Em 1985, foi lançado o livro “Brasil Nunca Mais”, um trabalho de pesquisa em 707 processos do Superior Tribunal Militar que relata os métodos para torturar da Ditadura Militar, no período de 1964 a 1979. Idealizado pelo pastor presbiteriano Jaime Wright, pelo rabino Henry Sobel e pelo arcebispo dom Paulo Evaristo Arns, o livro-documento contou com 30 pesquisadores e foram necessários 06 anos de trabalho para parte da sociedade brasileira soubesse o acontecia nos porões da Ditadura (1964 – 1985).

Dom Evaristo Arns, falecido em 2016, escreveu no prefácio do livro:“As angústias e esperanças do povo devem ser compartilhadas pela Igreja. Confiamos que esse livro, composto por especialistas, nos confirme em nossa crença no futuro”.  Não sabia o arcebispo que o futuro da Democracia está ameaçado pelas estultices do atual presidente e seus asseclas alienados, ignorantes e movidos pelo ódio.

 

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Não bastaram as torturas e mortes nos porões da Ditadura; não bastaram as mães que nunca poderão enterrar seus filhos; não bastaram as falácias do “Milagre Brasileiro”; não bastaram 17 Atos Institucionais; não as prisões arbitrárias, tanto na caserna quanto na sociedade civil; não bastaram, enfim, 21 anos de atrocidades, de arbitrariedades e de autoritarismos. O falastrão insipiente do Planalto insiste em vociferar absurdos e em espalhar Fake News. Bolsonaro, que participa de eleições a mais de 30 anos, insiste em pôr em xeque as urnas eletrônicas; Bolsonaro, que em 27 anos como deputado federal, teve apenas 02 projetos aprovados, porque os demais apresentados por ele eram pífios e/ou inconstitucionais.

Bolsonaro que faz “arminha” ao invés de comprar livros para nossas crianças. Bolsonaro que que imita um paciente morrendo asfixiado com falta de ar em vez de mandar oxigênio para Manaus. Bolsonaro que, durante seu mandato, não deu R$ 1,00 de aumento real no salário-mínimo; agora, desavergonhadamente, fala que em 2023 haverá ganho real no salário-mínimo. Bolsonaro que sancionou o Orçamento Secreto e diz que se houver corrupção (e há), ele nada tem com isso. Bolsonaro que impõe 100 anos de sigilo em gasto de cartões corporativos até em processo de Neymar Jr. contra a cantora Zélia Duncan. Enfim… falta espaço para os descalabros do “mito” nazifascista.

Com um 2º turno que praticamente divide a sociedade brasileira ao meio; com um presidente ignóbil, inconsequente, inculto, incauto etc.; com a incitação à violência; com o risco iminente à Democracia, entendo que todo cidadão que consegue enxergar o que há por trás do “Deus, Pátria e Família” (vide Fascismo e Integralismo), não podemos ficar omissos; senão far-se-á da estrofe do poema de Eduardo Alves da Costa (in “Os Cem Melhores Poemas do Século”): “Tu sabes, /conheces melhor do que eu / a velha história. / Na primeira noite eles se aproximam /eroubam uma flor / do nosso jardim. / E não dizemos nada. / Na segunda noite, já não seescondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada. / Até que um dia,
o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz e, / conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. / E já não podemos dizer nada.”

 

*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec. 

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