A mãe de Isabele Guimarães, de 14 anos, morta com um tiro acidental feito pela amiga dela no dia 12 deste mês, em um condomínio de luxo, em Cuiabá, prestou depoimento, nesta terça-feira (21) na Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), na capital. O depoimento de Patrícia Ramos durou mais de duas horas.
Patrícia Ramos disse que relatou tudo do ponto de vista dela e que agora espera que a justiça seja feita.
“Estou com coração dilacerado. Se eu pudesse me esconder nesse momento e ficar sozinha, eu faria. Mas eu não posso. O que eu espero agora é justiça”, diz.
“Fui chamada pela mãe da menina, que me disse que teria acontecido um acidente, houve um disparo e teria envolvido minha filha. Desesperada, saí de casa, aos prantos, sem saber o que tinha acontecido. Aquele dia a Isabele tinha saído de casa porque ela queria fazer um bolo com as amigas”, conta.
Patrícia Ramos, mãe de Isabele, compareceu à delegacia em Cuiabá para prestar depoimento — Foto: TV Centro América
Ao entrar na residência vizinha, Patrícia contou que foi direto ao banheiro, onde disseram que Isabele estava, e encontrou a filha no chão. Junto dela estava o pai da menina que havia feito o disparo. Ele tentava prestar os primeiros socorros.
Ao perceber que a filha estava morta, Patrícia saiu do banheiro e tentou conversar com as pessoas que estavam na casa.
“Perguntei para todos como aquilo tinha acontecido, como minha filha acabou no banheiro com uma arma, como o disparo aconteceu e ninguém soube me dizer. Ninguém soube me explicar nada”, diz.
O namorado da adolescente que atirou, de 16 anos, foi ouvido na segunda-feira (20) pela Polícia Civil. As duas famílias, a da adolescente que disparou, e a do namorado dela praticam tiro esportivo.
A arma que matou Isabele pertence ao pai do namorado da garota que atirou.
De acordo com os depoimentos, o namorado teria levado essa e outra arma até a casa da família para o pai da namorada avaliar para compra.
Com medo de ser pego em uma blitz, o jovem teria pedido para deixar as armas na casa dela.
Em nota enviada à imprensa, o advogado do adolescente e do pai dele informou que ambos se colocaram à disposição das autoridades policiais e disponibilizaram, espontaneamente, imagens das câmeras de segurança da residência, prédio, além das senhas de celulares da família, bem como esclareceram todas as indagações formuladas pelas autoridades policiais.
O adolescente declarou que não estava na casa e que somente havia deixado as armas no local.
Disparo acidental
Isabele Guimarães estava na casa da família da amiga, um sobrado em um condomínio de luxo em Cuiabá. O advogado da família da adolescente que efetuou o disparo, Rodrigo Pouso, explicou que era comum a presença da jovem na casa, já que são melhores amigas, moram no mesmo condomínio e tinham o costume de dormir na casa da outra.
Isabele Guimarães Rosa, de 14 anos, morreu ao ser atingida por tiro na cabeça em condomínio de luxo em Cuiabá — Foto: Instagram/Reprodução
O pai estava na parte inferior e pediu para que a filha guardasse a arma no andar superior, onde estava Isabele.
A adolescente pegou o case – uma maleta onde estavam duas armas – e subiu obedecendo ao pai. Apesar de estar guardada, a arma estava carregada.
“Ela subiu e chamou Isabele que estava no banheiro. Nesse momento o case caiu no chão e abriu. Uma das armas caiu e ela foi pegar. Com uma das mãos ela segurou o case e a outra pegou a arma. Ela perdeu o equilíbrio entre segurar a arma e o case e a pistola disparou”, contou o advogado.
A menina negou que brincava com a arma ou que tentou mostrar o objeto para a amiga.
A arma, a cápsula e o projétil disparados foram apreendidos e passarão por perícia. Isabele foi atingida por um único disparo que atingiu a região do nariz.
“Ela está mal, destruída. É uma menina de 14 anos que vai levar isso pro resto da vida. Era a melhor amiga dela”, finalizou o advogado.
Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, que morreu no domingo (12) em Cuiabá ao ser atingida por um tiro acidental na cabeça, feito por uma amiga — Foto: Instagram/Reprodução
Prisão do pai
O pai da menina, que tinha sete armas na residência, também foi ouvido pela polícia. Ele chegou a ser preso por não ter documento de duas armas, mas foi liberado após pagar fiança de R$ 1 mil.
A prisão do pai ocorreu justamente porque ele não tinha documentos dessas duas pistolas que não são dele.
O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Rondon Bassil Dower Filho, derrubou nesse domingo (19) a decisão que determinou fiança de R$ 209 mil para o pai da adolescente.
Praticante de tiro
A Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) disse que a adolescente que matou a amiga é praticante de tiro esportivo há pelo menos três anos.
Segundo a federação, o pai e a menina participavam das aulas e de campeonatos há três anos. Os nomes deles constam nos grupos, chamados ‘squads’, que participavam das competições da FTMT. Outros membros da família também participavam desses grupos e praticam o esporte.
O presidente da Federação de Tiro de Mato Grosso, Fernando Raphael Oliveira, lamentou o incidente.
O advogado da família contestou a informação e afirmou que a adolescente praticava o esporte há apenas três meses.
O caso
A situação ocorreu por volta de 22h30 de domingo em um condomínio de luxo localizado no bairro Jardim Itália. A jovem que atirou tem a mesma idade da vítima e pegou a arma do pai dela, que é atirador esportivo.
Uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi ao local, mas ela já havia morrido. Ela foi encontrada no banheiro da residência.
Isabele era filha do médico neurocirurgião Jony Soares Ramos, de 49 anos, que morreu em um acidente, em junho de 2018 na Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), em Cuiabá. Ele pilotava uma motocicleta e atropelou uma vaca.