Uma mulher reclamava todos os dias da sujeira da parede da casa dos vizinhos. O marido ouvia e nada dizia. Era assim toda manhã, críticas e mais críticas aos vizinhos que não cuidavam do imóvel onde moravam.

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Um dia ela acorda e lá estava a casa com a pintura novinha em folha. Quando o marido chegou para o café a esposa estava radiante para contar a boa nova, os vizinhos finalmente haviam pintado a casa. O marido então jogou um balde de água fria na esposa, ele contou que na verdade ele havia lavado a janela da cozinha.

Na maioria das vezes fazemos isso, imaginamos que a parede do vizinho está suja, sendo que é a nossa janela que está repleta de sujeira.

Começo este artigo contando esta história porque nesta época de distanciamento social invariavelmente acabamos olhando muito para o que o outro está fazendo e esquecemos de fazer a nossa parte.

Cuiabá está entre as capitais com o menor índice de infecção e de mortes no país. Perdemos apenas para Mato Grosso do Sul em números. São 362 casos no estado vizinho e 519 por aqui, números de domingo 10/05. Mas nem por isso precisamos ou devemos relaxar.

Precisamos mais do que nunca vigiar se quisermos manter a nossa liberdade e não precisarmos passar por um lockdown, ou seja, o fechamento total das atividades

Thomas Jefferson, um dos autores da Declaração de Independência dos Estados Unidos e o terceiro presidente do país disse certa vez que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Precisamos mais do que nunca vigiar se quisermos manter a nossa liberdade e não precisarmos passar por um lockdown, ou seja, o fechamento total das atividades como está já acontecendo em alguns estados onde a situação está fugindo ao controle das autoridades.

Tenho me assustado com o comportamento de algumas pessoas que teimam em não usar máscara para proteção e acham o álcool em gel uma besteira. Quando eu uso máscara estou me protegendo, mas acima de tudo protegendo também o outro. Usar máscara apenas para entrar no mercado e lá dentro deixar o nariz de fora não é proteção. É como usar um cinto de segurança quebrado, de nada serve e não protege nem quem usa e nem o outro.

Aos poucos as liberdades estão sendo retiradas da população.

Na Bahia 91 alvarás de bares e lanchonetes foram cassados porque os estabelecimentos teimaram em manter o funcionamento. O estado tem de acordo com os últimos números 5.558 casos confirmados e 202 mortes. Ainda assim não faltam aqueles que tentam de todas as formas burlar as recomendações das autoridades, como se os alarmantes números da doença não existissem.

No Rio de Janeiro com 17.062 casos e 1.714 óbitos, 90% das vagas de UTI estão ocupadas e medidas severas devem ser adotadas. Na cidade do Rio pessoas que se aglomerarem serão autuadas pela Polícia Militar por desordem pública e estabelecimentos que estiverem abertos e não forem de serviços essenciais serão fechados.

O estado de São Paulo registrou até aqui 45.444 casos e 3.709 óbitos, a capital vai começar um rodízio no trânsito e Brasil afora não faltam medidas para tentar conter a doença.

Algumas ações dão certo, outras nem tanto, mas as tentativas continuam. Grupos a favor e contra de uma determinada medida se formam, mas o certo é que para esta doença que não se sabe ao certo como combater, a luta é essa mesma. Entre erros e acertos vai se buscando a segurança da população.

O que não podemos negar é que aos poucos a nossa liberdade será cerceada seja por decreto ou por pura necessidade. De fato, o mundo tal qual conhecíamos nunca mais será o mesmo, até porque a normalidade que virá pós pandemia não sabemos ao certo qual será.

*LUIZ FERNANDO FERNANDES  é jornalista em Cuiabá.

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