É muito usual que pessoas que têm alguma doença crônica se tornem hiperconscientes dos sintomas em seu corpo. Um espirro, uma certa coceira no céu da boca e na garganta, olhos que iniciam um processo de lacrimejamento com uma coceirinha e o diagnóstico está pronto. Quem tem rinite sabe muito bem do que estou falando. Mal inicia a crise e a gente já sabe inclusive como tratar, já que fizemos esse mesmo ritual ao longo de 10, 20, 30 anos.

E dessa vez não foi diferente. Mas, ainda que os sintomas de costume não tenham me alarmado, fiquei atento a dois deles que poderiam denunciar algo mais grave: dificuldade respiratória e febre. Com a recomendação de não procurar os serviços de saúde caso não houvesse sintomas graves e sem os sintomas que denunciam o Covid-19, adiei minha ida ao médico.

No entanto, para evitar que os sintomas da “sinusite” se agravassem, resolvi ir ao médico,  ainda que tivesse certeza do diagnóstico. Durante a anamnese fui relatando os meus sintomas ao médico, que me olhava com o olhar de nenhuma surpresa. Até que lhe disse que tinha perdido o olfato, o que imaginei fosse em virtude de alguma congestão nasal. Isso lhe despertou suspeitas e me mandou fazer exames e ficar em isolamento. Fui de imediato ao laboratório do plano de saúde.

Exames realizados (tomografia e PCR), não me dei por satisfeito e também fiz o teste rápido. Resultados à mão, dúvida sanada, diagnóstico fechado. Informei a todos do trabalho e fiquei isolado.

A partir de então houve um certo frisson, com muitas pessoas abaladas com a notícia buscando fazer exames. Salvo minha namorada, ninguém mais com quem trabalho ou tive contato testou positivo. Como noticiado pela cidade, eu participo de reuniões frequentes com deputados na Assembleia Legislativa, o que fez com que muitos deles se preocupassem. O único que testou positivo foi justamente um com quem, embora meu amigo e uma pessoa de quem gosto muito, não tenho contato pessoal há meses.

Os sintomas foram leves em mim. Como dito, muito assemelhado a uma sinusite (e já tive sinusites piores que esse covid) com o plus da perda radical do olfato e paladar. Sorte? “Histórico de atleta”? Não sei. O fato é que não houve necessidade de internação e nem de intervenção medicamentosa (mas ouvi atentamente as recomendações vindas de pessoas queridas, que receitavam desde alho cru com cúrcuma até umas hidroxis, cloroquinas e azitromicinas).

Se houve algo de bom nessa pendenga de vírus foram as demonstrações de carinho. Muitas mensagens e ligações de amigos preocupados com minha saúde e se colocando à disposição para comprar algum medicamento, ir ao supermercado, ao açougue, me trazer uma sopinha e, até mesmo, para trocar uma telha, se necessário fosse. Sou extremamente grato aos amigos, à disposição que apresentaram, à solidariedade. Podem ter certeza, todos eles, que estou também à disposição – como aliás sempre estive – para tudo aquilo que eu puder ajudar. Sintam-se todos abraçados.

No mais, o que há de fato a ser dito é que essa doença e esse vírus são reais. Pessoas morrem diariamente por conta dele. Enquanto as vidas que se perdem são apenas números e não conhecemos as vítimas, parece que estamos inalcançáveis pelo vírus. Mas ele vem chegando cada vez mais perto. No dia 09 de abril, tínhamos 108 casos confirmados em nosso Estado, sem nenhuma morte e 14 hospitalizados, sendo 7 em UTI. Depois de 20 dias, maio iniciou o mês com 321 infectados, 11 óbitos e 18 internados, sendo 9 em UTI e o mês fechou com 2.485 casos, 63 mortes, 159 internados sendo 78 em UTI. Apenas 8 dias depois, em 8 de junho, os casos aumentaram para 4.243, com 126 mortos, 227 internados, sendo 125 em UTI. Dobramos os óbitos em apenas 8 dias. O aumento é vertiginoso.

É preciso que tomemos o máximo de cuidado. Higienizar as mãos, evitar aglomerações (mesmo em temporadas de reaberturas de shoppings) e, caso haja sintomas (mesmo aqueles que parecem uma inofensiva gripe ou uma crise alérgica) investigar. Essa doença muitas vezes não parece, mas é. E, podendo, fiquem em casa.

Xisto Bueno é pretenso imunizado do Covid-19 e Diretor Executivo do Fórum Agro MT