Faltam menos de 30 dias para o Enem. Nos dias 03 e 10 de novembro, 5.095.308 pessoas deverão fazer as provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas (dia 03) e Ciências da Natureza e Matemática (dia 10). Se se mantiver a média de anos anteriores, algo em torno de 4.500.000 de alunos farão essas provas.

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Sob a égide de um governo autointitulado “de direita”, esperam-se provas mais técnicas. Talvez, tenhamos a prevalência dos conteúdos em relação à interpretação de fatos e de situações.

Segundo o ministro da educação, Abraham Weintraub: “Não vai cair ideologia, a gente quer saber de conhecimento científico, técnico, de capacidade de leitura, de fazer contas, de conhecimentos objetivos”. Como se não houvesse ideologia em todo texto. Aliás, isso é apenas mais uma falácia, pena que dita pela autoridade maior da educação brasileira.
O Enem, longe de ser uma prova com um viés ideológico, é, antes, um processo seletivo que enaltece a capacidade de analisar, de refletir sobre as diversas realidades que compõem nosso dia a dia. Agora, como se indica, privilegiará tão somente a capacidade de armazenamento de conteúdos, dissociados e descontextualizados do tempo presente. Ainda não creio que tenhamos o predomínio de questionamentos que apenas testem aqueles que decoram mais.

Seria ridículo e anacrônico perguntas como “Quem foi o primeiro presidente civil do Brasil” ou em qual corrente filosófica enquadra-se a seguinte frase: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Entretanto, tenho clareza que textos que abordem questões de gênero, étnicas ou éticas não estarão presentes nesse Enem. Assim, o espírito do “Cavaleiro da Triste Figura” estará ausente: “Mudar o mundo meu amigo Sancho não é loucura, não é utopia, é justiça”.


Como professor de Linguagens há quase 40 anos, a experiência diz-me que até mesmo na redação o tema será meio “nem-nem”, ou seja, nada que possa gerar críticas ao Palácio do Planalto ou ao seu atual ocupante.

A propósito, historicamente, os temas cobrados, exceto o primeiro, relacionam-se com problemas, e possíveis soluções, contemporâneos que dependem do posicionamento do cidadão, já se cobrou temas relacionados à propaganda (infantil); à leitura e cidadania; à Lei Seca; à violência contra a mulher; ao preconceito religioso, à formação educacional de surdos; ao consumo e à manipulação de dados dos usuários etc.

Contudo, este ano nós, educadores, estamos um pouco desnorteados; mesmo assim, faço algumas sugestões: Fake News; doação de órgãos; empreendedorismo; suicídio entre adolescentes; combate à obesidade; patriotismo e ufanismo; acidentes de trânsito; problemas relacionados ao descarte de embalagens plásticas; posse de armas de fogo; abuso sexual contra crianças; desastres ambientais; educação domiciliar e diminuição da maioridade penal.
Independente do estilo da prova, o Enem parece que não será nos moldes até então praticados; dessa maneira, resta-nos as palavras de Dom Quixote de La Mancha: “A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Com ela não podem igualar-se os tesouros que a terra encerra nem que o mar cobre; pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pôde vir aos homem”.

*SÉRGIO CINTRA   é professor de Redação e Linguagens em Cuiabá, Rondonópolis e Cáceres. Já foi vereador por Cuiabá e secretário de Cultura.
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