Erradicar a violência contra a mulher através de discussões no ambiente escolar. Essa é a proposta do Movimento Conectando Saberes, que está percorrendo Mato Grosso no intuito de tornar profissionais da educação e alunos do sétimo ano ao ensino médio multiplicadores de uma cultura de paz. Voluntária nesse movimento, a  pré-candidata ao Senado Federal, médica Natasha Slhessarenko (PSB) palestrou para 250 educadores, em Barra do Garças, no Anfiteatro Fernando Peres de Farias. Na exposição, pontuou para os participantes a origem da violência de gênero, quais os eixos, objetivos e ferramentas o movimento utiliza para buscar mudar a realidade hoje vivida no estado, tornando o ambiente mais seguro para crianças, meninas e mulheres, assim como para as demais minorias.

“É inadmissível que o Brasil, que tem a terceira lei mais dura no mundo, ainda seja o quinto com mais feminicídios”, ressaltou Natasha. Na próxmia terça-feira (28) será comemorado o Dia  Internacional do Orgulho LGBTTI+. A data lembra um dos episódios mais importantes na luta da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e intersexos (LGBTTI) ocorrido há 52 anos.

O movimento possui três eixos de atuação: palestras expositivas que abordam os cinco tipos de violência que acometem mulheres e a cultura de paz; oficinas de TikTok com os adolescentes voltadas para o tema das palestras e um concurso de redação sobre temática trabalhada. A ideia é que até o final do ano um livro seja organizado a partir dos 10 melhores textos produzidos por estudantes de diferentes regiões do estado, a partir de uma triagem que será realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Barra do Garças é a segunda cidade a receber o movimento. A primeira foi Sinop, no final do mês de maio. Até o momento, a discussão já chegou a cerca de 3 mil alunos da rede pública de ensino. Para Natasha, que também é professora universitária, a educação é o melhor caminho para a transformação da sociedade. E acredita que essa mudança se dará de forma gradativa.

A médica ainda considerou que é preciso lidar com a diferença sem o pretexto da dominação, que hoje ainda impera na sociedade atual. Mudar isso é possível por meio de uma ação educativa abrangente e interdisciplinar, capaz de superar as barreiras de um saber formal distante da realidade de categorias e grupos sociais subalternos.

Para exemplificar a necessidade da igualdade de gênero, Natasha trouxe como exemplo o papel exercido pela fêmea no reino animal. “Quando percebemos o que é natural, a gente vê vários exemplos da natureza que devíamos seguir. Uma das funções desenvolvidas pela abelha rainha é a manutenção da ordem social da colmeia. E aqui a gente tem uma série de outros animais cuja mulher exerce o seu papel com total preponderância. Por que é que nas relações humanas a gente não consegue estabelecer isso? Nós somos 52% da população e quando a gente vai para o campo da política, somos extremamente pouco representadas em todas as instâncias. Não passa de 16% a participação feminina. No reino animal já existe muito essa coisa da respeitabilidade, da hierarquia e o poder da mulher. Aqui, no nosso reino ainda, a gente tem que lutar e matar vários leões por dia”, destacou.

O Movimento Conectando Saberes visa, de forma lúdica, incentivar os envolvidos a modificarem esse contexto de violência de gênero, bem como de outras minorias, formando multiplicadores e fortalecendo o envolvimento da comunidade local com a causa. Para Natasha, a ação mais relevante é atuar de forma a evitar que o crime aconteça. Pontua que uma pessoa, seja ela criança, adolescente ou adulta, que passa por uma situação de violência, seja ela física, psicológica, patrimonial, sexual ou moral, fica dilacerada e, portanto, marcada para sempre.

As atividades seguem em Barra do Garças, nesta quarta-feira, com palestras para alunos da Escola Estadual Eurico Gaspar Dutra.

Como nasce o Conecta

O Movimento Conecta, que se subdivide em Conectando Saberes e Conectando Mulheres aos Espaços de Poder, nasce de uma proposta desenvolvida na escola Notre Dame de Lourdes, em Cuiabá. Três alunos propuseram um projeto de lei, que tinha como finalidade promover a discussão e a conscientização no ambiente escolar sobre a violência de gênero.

A proposta chegou ao Congresso Nacional e originou a lei federal 14.164/2021. A legislação alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir conteúdo sobre prevenção da violência contra a mulher nos currículos da educação básica, e instituiu a Semana Escolar de Combate à Violência Contra a Mulher. Diante dessa normativa federal, nasce o Movimento Conecta, integrado por voluntárias, que provoca a discussão nas escolas distribuídas por Mato Grosso.

A iniciativa é acompanhada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).