Que o reeleito (contra quase tudo e quase contra todas as oligarquias políticas de Cuiabá e de Mato Grosso) Emanuel Pinheiro deixará o MDB é certo, só não se sabe quando. Pelos últimos acontecimentos, se ele não sair; sairão com ele. Pululam convites, afinal quem não quer o prefeito de uma capital. Convites despudoradamente explícitos e timidamente velados: PP; PTB e DEM são os mais eloquentes, mas há outros. Nas duas primeiras estrofes “Áporo”, Drummond reflete sobre alguém que está sem saída: “Um inseto cava/ cava sem alarme/ perfurando a terra/ sem achar escape.// Que fazer, exausto,/ em país bloqueado,/ enlace de noite/ raiz e minério?” Pinheiro parece saber o que fazer; porém, rumina para decidir o melhor momento de desembarcar do “Bateau Mouche” dos vendilhões do templo.
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Devido à capacidade de articulação do prefeito Emanuel, muito provavelmente o alcaide contará com, no mínimo, 79 deputados federais que constituem a bancada do PP; DEM e PTB. Isso lhe garantirá um bom tempo de TV em uma (eventual) disputa ao Paiaguás. Algum neófito poderia fazer certa ilação: – mas o Mauro não é do DEM? É… mas nem tanto. Fazendo um exercício de futurologia, MM deixará o DEM e não disputará a reeleição. Em minha modesta opinião, o adversário de Pinheiro é o senador Fávaro. Certo, certo mesmo é o seguinte: quem pretender governar Mato Grosso no próximo quadriênio tem que pôr o “bloco na rua” já: 2022 começou antes de 2021.
Quais as maiores dificuldades de Emanuel? 1. Pouca inserção entre os jovens; 2. Presença diminuta nas redes sociais e 3. Baixa capilaridade política no interior do Estado. Nenhum desses óbices o inviabilizam, desde que ele comece imediatamente um conjunto de ações para reverter essa realidade. Esses três partidos que, provavelmente, darão sustentação política a EP elegeram apenas 36 prefeitos e em cidades mato-grossenses pequenas; talvez, a estratégia passe análise da importância demográfica e política de cidades como Rondonópolis, Cáceres, Sinop, Alta Floresta e Barra dos Garças. Essa engenharia política precisa se desenhada rapidamente. Os três problemas aqui levantados estão relacionados a Michel Foucault e a sua “capilaridade do poder”: “Por onde existe o poder, o poder se exerce. Ninguém propriamente dito é seu titular; e, no entanto, ele se exerce sempre em uma certa direção, com uns de um lado e outros de outro; não se sabe ao certo quem o possui; mais sabe-se quem não o possui”.
Ao mesmo tempo que há empecilhos; há, com o segundo mandato, grandes oportunidades, tais como: 1. Criar a Secretaria da Juventude e m conjunto de políticas públicas que garantam aos jovens cidadania plena; 2. Aderir a um dos consórcios pró-vacinação contra a Covid-19 (imunização em massa da população); 3. Concluir as obras estruturantes de Cuiabá (viadutos, feira do Porto etc); 4. Implantar um programa de desenvolvimento socioeconômico diante da crise provocada pela pandemia (moeda social; bolsa universitária; incubadoras, planejar Cuiabá para os próximos 30 anos etc).
O soneto drummoniano, em seus tercetos finais, nega o título do poema “Áporo” – sem saída, sem poro – quando, contrariando o pensamento cartesiano, vaticina: “Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)/ presto se desata:// em verde, sozinha,/ antieuclidiana,/ uma orquídea forma-se”. A orquídea aqui nada mais é que a construção de um projeto político vitorioso.
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Secretário de Cultura de Cuaibá e Diretor Executivo da Funec.
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