Ser olhada com desconfiança. Não poder frequentar o mesmo ambiente que outros colegas. Ter a competência questionada. Tudo isso apenas por causa da cor da pele. Estas foram situações de racismo vividas por Daiane dos Santos, maior nome da ginástica artística feminina brasileira. Para provocar reflexão e debate sobre o racismo, o Globo Esporte reuniu no Dia Nacional da Consciência Negra alguns depoimentos de quem viveu e vive no cotidiano os desafios de ser negro no Brasil.
Quem fala? Aida dos Santos, primeira brasileira finalista olímpica e sua filha, a campeã olímpica de vôlei Valeskinha; Márcio Chagas, árbitro da CBF de 2005 a 2014 e hoje comentarista; Edvaldo Valério, medalhista de bronze no revezamento 4x100m da natação em Sidney; Daiane dos Santos, campeã mundial no solo em 2003; e Diego Moraes, jornalista da TV Globo.
Bastidores da gravação para o dia da Consciência Negra — Foto: Júlio Aguiar
Assim como Daiane, hoje com 36 anos, que cresceu tendo que lidar com o preconceito, milhões de brasileiros se identificam com a batalha diária para conquistar direitos básicos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 115 milhões de negros ou pardos no Brasil, mais da metade da população do país, número que não se reflete na mesma proporção em cargos executivos e no valor de salários, para citar alguns exemplos entre tantos tópicos com diferenças de representatividade entre brancos e negros.
“No primeiro clube que entrei, tinham ali mães de meninas e as próprias meninas que não queriam ficar perto de mim. Não queriam lavar as mãos no mesmo banheiro, frequentar o mesmo ambiente. De alguma forma queriam me mostrar que aquele não era o meu lugar. E tinham treinadores que não queriam me treinar. Eu ouvia: ‘Por que você quer fazer ginástica? Por que você não faz atletismo? Acho que você é muito forte, muito potente. Por que não vai para um esporte de potência e velocidade?’ Como se a ginástica não fosse”
“É triste saber que num país com 52% da população negra, ainda ouvimos piadas, somos insultados, temos menos oportunidades por conta da cor da nossa pele. Tem gente que fala que é mimimi, que não existe racismo. Eu tenho certeza que estas pessoas não suportariam por um dia o que precisamos lidar. Que o nosso grito de igualdade seja ouvido por todos”
“O dia 20 de novembro é um dia de reflexão no qual todos nós deveríamos pensar nas nossas atitudes, nas ações referentes ao julgamento de alguém pela cor da pele. A cor não diz se ela é boa ou ruim, se tem capacidade ou não de atingir um objetivo. Poder ser candidato a uma vaga, entrar numa faculdade ou conquistar um cargo alto dentro de uma empresa. O caráter, sim, é o que diz o que ela pode ou não ser”
“É tão bacana eu poder ser o exemplo para todas as meninas, não apenas as negras. É muito bacana sermos reconhecidos apenas pelo talento e esforço, independentemente da cor da nossa pele. É isso que eu desejo para hoje, que a gente possa por a mão na nossa consciência” (Globo Esporte)