Desde que Plutão virou um “planeta anão” em 2006, as organizações espaciais consideram que o Sistema Solar é composto por oito planetas. Mais recentemente, no entanto, novas descobertas sobre um estranho corpo celeste, localizado para além de Netuno, têm levantado suspeitas sobre a existência de um possível candidato a “Planeta Nove”.

Não é a primeira vez que tal objeto é investigado por cientistas. Como já contamos aqui na GALILEU, há pesquisas que sugerem a sua presença nos confins do Sistema Solar desde o século 19. Até mesmo alguns especialistas brasileiros voltaram a sua atenção para o assunto.

Desta vez, no entanto, os esforços encabeçados por pesquisadores da Universidade de Taiwan renderam um registro inédito de sua movimentação ao redor do Sol. A informação foi obtida por meio da comparação de dados dos satélites IRAS e AKARI ao longo de um intervalo de 23 anos.

Os detalhes da descoberta foram descritos em um artigo científico apresentado à revista Publications of the Astronomical Society of Australia. Mesmo que ainda precise passar pela etapa de revisão por cientistas independentes, o material já pode ser acessado na plataforma arXiv.

Rastreamento do corpo celeste

Com uma massa intermediária entre a da Terra (o maior dos planetas rochosos) e a de Netuno (o menor dos gasosos), estima-se que o Planeta Nove esteja a uma distância do Sol entre 280 e 1.120 vezes maior que a da Terra. Isso sugere que ele pode levar entre 10 e 20 mil anos para dar uma única volta completa ao redor de nossa estrela central.

Na prática, portanto, o astro (se existir) deve ter um brilho muito modesto, o que dificulta um pouco o processo de achá-lo, mas ainda está dentro do alcance dos telescópios mais modernos de hoje. O problema, na verdade, é que os cientistas nem ao menos sabiam para onde apontar na imensidão do Universo para localizá-lo.

Como destacou Folha de S. Paulo, a melhor forma encontrada pelos especialistas foi fazer com projetos de varredura. Essas iniciativas tiram fotos de todo o céu e geram imensos catálogos de objetos.

Nesta missão em específico, partiu-se de dois catálogos produzidos por telescópios espaciais de infravermelho (o comprimento de onda ideal para a busca pelo planeta). Os escolhidos foram o IRAS (lançado em 1983) e o AKARI (2006).

Possíveis evidências identificadas

Graças aos dois levantamentos em infravermelho profundo realizados pelos telescópios, os cientistas analisaram centenas de milhares de objetos, terminando essa investigação preliminar com 13 pares presentes nos catálogos dos dois satélites. Desses, apenas um se mostrou resiliente após uma cuidadosa análise das imagens – o qual eles acreditam ser o Planeta Nove.

Com base nos dados dos equipamentos, a equipe conseguiu medir o movimento orbital do objeto a partir do alinhamento entre as imagens obtidas em 1983 e 2006. Embora a mudança de posições seja bem pequena, ela existe, e pode significar que ele avançou em sua órbita ao redor do Sol.

Além disso, outra evidência que aponta para a existência de um planeta nos arredores do Sistema Solar é a atividade dentro do Cinturão de Kuiper, destaca a ABC News. Esse aglomerado incomum de corpos gelados — incluindo cometas e planetas anões — que se estende de Netuno em direção ao espaço interestelar.

Por lá, sabe-se que seis objetos têm órbitas elípticas apontando na mesma direção, que orbitam no sentido oposto de todo o resto do Sistema Solar. Isso pode ser resultado da atração gravitacional de um planeta próximo.

Finalmente, relatou-se que o corpo celeste reflete apenas uma pequena quantidade de luz solar. Tal característica aumenta a probabilidade de que seja, de fato, um planeta.

Futuro da pesquisa

Apenas as observações do IRAS e do AKIRA são consideradas insuficientes pelos próprios autores para traçar a órbita do objeto e determinar exatamente onde ele está. Assim, para o futuro, o objetivo dos especialistas é restringir ainda mais a sua possível área de localização.

Com isso, será possível que um telescópio com campo de visada menor e sensibilidade maior, como o James Webb, possa ser apontado a fim de investigá-lo me mais detalhes. Somente aí será possível realmente avaliar se é ou não um novo planeta.

(Por Arthur Almeida)