“Se não puder voar, corra… Se não puder correr, ande… Se não puder andar, rasteje…   Se não puder rastejar, grite… Mas não desista. Resista!”

Eu, Werley Silva Peres, médico, CRM 4692, servidor público. Trabalho em pronto atendimentos tanto da rede pública quanto privada da Capital de Mato Grosso e peço à autoridade judicial, para considerar os argumentos abaixo, para tomar uma decisão de Lockdown, que tem como principal finalidade reduzir os casos de Covid-19 e salvar vidas.

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  1. As redes de urgência e emergência já se encontram colapsadas. Não há vagas suficientes de UTI, tampouco capacidade instalada nas UPAs da Capital. E também da vizinha Várzea Grande, para absorver a demanda de pessoas graves que estão entrando, nas unidades;
  2. Estamos iniciando um “apagão” na saúde, pois diariamente médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem estão se contaminando. Isso está desfalcando as equipes e consequentemente sobrecarregando ainda mais o serviços, para os trabalhadores que estão de plantão;
  3. Os recursos de medicamentos e leitos são finitos. Não há como o sistema de Saúde da Capital e de Várzea Grande dar vazão ao número de pacientes que chegam aos serviços. Já é público que muitas medicações usadas dentro de UTI e salas de emergências estão em falta, em vários estados do Brasil. E certamente já teremos essa dificuldade para nosso Estado e também municípios;
  4. Cuiabá e Várzea Grande somam juntas mais de 1/4 da população de Mato Grosso. Uma ação de Lockdown nestas duas cidades certamente terá reflexos no sistema de Saúde, em 15 dias, com diminuição de óbitos. Todavia, infelizmente os já contaminados estão sob um grande risco, nas próximas duas semanas;
  5. Já temos relatos de pessoas morrendo com Covid-19 em casa, sem conseguir acesso à rede de saúde e até dentro das unidades, em razão de não termos nem material. Tampouco corpo clínico para responder em tempo à demanda absurda dentro das unidades de urgência e emergência da Região Metropolitana de Cuiabá  e Várzea Grande;
  6. A rede privada também se encontra no limite e enfrenta as mesmas limitações que a rede pública, aqui na Grande Cuiabá;
  7. A Covid-19 não tem tratamento comprovado até o momento. Temos na verdade a utilização de forma empírica de medicamentos, sem um estudo robusto da eficácia, pois temos óbitos e complicações, mesmo daqueles pacientes que utilizaram os remédios amplamente divulgados.

Por ser médico e trabalhar na urgência e emergência, tanto na rede pública quanto privada de Cuiabá, peço à vossa senhoria que leve em consideração os argumentos aqui expostos.

E na atual condição em que nos encontramos a única forma de frear a contaminação e achatar a curva de contaminação é ter um lokedown, com fechamento completo de todas as atividades não essenciais. Se não diminuirmos a circulação de pessoas nas ruas e as aglomerações rapidamente, teremos um número de óbitos absurdo, nos próximos 45 dias, nas maiores cidades de Mato Grosso.

Como médico e ser humano, tenho que defender o direito à vida e, também, dar condições dignas de assistência àqueles que estão doentes.

Infelizmente, em uma situação tão grave é melhor fechar ruas, bares, lojas, shopping e escritórios, do que fecharmos tampas de caixões. A vida é o bem mais precioso e todos têm direito a ela.

*WERLEY SILVA PERES é Médico de Família do SUS, de Pronto Atendimento e pós-graduado em psiquiatria. Foi Secretário de Saúde de Cuiabá. 

CONTATO:        www.facebook.com/doutorperes