A medida de proteção expedida pela Justiça, cujo suposto descumprimento motivou a ação do delegado Bruno França em um condomínio de luxo de Cuiabá, estabelece que a mulher, detida na noite de segunda-feira (28), deve ficar a 1.000 metros de distância do enteado dele, de 13 anos.

O delegado invadiu a casa da mulher acompanhado de policiais com fuzis, disse que explodiria a cabeça dela e, segundo a família, chegou a apontar a arma a uma criança de 4 anos. A conduta dele, registrada pelas câmeras de segurança do imóvel, está sendo apurada pela Corregedoria da Polícia Civil, bem como se houve descumprimento da medida de proteção.

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A ordem que impedia a mulher de se aproximar do adolescente foi expedida pela juíza Gleide Bispo Santo, da 1ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá, no dia 24 de outubro. Além de manter distância do garoto, ela está impedida de frequentar a casa de familiares do adolescente e a escola que ele estiver matriculado, sob pena de sofrer as sanções previstas em lei.

O advogado Rodrigo Pouso, que representa a família, afirma que nem ele nem a cliente tinham sido notificados da medida de proteção e que ele só teve conhecimento da proibição no momento da prisão e do teor dele, posteriormente. Segundo ele, o enteado do delegado estava no condomínio onde a mulher mora a convite de outro morador.

No processo, consta que uma oficial de Justiça foi a um endereço antigo da família, em outro condomínio de luxo da capital, no dia 10 de novembro. A mulher afirma que se mudou de lá porque o filho, de 11 anos, passou a ser agredido e a sofrer bullying por um grupo de adolescentes. Entre eles, segundo Pouso, estava o enteado do delegado.

Já, a outra família nega a participação dele nas agressões e acusa a mulher de perseguir o adolescente.

Procurado nesta quarta-feira (30), o delegado Bruno França informou que não se manifestaria e aguarda posicionamento da Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso.

Em nota enviada à imprensa na terça-feira (29), o advogado dele, Diogenes Curado, disse que a mulher persegue o enteado do delegado com agressões verbais e ameaças físicas em locais públicos. Que a última agressão teria acontecido na noite de segunda-feira (28) e que “na condição de autoridade policial, pediu apoio de outros agentes de segurança e, tendo conhecimento da medida protetiva expedida pela Justiça, efetuou a prisão em flagrante”.

‘Cena de terror’

A ação de França, acompanhado de policiais da Gerência de Operações Especiais (GOE), foi registrada pelas câmeras da casa. A mulher, em entrevista à TV Centro América, disse que viveu cenas de terror.

“Minha filha tem 4 anos e ele [o delegado] gritava demais ‘vou estourar a sua cabeça’. Meu marido pedia calma e minha filha pedia ‘por favor, para tio, não faz isso’ e ele falava ‘manda essa menina calar a boca’ e apontou a arma para ela. Ele foi agressivo”, contou a mulher.

 

No momento da ação, ela contou que colocava a filha para dormir e assistia televisão, enquanto o marido fazia uma sessão de massagem.

“A vítima é meu filho e, agora, minha filha de 4 anos. Ela está sem conseguir dormir”, disse.

 

Sob investigação

Delegado-corregedor Marcelino Felisbino, da Corregedoria da Polícia Civil disse que vai investigar o delegado Bruno França — Foto: TV Centro América

O delegado atua em Sorriso, a 419 quilômetros ao norte de Cuiabá, e está em estado probatório na Polícia Civil. Ele ingressou na instituição em janeiro deste ano, após ser aprovado no concurso público mais recente.

Na manhã desta quarta-feira (30), o delegado-corregedor Marcelino Felisbino informou que a polícia investiga a conduta de França e como os outros policiais foram acionados para acompanhá-lo na prisão da mulher. Caso haja comprovação de ação imprópria, ele pode ser advertido ou suspenso.

“Já temos pessoas intimadas para apurar como foi e a justificativa para ter essa operação policial. A primeira coisa é buscar se houve alguma ação imprópria e, tendo indício, vai ser instaurado um procedimento formal e, posteriormente, a responsabilização dos atos”, disse.

A polícia também vai investigar se houve descumprimento da medida protetiva por parte da mulher.