Por Leila Mares
No início do mês de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus, Sars-Cov-2, vírus responsável pela doença que ficou conhecida como Covid-19. A suspensão das aulas nas escolas foi uma das medidas iniciais mundialmente assumidas para conter o avanço do vírus. Na imprevisão da duração do isolamento, inicialmente muitas escolas brasileiras anteciparam suas férias. Com o esgotamento do período usual de férias no meio do ano e a permanência do isolamento, a alternativa que se apresentou foi uma rápida conversão dos sistemas presenciais para aulas online, com alunos e professores conectados pelas tecnologias para dar continuidade ao aprendizado.
Embora as tecnologias que se tornaram o centro deste processo – celulares e computadores – estejam em uso há um tempo considerável tanto por alunos quanto por professores, a adaptação desta transição brusca tem sido tratada no campo educacional como um tema emergente. Por outro lado, considerada a intensidade em que o processo foi assumido, a pandemia trouxe um ganho secundário à introdução efetiva das tecnologias no ambiente educacional brasileiro.
Duas situações se destacam: primeiro, o distanciamento docente do uso significativo das tecnologias na prática educacional de forma que se aproxime da maneira nata e interativa dos estudantes e a rapidez com que o conhecimento digital precisa ser renovado. A televisão precisou de uma década e meia para se expandir de forma menos seletiva, já a internet, em menos de quatro anos se estabeleceu como um recurso mundialmente utilizado para as mais diversas finalidades, sobretudo negócios, educação e socialização.
Enquanto o aluno, nativo digital, trafega de forma interativa e mais confortável entre um meio de alta mobilidade conceitual, o professor necessita de aportes e de recursos para se aproximar da instrumentalização das tecnologias, a fim de que não faça apenas uma conversão do físico para digital – mas que se apodere dos recursos, linguagens e meios que a tecnologia disponibiliza para uma nova forma de ensinar.
Durante o período de restrição de aulas na pandemia de Covid 19, o Google Classrom, assim como o aplicativo Microsoft Teams se tornaram dois dos principais pontos de encontro educacional entre professores e alunos, o primeiro para atividades e postagens gerais e o segundo para um relacionamento mais interativo, próximo ao de uma sala de aula presencial. O youtube passou a ser um parceiro docente para a postagem de vídeos e programas de edição com opções gratuitas, como Movie Maker e Filmora Wondershare passaram a integrar a rotina do docente, junto a aplicativos que permitem a edição direta no celular. Lives e a busca por maior desenvoltura e interatividade frente ao vídeo passaram a ser constantes. Se antes as novas tecnologias eram alternativas de suporte ao trabalho docente, hoje o seu domínio é que determina o quanto o professor poderá exercer a sua docência em uma situação de ensino a distância.
Algumas chaves surgem para aproximar e facilitar o trabalho do educador. A primeira delas é o reconhecimento de que, embora não esteja ocupando o espaço da sala de aula física atualmente, o ambiente digital não é uma extensão ou igual a esta sala. Ele é um espaço que possui tempo, recursos e possibilidade de usos mais amplos, no qual o professor pode utilizar de hipertextos, hiperlinks, e conectar a sua informação em áudio, vídeo e uma série de suportes que, se bem conciliados à realidade e interesse do aluno, promovem o aprendizado significativo. Uma das principais mensagens do educador Paulo Freire era justamente esta, a necessidade de vínculo do ensino com o educando e não é diferente quando o contexto é o digital.
A segunda chave está no tempo e na linguagem. A tecnologia oferece possibilidades de interação bastante interessantes, e o aluno pode ser conduzido a reflexões importantes se o material produzido falar ao seu interesse. Assim, a linguagem, em um tom não informal – cria gatilhos de reflexão e usa entonações diferentes – também é um recurso de fazer e praticar a especificidade digital para criar proximidade e envolvimento.
Há jogos, links, recursos lúdicos e objetos de aprendizagem que podem ser incorporados ao trabalho docente para criar momentos significativos, a exemplo dos recursos disponíveis no site objetosdeaprendizagem.com.br que fortalecem as interações, apresentam recursos específicos e tornam a aproximação ainda mais possível e prazerosa entre alunos e professores no ambiente digital.
Desta forma, observamos que as tecnologias não são recentes, mas a sua emergência de inclusão o é. Ao professor, na impossibilidade de desacelerar este processo e na imprevisão do retorno ao modelo anterior de aulas – ou mesmo a incerteza se este retorno será possível sem a preservação latente das tecnologias – cabe a pesquisa e a imersão constante neste universo fascinante das TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação).
Leila Mares é Mestre em TICs na Educação (Tecnologia da Informação e Comunicação) pela Fundação Universitária Iberoamericana.