Após ter a casa invadida pelo delegado Bruno França Ferreira, da Polícia Judiciária Civil, a mulher alvo da ação conversou com a reportagem e contou como foram os momentos de terror que passou com a família. Sem ter a identidade revelada, ela, o marido e a filha de 4 anos tiveram a porta arrombada pelo delegado, que estava acompanhado de policiais com fuzis. Segundo ela, ele disse que explodiria a cabeça dela.

“Eu estava fazendo a minha filha dormir, assistindo televisão, e nesse exato momento eu estou com um dreno, porque fiz uma cirurgia, bem delicada”. Vídeo gravado pelo circuito interno de segurança da casa mostra o delegado entrando aos gritos: “Deita no chão! Deita no chão. Cala a boca. Vou estourar sua cabeça”.

 

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“Ninguém entendeu aquele absurdo. Ele entrou na minha casa daquela forma, gritando, arrombando a porta. Foi um terror. Eu estava dentro da minha casa sendo ameaçada o tempo inteiro (…) Ele fez isso com a minha filha de 4 anos de idade e com meu marido o tempo inteiro”, contou ela.

Briga de adolescentes
A ação, liderada pelo delegado Bruno França foi motivada pelo descumprimento de uma medida protetiva contra a mulher, que por determinação da Justiça, deve manter distância do enteado do delegado, que tem 13 anos.

Nessa segunda-feira (28), o menino estava no condomínio em que a mulher mora. Ela diz que viu o garoto, mas não se aproximou dele. A medida teria sido pedida pelo avô materno do adolescente, que alegou que o neto estava em risco por causa de ameaças e injúrias feitas pela mulher, a partir de uma agressão que o filho dela teria sofrido em outro condomínio de luxo, em Cuiabá, em fevereiro deste ano.

A família do enteado do delegado diz que o menino não participou da agressão, no entanto, a mãe do outro garoto agredido afirma que sim. Ela contou que a agressão ocorreu em um campinho de futebol. Este teria sido apenas um dos episódios de bullying que o filho dela foi vítima, e fizeram a família se mudar do condomínio onde moravam na época das supostas agressões.

A medida protetiva
Contra a mulher existe uma medida protetiva que determina seu afastamento do enteado do delegado, que foi determinada pela juíza da Infância e Juventude, Gleide Bispo. No entanto, um outro documento mostra que a mulher não foi comunicada da decisão. Ela diz que o caso de bullying sofrido pelo seu filho é investigado pela Delegacia do Adolescente desde janeiro deste ano.

“Nós somos vítimas! Está lá. Eu entrei com um processo contra todos eles. Que medida é essa? Que eu nunca fiz nada com esse menino. Pelo contrário, quando vinha aqui, eu chamava o segurança, porque eu termia pela integridade física do meu filho (…) Vou atrás da Justiça”, se defende ela.

O boletim de ocorrência que gerou a medida protetiva foi registrado em setembro pelo avô do enteado do delegado. No documento, o homem relata que a mulher chegou a viajar para Rondonópolis com o objetivo de caluniar o menino que teria agredido seu filho.

Consta no documento que ela teria ido falar com um professor de futebol do garoto para falar que ele era violento e por isso, não poderia treinar no time. O avô relata ainda que, em outra oportunidade, a mulher teria invadido uma quadra para xingar e humilhar publicamente seu neto.

Trecho da medida protetiva pedida pelo avô do garoto, que é enteado do delegado, determinada pela juíza Gleide Bispo, da Infância e Juventude da Comarca de Cuiabá.

Abaixo, confira trecho do documento, que teve os nomes dos envolvidos apagados pela reportagem, por se tratar de caso envolvendo menores de idade.

