Estamos vivendo uma onda de calor com sensações térmicas a cima de 50°C. O calor extremo pode ter sérias implicações para a saúde do coração, especialmente em pessoas com doenças cardiovasculares pré-existentes. Neste estudo lançado neste ano de 2023, é examinada a relação entre o calor e as principais causas de doenças cardiovasculares, bem como os mecanismos fisiológicos propostos para o efeito deletério do calor no coração. Estudos epidemiológicos mostraram que o calor pode resultar em:
- Doença cardíaca isquêmica;
- Acidente vascular cerebral;
- Insuficiência cardíaca;
- Arritmia.
Entretanto, a ausência de orientação clínica sobre como gerir doenças cardíacas durante eventos de calor realça a necessidade de os cardiologistas e outros profissionais de saúde liderarem a abordagem da relação crítica entre o aquecimento do clima e a saúde.
Definir o que são consideradas temperaturas extremas é importante para estudar epidemiologicamente o efeito da temperatura nas doenças cardiovasculares. Atualmente, não existe um valor certo de temperatura Celsius que possa ser definido como temperatura extrema em todos os lugares: o impacto da temperatura será diferente dependendo da região e da época do ano. Por exemplo, um evento de temperatura extrema, digamos um dia de 40°C, pode ter implicações diferentes para a saúde, dependendo de onde e quando ocorre: uma temperatura de 40°C no Kuwait é um dia típico de verão, enquanto uma temperatura de 40°C em Londres (observada no verão de 2022) pode resultar em danos generalizados e incalculáveis.
Quando dias extremamente quentes são sustentados por vários dias consecutivos, isso é geralmente chamado de onda de calor. Não há consenso para definir o que é um corte de calor extremo e o que é uma onda de calor.
Os mecanismos que ligam temperaturas extremas a diferentes doenças cardiovasculares estão relacionados a:
- Desidratação;
- Hemoconcentração;
- Hipercoagulabilidade;
- Ativação simpática;
- Mediadores inflamatórios.
Qual o mecanismo?
- Durante o calor extremo, há um aumento no fluxo sanguíneo da pele para resfriar o corpo por meio da transpiração e da evaporação.
- Esta reação fisiológica pode levar à desidratação, hemoconcentração, estado de hipercoagulabilidade e distúrbios eletrolíticos.
- Estados de hipercoagulabilidade podem levar à formação de coágulos, levando a eventos coronários agudos ou acidente vascular cerebral.
- Os distúrbios eletrolíticos podem desencadear diferentes tipos de arritmias. Eletrólitos, como sódio, potássio ou magnésio, desempenham um papel vital na gênese do potencial de ação transmembrana e, portanto, o desequilíbrio eletrolítico pode alterar os potenciais de ação dos miócitos cardíacos, levando a arritmias.
- Além disso, a desidratação pode ativar o sistema nervoso simpático, levando a um aumento da frequência cardíaca e das demandas metabólicas cardíacas.
- Em pacientes com DCV pré-existente, isso pode causar incompatibilidade entre oferta e demanda, desencadeando eventos isquêmicos e até ruptura de placa, terminando em acidente vascular cerebral ou ataques cardíacos.
Mecanismos semelhantes são responsáveis pelo impacto do calor nas exacerbações da insuficiência cardíaca. Além disso, os dados sugerem que a vasodilatação cutânea e a sudorese responsáveis pelo ajuste ao calor extremo estão prejudicadas em pacientes com insuficiência cardíaca. Estudos demonstram aumento prejudicado do fluxo sanguíneo da pele induzido pelo calor em pacientes com insuficiência cardíaca. O mecanismo preciso por trás desse achado não é bem compreendido.
Além disso, um componente chave no tratamento da insuficiência cardíaca é o uso de diuréticos como furosemida, torsemida ou bumetanida, para promover o efeito natriurético ao inibir o sistema de cotransporte cloreto de sódio na alça de Henle. Isso pode exacerbar os estados de desidratação e causar desequilíbrios eletrolíticos.
No caso de insolação, a desidratação e a ativação simpática redirecionam o fluxo sanguíneo para longe do intestino; esta diminuição no fluxo sanguíneo intestinal leva à isquemia intestinal e a um aumento na permeabilidade da membrana epitelial intestinal, permitindo que substâncias nocivas, entrem na corrente sanguínea. Isto desencadeia uma resposta imunitária sistêmica e avassaladora causando uma síndrome de resposta inflamatória sistémica, ou SIRS. Além disso, o endotélio vascular danificado provoca coagulação microvascular e falência de sistemas de múltiplos órgãos, incluindo disfunção cardiovascular.
Logo, é mandatório que as pessoas se protejam do calor e que os eventos esportivos, incluindo jogos e competições, adequem os horários para a realidade local. Pois é inadmissível o que vemos rotineiramente, como jogos de futebol da base acontecerem entre 11h e 15h, caracterizando uma grande negligência em relação aos atletas. (GE)
No entanto, os estudos não abordam a incidência desses casos em cidades que possuem clima quente, como é o caso de Cuiabá, onde não há registros frequentes dessas patologias.