Por que não gosto do papel higiênico? Simples. Simplíssimo. A questão não é bem o papel. É, antes, quando ele está sozinho diante de mim. Não há ducha nem bidê. Se bem que não suporto bidê porque nunca aprendi a controlar o jato e acabo por acumular um pântano debaixo de mim. No mais, entre o vaso e o bidê, pode acontecer um acidente. Mas é melhor o bidê do que só contar com o papel.

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Há vários tipos de papel higiênico: a lixa, o simples e o dupla face. Claro que o nome deste último é modo de dizer. Ninguém se limpa usando as duas faces do segmento. Nem os mais avaros. Compro o dupla face. Se houvesse o tripla face, compraria. Mas aí seria quase um papelão.

Em todo o caso, odeio o papel higiênico por outras razões. Primeiro por causa da disposição. Aos céticos, esses que se recusam a enxergar uma ciência na correta disposição do papel higiênico, tanto faz se o rolo roda para frente ou para trás. Pura ignorância. O papel roda para frente, está cientificamente comprovado.

Além do mais, não gosto do papel porque ele é seco e, sendo seco, ele resseca. Daí que procuro umedecer. O problema se avoluma neste ponto. Ao molhar, o papel higiênico fica muito fino. Até o dupla face. Tão fino que, ao passar pelo imundo local, rasga-se. O que há apoiando o papel úmido que se rasga? Meu dedo. Ou melhor, vários dedos. Nesse momento, sinto que não deveria ter molhado o papel. Não compensa.

Sou obrigado a usar mais um pedaço. Depois outro para secar os esfíncteres que ficaram úmidos. Ou sou perdulário ou acabo assado, obrigado a passar aquelas malditas pomadas que nunca mais desgrudam.

Então, noves fora, uso sempre três segmentos: os dois primeiros úmidos e o terceiro bem seco. Depois? Se não há lixeira, jogar no vaso é entupimento quase certo. Ao levantar, esqueço que a mão tem um rastro de merda. Pego no celular e me arrependo amargamente pela desatenção. Daí que sou obrigado a jogar o papel no vaso e me deparar com os detritos para, somente então, dar descarga. Quantos micróbios deixei de saldo? Inúmeros. Pior: vou esquecer dessa imunda mecânica, levar o celular ao rosto e me contaminar com milhões de coliformes fecais.

Em resumo, são essas as minhas razões. Há pequenos passos que são verdadeiros saltos para a humanidade. Não me refiro à chegada do homem à Lua. Nada disso. A invenção da ducha sanitária é muito mais importante. Importante e democrática. Uma evolução do bidê, essa invenção aristocrata. O papel é involução. É antidarwinista.

Sozinho com um rolo de papel higiênico, retrocedo ao tempo das cavernas no qual o ser humano limpava-se mecanicamente com folhas. Me sinto um bonobo que se roça em troncos para se limpar. No mínimo, penso que estou numa roça tão distante que me obrigue a usar um sabugo hostil. Isso para não contar o caso em que me vi sem papel e tive que usar as meias.

Mas nada disso importa realmente. Preciso conviver com o papel higiênico onde me encontro hoje. Cuido para que, pelo menos, ele seja colocado do lado certo. Para manter o mínimo de sanidade…

*EDUARDO MAHON é advogado e escritor em Mato Grosso; ex-presidente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML). E  entusiasta da ducha sanitária.

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