamento de famílias, causado pela falta de conexão, somado aos tradicionais conflitos geracionais, são efeitos colaterais de vidas mais cômodas, líquidas e imediatistas, em que as consequências futuras não podem ser medidas no presente, mas, de fato, serão devastadoras. Isso acontece porque, diferente do dito inicialmente, vidas fáceis geram pessoas frágeis e, no mundo da selva de pedra, assim como na selva dos animais, os mais fracos sempre serão presas fáceis aos predadores. Além disso, como educamos nossos filhos e conduzimos nossas famílias está intimamente ligado à sobrevivência desses em um mundo que não perdoa aqueles que não possuem resiliência o suficiente para se adaptar às dificuldades que surgirão e, para isso, não existe e nem existirá aplicativos, pois se trata de vida real.
*GÊNESIS BARBARÁ MARQUES PEREIRA é professor, historiador e Gestor Educacional.
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