As plantas atraem polinizadores de diversas maneiras — seja por meio de suas cores vivas, néctar ou perfume. Só que esse tal “perfume” nem sempre é algo agradável ao nariz: algumas flores imitam o cheiro de carne podre para serem polinizadas. É o caso, por exemplo, da flor-cadáver, que já floresceu duas vezes, em 2010 e 2012, no museu Inhotim, em Brumadinho (MG)
Imitação do fedor
As flores com cheiro de cadáver liberam alguns compostos voláteis malcheirosos, especialmente oligossulfetos como dimetil dissulfeto (DMDS) e dimetil trissulfeto (DMTS). Esses compostos imitam os sinais químicos emitidos pelo material em decomposição.
A ciência já sabe que tais ingredientes surgiram da degradação bacteriana de aminoácidos contendo enxofre. Porém, os mecanismos biológicos que permitem que as flores os produzam permanecem, em grande, parte desconhecidos.
Para investigar isso, uma equipe de cientistas japoneses, liderada por Yudai Okuyama, do Museu Nacional de Natureza e Ciência de Tsukuba, estudaram flores do gênero Asarum. Essas plantas se destacam por apresentarem uma diversidade interessante em forma e aroma.
Comparando o genoma das diferentes plantas do gênero, os especialistas descobriram que a emissão floral de DMDS está ligada à expressão de um gene de uma família específica de proteínas. Essas proteínas têm ligação ao elemento químico selênio.
Mau hálito floral?
Em humanos, a proteína SELENBP1 desintoxica normalmente o metanotiol, composto causador do mau hálito. Em seu estudo, os cientistas encontraram três tipos de genes da metanotiol oxidase (SBP1, SBP2 e SBP3), que expressavam características em bactérias. Eles, então, colocaram suas funções à prova.
Com isso, os pesquisadores notaram que SBP1 realiza uma reação única: em vez de desintoxicar o metanotiol, ela o transforma em DMDS. Isso ocorre devido a um pequeno número de alterações nos aminoácios de SBP1 — e parece ter evoluído independentemente em pelo menos três linhagens vegetais sem relação direta entre si.
Segundo destaca o comunicado, os achados lançam luz sobre como as plantas se aproveitam de vias metabólicas que garantem vantagem ecológica. “Identificar as mudanças metabólicas e genéticas que conferem novidade evolutiva é essencial para a compreensão dos fatores que facilitam ou restringem a ocorrência de características”, dizem os autores da pesquisa, no estudo.
(Por Redação Galileu)