ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS
No dia 17 de julho do corrente ano, foi divulgado pela Agência Patrícia Galvão um estudo quanto à mortalidade materna de mulheres negras. Segundo a Unicamp, através do estudo publicado no mês de junho de 2024 na Revista Saúde Pública, dentre as mulheres negras a mortalidade materna é o dobro das brancas e pardas.
A morte materna é caracterizada como aquela que acontece na decorrência da gestação, durante o parto, ou no pós-parto. Foi estudada a estatística de mortalidade de mulheres segundo a cor da pele entre os anos de 2017 a 2022. Nos cinco anos, as mulheres negras apresentaram os piores resultados na pesquisa.
A morte de mulheres no puerpério pode ocorrer por muitos fatores, sendo que cerca de 92% são evitáveis, podendo acontecer comumente por: hipertensão, hemorragia, infecção e abortos provocados. Os números expressaram que a taxa foi de 67 mortes por mil nascidos vivos no Brasil. Porém, as brancas e pardas contabilizaram 64 mortes, enquanto que as negras apresentaram índice de 125,8, ou seja, quase o dobro.
Os dados coletados foram através do DataSUS, do Ministério da Saúde, com as classificações de raça apuradas de acordo com o IBGE. Houve cuidado na separação das estatísticas por pretas e pardas, para que não houvesse forma de mascarar a pesquisa.
Tempos atrás, ouvi a lamentável conversa de um médico sobre as mulheres negras. Ouvi, em alto e bom som, que ele entendia e havia estudado na medicina, que as mulheres negras são mais fortes que as de outras raças. Por isso, muitas vezes, deixam de ser socorridas de forma urgente e emergencial para que outras pessoas, como narrou, de outras raças, possam receber o socorro primeiro. Afirmou que elas são mais fortes, e que não necessitam da mesma quantidade de anestésico que outras raças precisam. Sim!!!
A horrenda narrativa descrita acima possui nome e sobrenome: racismo institucional. É preciso avaliar as mulheres negras historicamente e em diversos fatores, que foram capazes de dificultar o acesso delas à saúde. Estudos de outrora mostraram que as mulheres negras possuem os piores acessos à qualidade de atendimento em saúde. Os impactos são graves, e elas acabam sendo prejudicadas em suas vidas e vivências.
É… Uma história, ainda que inventada ou falsa, narrada por diversas vezes, faz no imaginário do senso comum brotar situações inverídicas. Mais ou menos, na proporção de que manga com leite pode matar.
Inclusive, no ano de 2009, através da Portaria nº 992, de 13 de maio, foi lançada a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no Brasil. A finalidade era o combate à desigualdade no SUS e à promoção da saúde da população negra. Muito se falou, à época, sobre a mortalidade materna das mulheres negras, pelos dados assustadores.
A necessidade de atendimento médico e hospitalar, no Brasil e em qualquer lugar, não pode ter cor. A mulher negra não é parideira por excelência, não sendo mais forte e resistente à dor. As percepções falsas trazem dados de todas as órbitas. Porém, quando se trata de saúde, os danos são bem maiores. A pesquisadora Maria do Carmo Leal, da Fiocruz, se debruçou sobre o tema, em razão do senso comum, que acaba resultando em piores atendimentos para as mulheres negras.
O estudo divulgado dias atrás antecede à data importante para as mulheres negras: O Dia Nacional de Tereza de Banguela e das Mulheres Negras, em 25 de julho.
A professora em obstetrícia da Unicamp, Dra. Fernanda Garanhani Surita observou na pesquisa: “O racismo é um problema da sociedade brasileira. Não é que as pessoas pretas tenham problemas de saúde maiores e por isso morrem, elas têm dificuldade de acesso e de cuidado qualificado. É uma questão muito profunda.”
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é Defensora Pública Estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
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