Neste sábado (22), a partir das 16h (horário de Brasília), Flamengo e São Paulo entram em quadra no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para começar a decidir o título da temporada 2020-21 do Novo Basquete Brasil (NBB). Marcas reconhecidas no futebol, no basquete as equipes não são rivais de longa data, mas têm sido rivais frequentes nesta temportada: o confronto que abre a decisão é o quinto entre os dois times. Como a final será disputada em formato melhor de cinco jogos, mais duas partidas estão garantidas, com a possibilidade de mais duas até o dia 31.

Em duas ocasiões, os clubes estiveram frente à frente em momentos chave da temporada. Em ambas, o Flamengo levou a melhor, sagrando-se campeão da Copa Super 8 e avançando para a final na Champions League Américas (competição que conquistou). Os triunfos são uma pequena parcela de uma sequência que está em vigor para o Rubro-Negro: 31 vitórias consecutivas desde a virada de 2020 para 2021.

“Nunca tinha acontecido algo assim comigo, nem de perto. O máximo que me recordo é termos alcançado 20 vitórias seguidas”, disse Olivinha, um dos maiores símbolos do Flamengo, com quase duas décadas como profissional do clube, divididas em três passagens.

Semelhanças

A decisão representa o embate entre equipes que se destacam por algumas semelhanças. Flamengo e São Paulo são os melhores ataques da competição e também os que mais se utilizam da bola de três.

Os dois elencos, que juntos têm sete dos 25 atletas convocados pelo técnico Aleksandar Petrovic para o pré-olímpico de Split, na Croácia, e três dos quatro candidatos ao prêmio de melhor jogador da temporada (batizado de “King of the Year”, ou o Rei do Ano), se conhecem bem, assim como os técnicos Gustavo de Conti, do Flamengo, e Cláudio Mortari, do São Paulo.

Respeito mútuo

O respeito é mútuo entre os dois técnicos, que representam eras diferentes do basquete brasileiro. Gustavinho diz que conviveu com Mortari no começo da década de 90, quando foi contemporâneo do filho do técnico do São Paulo, Bruno, na tentativa de se tornar jogador, aos 12 anos. Os dois também se encontraram no Paulistano, clube onde Gustavinho fez praticamente toda a carreira antes de chegar ao Flamengo.

“O Mortari é o treinador mais vitorioso em atividade no basquete brasileiro”, disse De Conti.

Mortari, campeão do mundo com o Sírio em 1979 e ex-técnico da seleção na década de 80, vê no futuro de Gustavinho, 32 anos mais novo do que ele, um grande talento.

“Ele faz um grande trabalho em uma equipe muito difícil de ser dirigida. Não é como dizem: ‘com esse time, até eu’. Na minha opinião, será, muito em breve, o técnico da seleção”, diz.

Representatividade distinta

Desde que os dois times venceram Minas (São Paulo) e Paulistano (Flamengo) e chegaram à final, muito se falou sobre esta ser a primeira decisão entre os clubes chamados “de camisa” (leia-se, com tradição no futebol) desde 2000, quando o Vasco foi campeão brasileiro em cima do Flamengo, na época comandado por Mortari. Mas a tal camisa é o começo e o fim das semelhanças entre Flamengo e São Paulo fora das quatro linhas.

O Flamengo vai tentar o seu sétimo título brasileiro, todos eles conquistados a partir de 2008. Embora tenha registrado altos e baixos ao longo dos mais de 120 anos de história, o Rubro-Negro se acostumou a competir no basquete, com títulos estaduais em todas as décadas do século passado, a partir dos anos 30. Olivinha, que se profissionalizou pelo clube em 2001, lembra da campanha que culminou no surpreendente vice-campeonato de 2003-04 contra o Uberlândia.

“Vivi momentos bem distintos aqui no Flamengo. Naqueles primeiros anos, tínhamos uma equipe boa mas não era cotada para chegar à final. Deu tudo certo naquela temporada e conseguimos”, disse. Para Olivinha, a mudança de patamar se deu a partir de 2007, quando o Flamengo contratou o ala-armador Marcelinho Machado e passou a investir mais pesado na modalidade. Desde então, o clube sempre figurou no mínimo entre os favoritos.

Quando treinava o Paulistano, Gustavo Conti observava à distância uma combinação incomum que o Flamengo apresentava. “Era o único time ‘de camisa’ que tínhamos no NBB. Mas também tinha tradição, frequentemente fazendo homenagens a nomes de outras épocas, como Chupeta, Oscar e o Marcelinho. Um time difícil de ser batido por essa união de estrutura, investimento e tradição”, disse o treinador do São Paulo.

Ascensão rápida

O São Paulo teve uma ascensão rápida. A equipe atingiu a final do NBB em sua segunda participação no campeonato. A chance de conquista na primeira, quando teve a terceira melhor campanha na fase de classificação da temporada 2019-2020, terminou devido à pandemia, pois a temporada anterior nunca acabou.

O projeto do basquete no Tricolor surgiu em 2018, quando formou às pressas uma equipe para a disputa da Liga Ouro, que à época era a via de acesso ao NBB. Não conseguiu na quadra, mas o clube comprou a franquia do Joinville, participante da competição e apresentou as garantias financeiras necessárias para confirmar a vaga. De um ano para outro, os investimentos – que hoje colocam o Tricolor como a segunda maior folha de pagamento da liga – subiram exponencialmente e o time montou uma equipe forte, com contratações de impacto como Georginho, Shamell e Holloway.

Apenas três jogadores da campanha na Liga Ouro ficaram para a estreia no NBB e o projeto do São Paulo foi completamente orientado para a elite. Não há nenhum atleta das divisões de base no elenco.

A campanha inicial na divisão de acesso animou a torcida e, por consequência, os dirigentes. Mortari, que está no São Paulo desde o início do projeto, lembra com carinho da trajetória.

“Quem conhece o Morumbi sabe que começamos humildemente em uma quadra de cimento, lá no canto. Hoje, temos um dos ginásios mais bonitos do estado. Tivemos jogos com 1.500, 2.000 torcedores. Os são-paulinos compraram a ideia e isso ajudou na aceitação. Para mim, que estou no final da minha carreira, foi ótimo poder chegar a um clube conhecido mundialmente e iniciar esse projeto”, disse Mortari, que diz ter recebido do recém-eleito presidente Julio Casares a garantia de que não há intenção de encerrar o time de basquete.