Sábado passado à tarde (31/09) vinha pela Getúlio Vargas e ao passar pela bela fachada Art Decô do estádio do Liceu Cuiabano vi os portões do campo abertos. O sol e o calor estavam de rachar e, como ralos flocos de neve no início dos invernos de outras terras, completando o ambiente caiam do céu flocos cinzentos da vegetação incinerada pelo fogaréu que nos cerca nesta época do ano.

Meio abandonado o espaço, resolvi entrar. Fotografei. Logo muitas recordações. Fiz parte do antigo ginasial naquele maravilhoso colégio e dele guardo muitas lembranças boas de colegas, professores, funcionários e de algumas armações comuns à adolescência. Ruim de bola, usei o campo mais nas aulas de Educação Física.

Mas o estádio me traz outras indeléveis lembranças. Por exemplo, foi no Liceu que assisti pela primeira vez a um jogo de futebol em um estádio, com times de futebol organizados participando de um campeonato oficial. Eu devia ter entre 9 e 10 anos e disputavam Clube Atlético Mato-grossense versus Mixto Esporte Clube, clássico local apelidado de CAM-MEC. Era manhã de um domingo, o estádio lotado apesar da concorrência do inesquecível “Domingo Festivo na Cidade Verde”, de Adelino Praeiro e Alves de Oliveira, programa musical e de variedades ao vivo no Cine Teatro, de enorme sucesso. Não me lembro o placar final, o de menos diante do deslumbramento vivido, mas lembro dos craques Bianchi e Portela, um de cada lado, e até hoje ressoa em meus ouvidos uma falta cobrada da intermediária pelo Bianchi.

A bola passou por cima da meta e acertou uma das barras de ferro que existiam atrás do gol em uma estrutura (demolida) destinada à Educação Física, barra que ficou zunindo por um tempo como a frágil corda de um instrumento musical. E até hoje zune entre as minhas melhores lembranças.

Do passado para o presente, vimos por algum tempo uns alunos do Liceu Cuiabano em portas de bancos e nos cruzamentos mais movimentados das proximidades vendendo rifas para ajudar o time deles a participar de campeonatos fora de Cuiabá. Não os tenho visto ultimamente. Espero que não tenham sumido por desistirem do seu esporte por falta de apoio, seria triste já que uma das alternativas ao esporte é a droga. Mas o caso do estádio do Liceu e o dos jovens atletas são gêmeos e vêm do descaso dos nossos sucessivos governantes para com o esporte.

E dizem que Cuiabá não tem estádios e que por isso todos os jogos em todas as categorias do futebol profissional e amador, e mesmo do nosso ótimo e promissor futebol americano, têm que ser realizados na espetacular Arena Pantanal, sacrificando seu precioso gramado de Copa do Mundo que devia ser peça de propaganda positiva de Cuiabá e Mato Grosso nas transmissões pela TV e Internet e não objeto de comentários depreciativos. Não seria o caso de juntar as duas coisas e o governo estadual, que agora finalmente vem dando alguma atenção à Arena Pantanal, viabilizar uma reformazinha no estádio do Liceu Cuiabano e nos horários não utilizáveis pela própria escola alugá-lo às federações para a realização de seus jogos de menor afluência de público? Outro dia aconteceu um jogo na Arena com um público de 12 pessoas! Deve ter custado caro ao mandante do jogo e mais ao gramado.

Mas, esta proposta só fará sentido se o resultado do aluguel for de fato destinado à promoção das diversas modalidades esportivas no Liceu Cuiabano, o mesmo que por um tempo se chamou Colégio Estadual de Mato Grosso e que em sua história formou figuras exponenciais como o Marechal Rondon, reconhecido internacionalmente como um dos vultos mais importantes da Humanidade e o Marechal Dutra que de menino pobre vendedor de bolinhos em nossas ruas chegou à presidente da República.

*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista, é conselheiro do CAU/MT, acadêmico da AAU/MT e professor universitário aposentado. 

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