Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones…
Talvez suas lembranças de um passado não tão recente sejam como as minhas, lampejos, fragmentos. Sim, uma criança do pós-guerra não entendia a expressão “guerra fria”, não sabia onde era o Vietnã e nem porque lutar contra vietcongues. Crianças não entendem o que leva um País a erguer um muro que o divide em lado Oriental e Ocidental, separando seu povo.
Mas a menina sensível de apenas nove anos sentiu uma dor estranha quando ouviu dizerem que um grande Presidente havia sido assassinado, diante de sua jovem esposa. E só alguns anos mais tarde iria entender a frase histórica de um grande líder, “Eu tenho um sonho…”
Lembranças fragmentadas.

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Esses acontecimentos estavam tão distantes…e nós, crianças, só queríamos brincar, e sonhar.
Mas ao nosso lado, bem pertinho, mudanças em uma sociedade conservadora começariam a fermentar conflitos e lutas por igualdade de direitos. E ninguém imaginaria que um dia entre Março e Abril de 1964 poderia transformar toda uma geração, e as que viriam depois.
Transformou.
“Hoje vivemos uma nova guerra da Independência, na qual o movimento de 31de Março equivaleu ao gesto épico de d. Pedro às margens do Ipiranga”.
Essa frase não é de hoje…e nem minha. É do Ministro da Guerra Arthur da Costa e Silva, em 07 de Setembro de 1964.
No rádio, “Una Lacrima Sul Viso” com Bobby Solo, “Datemi un Martello” com Rita Pavone, e “Bicho do Mato” com Jorge Ben, eram as mais tocadas. E a Revista do Rádio noticiava que o grande sucesso da Rádio Nacional paulista era o Programa Silvio Santos.
Deixando para trás os entulhos de 31 de Março, cinco anos depois um bando de jovens livres e barulhentos podiam reunir-se nas calçadas com um violão nas mãos, cabelos longos, jeans Lee com remendos aplicados nos joelhos e um All Star nos pés.
Roberto Carlos chegou com força, nessas rodinhas, cantando É Proibido Fumar, depois de Parar na Contramão e Splish Splash. Mas o que “furava” literalmente na vitrolinha portátil era o compacto da banda The Beatles, She Loves You/I Want To Hold Your Hand, acompanhando de perto The Rolling Stones.
Mas nosso rei capixaba iniciou a Jovem Guarda, no ritmo iê-iê-lê, com o inseparável companheiro Erasmo Carlos, e Sentados à Beira do Caminho, reinam até os dias de hoje, com um romantismo imbatível.
Realmente Roberto é “O Cara”.
Se suas lembranças forem um pouco como as minhas, talvez você tenha namorado muito nas domingueira de garagem ao som de Ray Charles, “I can’t Stop Loving You”, talvez rodopiado nos salões com Os Incríveis e “O Milionário”.
Provavelmente também correu da Cavalaria, quando namorava no portão!
Bons tempos, com lembrançase imagens em preto e branco.
E foi assim, naquela TV PB, no cantinho da sala, que assistimos, sem acreditar no que nossos olhos viam, à três homens flutuando no ar, em cenário de ficção, pisando pela primeira vez na lua. Era o ano de 1969, e Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin ” Buzz” Aldrin eternizavam seus nomes na história.
Certamente se algumas dessas minhas lembranças são também as suas, somos, você e eu, sobreviventes de uma incrível e cinzenta história, que foi sendo colorida com as pinceladas do tempo. Somos, você e eu, formadores de uma nova geração, diria eu, a Geração Nineteen. Somos os saudáveis sessentões, setentões, oitentões e por aí adiante.
Saudáveis sim, com nossas inesquecíveis memórias, mentes à todo o vapor trabalhando em todas as áreas, corpos nem tanto à todo o vapor, mas valorizados, como todo seminovo!
Saudáveis sim. Mas a Organização Mundial da Saúde pretende incluir a velhice na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, é essa inclusão será oficializada em Janeiro de 2022. Mas Envelhecer não é doença!
Se você está sentado babando em uma cadeira de balanço, desculpe, você já morreu! Levante-se, e viva!
Seja louco, seja tolo, seja estranho, mas não pare!
Olhem ao nosso redor, vejam quantos estão morrendo! E são eles, os que estão morrendo, os que mais nos ensinam sobre a vida. Ela é frágil e passa como um sopro (não parece que ainda ontem dançávamos “O Milionário”?) mas pode ser eterna e bela quando sabemos valorizar cada segundo.
Passamos por um curso, e agora precisamos transmitir a disciplina Viver à atual geração, que se perdeu na tecnologia e se esqueceu de cuidar do espírito e da alma, para cultuar o corpo perfeito.
Inversão de valores.
E somos nós que perdemos o juízo?
Perdemos o juízo porque teclamos o Reiniciar aos sessenta?
A geração Nineteen decidiu que pode se sentar novamente nos bancos das faculdades, que pode viajar sem pressa de voltar, usar seus jeans stonados e jogar fora aqueles conjuntinos de viscose na praia. Descobriu que “varar” a noite no vinho e na Boate Azul restaura a mente e o espírito.
Sem medo da carruagem virar abóbora.

*DULCE LÁBIO   é comerciante,  Assessora Free Lancer e atuou na imprensa em Mato Grosso.

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