A invasão

Conforme o delegado, sua atitude ocorreu após ser informado pelo enteado de que a mulher havia se aproximado dele, o que daria o direito a uma prisão em flagrante. Na noite dessa segunda-feira (28), a mulher foi conduzida para a delegacia, mas não ficou presa. O advogado dela, Rodrigo Pouso, também registrou em vídeo as ofensas que ele sofreu do delegado dentro da delegacia.
Ele afirma que irá representar contra o delegado Bruno na Corregedoria da Polícia Civil e na Justiça comum, tanto civil quanto criminalmente.

“Extrapolou qualquer forma de conduta. Foi invasão ao domicílio, com criança gritando. Ele falou que estava como pai do menino, usou aparato da polícia, encarterou a portaria. Ele mesmo disse que usou o sistema para fazer a invasão. Ele fez isso em um condomínio de luxo, com câmeras. É uma pessoa que está desequilibrada e armada. O estado tem que suspender”, disse o advogado da mulher.

O que diz a Corregedoria
A Corregedoria da Polícia Judiciária Civil concedeu uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (30) para falar sobre a apuração do caso. O delegado auxiliar, Marcelo Felisbino, iniciou dizendo que a instituição está tomando todas as medidas para a apuração da conduta do delegado Bruno França.

Entre os pontos questionados estão: havia uma ordem judicial para invadir a casa? O delegado Bruno poderia atuar no caso, sendo o enteado dele um dos envolvidos? O que justifica a truculência na abordagem e a ação fora do horário previsto em lei?

De acordo com o auxiliar da corregedoria, o delegado Bruno assumiu o cargo de delegado há 8 meses e está em estágio probatório. Não há confirmação, de fato, a medida protetiva do enteado dele contra a moradora teria sido descumprida. Para esclarecer o caso, envolvidos e testemunhas serão chamados para prestar depoimento.

O órgão afirma que, além de Bruno, os outros policiais envolvidos na ação também poderão ser responsabilizados.

Corregedor Marcelo Felisbino garante que a PJC está tomando todas as medidas para a apuração do caso

O que diz o delegado
Ao Primeira Página, o delegado Bruno Ferreira afirmou que ainda não foi intimado pela Corregedoria da Polícia Judiciária Civil e que aguarda requerimento. Ele continua cumprindo suas funções no trabalho.

Repercussão
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) – seccional Mato Grosso – divulgou nota de repúdio ao delegado Bruno França Ferreira por conta do tratamento dado ao advogado Rodrigo Pouso, no Cisc Verdão. A Ordem destaca que o vídeo não deixa dúvidas sobre o a ausência de urbanidade.

Veja à integra:
A OAB-MT, por meio de sua presidente e de sua diretoria, vem a público externar REPÚDIO ao tratamento dispensado pelo delegado de Polícia Civil, Bruno França Ferreira, ao realizar atendimento na data de ontem (28/11/2022), no Cisc Verdão, ao advogado Rodrigo Pouso. O delegado de Polícia Civil, Bruno França Ferreira, proferiu em desfavor do mencionado causídico, palavras de natureza desrespeitosas, afrontosas e não condizentes com o cargo e a função que exerce, de servidor púbico, em especial, quando em atendimento a um profissional da advocacia.

Imagens de um vídeo – que já se encontra em poder desta Seccional – não deixam dúvidas da ausência de urbanidade e, ainda, da utilização de palavras de baixo calão proferidas contra o advogado mencionado, que se encontrava em seu regular exercício profissional.

A OAB repudia veementemente atos narrados e que não condizem com a importância do cargo e da função de um delegado de Polícia Civil, bem como, não representam o tratamento dispensado à Advocacia pela grande maioria dos Delegados de Polícia e demais servidores da instituição Polícia Judiciária Civil. A OAB-MT deixa claro que não tolerará vilipêndios desta natureza. A Seccional já estuda as medidas cabíveis a serem tomadas em razão do caso em questão. 

(Primeira Página: https://primeirapagina.com.br/seguranca/mulher-que-teve-casa-invadida-por-delegado-detalha-momentos-de-terror-veja-video/)