Nesta série dos últimos dez artigos tenho linkado as atuais questões amazônicas com a ocupação da região e a do Centro-Oeste dentro de um mesmo processo de interiorizar o Brasil da década de 1970 em diante. Não sei se tenho colaborado. Mas o desejo é trazer fatos que estão esquecidos ou ainda não foram escritos. Tomo essa liberdade pelo fato de ter chegado a Brasília pra estudar em 31 de janeiro de 1961, antes do primeiro aniversário da capital.
Leia também:
-VLT: não há o que discutir
-O saldo das queimadas
-Dante, Mauro, desafios
-Procura-se líderes
-Amadurecimento…
-Questões da ferrovia
Depois de 16 anos morando em Brasília, já graduado em Jornalismo na Universidade de Brasília e casado, acabei aceitando o gentil convite do govenador Garcia Neto pra vir trabalhar em Mato Grosso. Vim em 25 de agosto de 1976. Estou até hoje. Enraizadíssimo!
Brasília foi o polo inspirador pra ocupação dos estados de Goiás e Mato Grosso. Estavam isolados há mais de um século depois do fim da era garimpeira. O propósito de Brasília como polo irradiador passava pela Universidade de Brasília, fundada em 1962. Era o de formar técnicos humanistas enxergando a vocação da ocupação. Mas para isso precisariam trazer o progresso e o novo a partir de Brasília. Porém, seria fundamental que respeitassem a cultura existente nas regiões amazônica e do Centro-Oeste.
O centro de influência histórica de Cuiabá era o Rio de Janeiro até 1960. Brasília mudou o eixo.
Em 1975 o governador José Fragelli decidiu construir uma área para a administração pública pensando no futuro da capital. A região escolhida foi a atual região do CPA, cerrado fechado na época. O projeto seguiu exatamente o espírito de Brasília: concreto armado aparente, muitas áreas envidraçadas e prédios baixos. Os principais arquitetos e engenheiros autores dos projetos foram Satyro Castilho Pohl, Julio Delamonica Freire, Manuel Perez, Antonio Carvalho e José Antonio Lemos.
Manteve-se o espírito pretendido na UnB: arquitetura moderna, mas sem ferir a arquitetura tradicional histórica. Por isso a “nova Brasília” nasceu longe do centro da cidade levando uma tendência de crescimento, mas sem ferir o centro histórico de Cuiabá. Hoje passados 44 anos, a cidade se transformou completamente. Parte da história se perdeu nas brumas do tempo. Mas na essência a ligação dessa Cuiabá nova tem tudo a ver com a modernidade de Brasília sonhada nos anos 1956 quando se iniciou a construção e quando se inaugurou Brasília no dia 21 de abril de 1960.
Pretendo voltar ao assunto depois de conversar com o professor e arquiteto José Antonio Lemos e Toninho Carvalho que ainda residem em Cuiabá. Satyro e Júlio já morreram. Manuel mudou-se.
*ONOFRE RIBEIRO é jornalista e escritor em Mato Grosso.
CONTATO: onofreribeiro@onofreribeiro.com.br — www.onofreribeiro.com.br