A cidade de Belém atrai todos os anos peregrinos e curiosos em busca do local onde teria nascido Jesus Cristo. No entanto, apesar do consenso popular e da tradição cristã que apontam Belém como o berço do Messias, o debate sobre essa questão continua intrigando estudiosos e religiosos há séculos.

Entre as narrativas dos Evangelhos, interpretações teológicas e evidências históricas, a localização exata do nascimento de Jesus permanece cercada de dúvidas e histórias fascinantes.

O que dizem os evangelhos

Até a aparência de Jesus é alvo de debate, já que ele certamente não tinha a aparência europeia que se difundiu pelo mundo. (Fonte: Cícero Moraes/ Divulgação)
Até a aparência de Jesus é alvo de debate, já que ele certamente não tinha a aparência europeia que se difundiu pelo mundo. (Fonte: Cícero Moraes/ Divulgação)

De acordo com os Evangelhos de Mateus e Lucas, Jesus nasceu em Belém, uma pequena cidade na região da atual Cisjordânia, considerada também a cidade natal do Rei Davi. A conexão entre Jesus e Davi era essencial para afirmar a identidade messiânica de Cristo, já que as escrituras judaicas profetizavam que o Messias viria da linhagem davídica e de Belém.

Mateus descreve magos visitando Jesus em uma casa em Belém, guiados por uma estrela, enquanto Lucas narra um censo que levou Maria e José à cidade, onde Jesus nasceu e foi colocado em uma manjedoura por falta de espaço em outros lugares, já que não havia hospedarias como se tem hoje.

Porém, os outros dois Evangelhos, Marcos e João, lançam incertezas sobre essa narrativa. Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, apresenta Jesus como “de Nazaré”, sem qualquer menção a Belém. Já João, enquanto reconhece a profecia de que o Messias viria de Belém, não liga diretamente Jesus à cidade, focando sua origem na região da Galileia.

Essa discrepância sugere que as histórias sobre o nascimento de Jesus em Belém podem ter sido moldadas por motivações teológicas, reforçando sua conexão com a profecia messiânica e a linhagem de Davi.

Historiadores e teólogos também questionam a veracidade literal das narrativas bíblicas sobre o nascimento de Jesus. A genealogia de Cristo e sua conexão com Belém podem ter sido construídas como uma maneira de consolidar sua figura como o messias profetizado. Essa prática não era incomum na Antiguidade, quando figuras proeminentes frequentemente eram associadas a origens mitológicas ou locais de prestígio.

E o “Jesus de Nazaré”?

Outra corrente de pensamento considera Nazaré como o verdadeiro local de nascimento de Jesus, uma hipótese baseada nas repetidas menções nos Evangelhos à sua identidade como “Jesus de Nazaré”. Essa ideia é reforçada pela ausência de qualquer referência a Belém em alguns textos religiosos, como o Alcorão, que apenas menciona que Maria deu à luz em um “lugar distante”.

Se levarmos em consideração outras interpretações, como a do Livro de Mórmon, chegamos até Jerusalém, pois as escrituras mórmon afirmam que é nesta cidade que Maria daria luz ao Messias. O certo é que qualquer uma dessas cidades, que são próximas, pode ter sido o lugar onde Jesus nasceu.

Dúvida quanto ao local exato

Além disso, a tradição popular que coloca Jesus em um estábulo cercado por animais também é questionada. A palavra grega usada no Evangelho de Lucas, “kataluma”, frequentemente traduzida como “estalagem”, pode também significar “quarto de hóspedes”. Isso levou alguns estudiosos a proporem que Jesus poderia ter nascido em um cômodo inferior de uma casa comum, onde animais eram frequentemente abrigados.

Outros ainda defendem que ele nasceu em uma caverna, uma prática comum para abrigar rebanhos naquela época. De fato, a Igreja da Natividade em Belém, construída no século IV, foi erguida sobre uma caverna que muitos acreditam ser o local de nascimento de Jesus.

O fato é que hoje, enquanto muitos líderes religiosos aceitam Belém como o local mais provável do nascimento de Jesus, há um consenso de que essa questão pode nunca ser completamente resolvida.

O debate sobre a localização exata e as circunstâncias do nascimento de Jesus vai além da curiosidade histórica. Ele nos leva a refletir sobre como as narrativas religiosas moldam identidades e crenças, contribuindo para a riqueza e a complexidade das tradições, em especial a cristã.