Neste penúltimo domingo, como faço sempre, vou a Padaria América comprar revistas e jornais. Desta vez encontrei lá Ângela Itacaramby, uma amiga de longa data, que estava acompanhada de uma pessoa que ela me apresentou como Paulo Itacaramby seu irmão. Perguntei a ele se lembrava de mim. Ele disse que não. Fazia 51 anos que eu não o via. Pasmem! Cinco décadas! Nós fomos colegas no internato da Escola Agrícola Gustavo Dutra, em São Vicente-MT. Quanto tempo! Quantas reminiscências!

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Nestes tempos de Internet eu me lembrei de tirar uma fotografia com o Paulo e a enviei para o Moacir Portela que é dado a saudosismos. Não é que ele replicou tal foto para o Guilermino que teve a brilhante ideia de fazer um encontro apressado com alguns agricolinos encontrados da época, pois o Paulo estava de passagem e iria voltar, em seguida, para a Costa Rica onde mora. Ressalto que o Paulo é um gênio sempre primeiro de turma e com grande destaque em tudo que fez e faz.

Lá fomos nós para o Restaurante Okada no CPA, na noite de quinta-feira. Todos amigos de internato da segunda metade da década de 60 do Século passado. O Milton Damasceno não se livrou até hoje da ingrata fome que passamos. Pediu e repetiu o pedido do saboroso peixe. O Sidney alegre e falastrão, apesar de ter tido paralisia infantil, foi o melhor goleiro do colégio. E lá estava o Jurandir “marcha lenta” que destravou a macha e falava pelos cotovelos. No final, após umas “biritas”, queria pagar a conta sozinho. O Admir Ferreira sempre alegre e fazendo piadas. O miudinho Zequinha discreto e sorridente. O Juarez Pizza altivo com pinta de milionário. O Guilermino – famoso Guilem – sempre prestativo e amável tentando marcar o próximo encontro. Estas pessoas fazem parte de um mundo encantado que emergiu do passado e de repente se descortinou em nossa frente.

O Roberto Campos dizia que a velhice é uma lanterna de poupa que somente ilumina para trás. E foi o que fizemos. Nos fartamos do passado, onde tínhamos de sobra intransponíveis dificuldades. Gente humilde que queria vencer e venceu transpondo um mar de obstáculos. O internato foi uma escola que ajudou a dar rumo e sentido as nossas vidas para forjar o que somos hoje.

Criticamos ácida e severamente este Pais de dificuldades mil. De onde muita gente partiu a procura de uma vida melhor. Não podemos olvidar que, apesar de todas as vicissitudes e percalços que tivemos, houve condições para nós agricolinos triunfarmos e melhorarmos as nossas condições de vida e a dos nossos filhos. Portanto, nem tudo está perdido. É preciso acreditar e ter fé que no futuro teremos um país mais digno, mais solidário e mais justo.  Que assim seja!

*RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá. Foi presidente da Seccional de Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

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