Posso ser jurássico, mas se tivesse que escolher qual país não desejaria conhecer de modo algum, seria os Estados Unidos da América. Posto isso, também reconheço que os EUA são a maior e a segunda mais longeva democracia burguesa do planeta. Há um equilíbrio incontestável entre os poderes. A derrota de Trump – por mais absurdo que possa parecer – põe em cheque um regime político conseguido às duras penas, inclusive com uma guerra civil(1861 – 1865).

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Assim como o topetudo estadunidense e seus títeres, o “capetão” prepara o terreno para tentar um golpe; ao afirmar “se tivermos voto eletrônico (em 2022) vai ser a mesma coisa”. Como explicar tais atentados contra a Democracia? Para explicarmos tanto a invasão do Capitólio quanto as diversas declarações antidemocráticas  de Bolsonaro, precisamos revisitar o polêmico  madrileno  José Ortega y Gasset (1883 – 1955), cujas ideias criaram o conceito de “homem-massa”, que tanto pode pertencer ao topo como à base da pirâmide socioeconômica de qualquer sociedade. Resumidamente, homem-massa caracteriza-se por instigar a ignorância (dilapidar o sistema educacional); pregar a violência (praticar o racismo, a homofobia, a misoginia etc.); por relativizar a história e a ciência (não houve o Holocausto e a terra é plana) e por negar os princípios da civilidade (afrontar os Direitos Humanos).

De acordo com Ortega y Gasset, o homem-massa opõe-se ao “homem-inseguro”, aquele que está sempre relativizando dialeticamente o seu tempo e buscando respostas, mesmo que essas o levem a novos questionamentos. Sinteticamente; o não pensar versus o pensar. A imbecilidade versus o conhecimento.

Em boa parte do mundo e no Brasil contemporâneo, tem-se, ainda que momentaneamente, a superlativização dessa horda de imbecis – isso potencializado pela internet. Se antes, os homens-massa, assim como os homens-inseguro, estavam restritos a determinados espaços; hoje, por conta das redes sociais, os massa têm as mesmas possibilidades de difundirem “suas” ideias quanto os intelectuais mais respeitados do mundo.

Não carecemos de mais exemplos, o triste cotidiano do país é marcado, infelizmente, por toda sorte de estupidez e de imbecilidade, sempre capitaneada pelo “capetão”. Cabe ao homem-inseguro tentar “ler” esse momento, para tanto recorro a Drummond, em um trecho de “Um boi vê os homens”: “vazio interior que os torna tão pobres e carecidos/ de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme/ (que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo/ como pedras aflitas e queimam a erva e a água,/
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade”.

*SÉRGIO  EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec. 

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