No papel de ex-presidente e atual membro do comitê gestor do futebol, Carlos Augusto Montenegro definiu o posicionamento do Botafogo diante dos pedidos de retorno do futebol e da possibilidade de que os treinos voltem a acontecer. Perplexo, o dirigente fala em “estupidez” e garante que o Alvinegro não entrará em campo enquanto “as coisas não estiverem perto da normalidade”.
– Por que essa maluquice com o futebol? Por que que tem que treinar de qualquer maneira? Por que começar dia 20 de maio? Então vai ter uma filha de gente indo tratar os internados, uma outra fila de pessoas enterrando gente e outra fila de jogadores indo treinar? Que isso, cara? Acho que as pessoas perderam a cabeça. O Ministério da Saúde falar que pode treinar é ridículo – afirmou Montenegro em entrevista ao “Canal do TF” no Youtube.
“Se vier pressão de CBF, Ministério da Saúde, Federação para que se inicie os treinos nessa situação, em que todos os técnicos dizem que pode piorar, o Botafogo não vai jogar. Vai continuar treinando em casa, com os atletas em casa. Os atletas em casa pelo menos estão protegidos. Como que vou tirar eles de lá? Para ficar treinando. Isso é uma estupidez, cara. “Ah, vai perder ponto”. A gente perde ponto. Cada ponto que a gente perder vai ser uma vida salva”, completou ele.
Diante da indefinição sobre quem é o responsável por dar o aval do retorno dos treinos, Montenegro acredita que essa responsabilidade cabe à prefeitura do Rio de Janeiro.
– A OMS não tem nada a ver com isso, ela só dá orientação para os países. Ela não deve saber cada caso de cada país. Não vai ser ela que vai dizer quando as atividades vão voltar. No Brasil, você tem o Ministério da Saúde, que teoricamente teria que orientar. E tem os governos estaduais e municipais vivendo o problema de perto. Eu digo que, hoje, quem dá a última palavra é de baixo para cima. Quem diz se pode voltar à normalidade primeiro são os prefeitos e secretarias de saúde. Depois o governador e os secretários de saúde. E aí por diante – disse.
– Além disso, você tem o bom senso de notar que não pode ir treinar com 500 mortos por dia. Você não pode fazer isso. Isso é de uma estupidez… O presidente do Atlético-MG falou que é coisa de débil mental. Estão querendo fazer o futebol como bode expiatório. Eu vejo no mundo todo mundo preocupado com a doença. A NBA acabou, os torneio de tênis foram cancelados, a Fórmula 1 até agosto não vai voltar. Natação, basquete, vôlei, pingue ponte, amarelinha, “purrinha”… Tudo quanto é tipo de esporte, ninguém fala em voltar. Todo mundo quieto. Agora o futebol é uma pressão tremenda para arriscar a vida dos jogadores e comissão técnica, entendeu? Como se fosse um circo, vamos lá botar os palhacinhos jogando, mesmo sem público, e dane-se eles. Vão jogar, correr atrás da bola para alegrar as pessoas domingo de tarde em casa. É uma falta de respeito, uma coisa horrível – lamentou o dirigente alvinegro.
Por fim, Montenegro disse que não conseguiria dormir caso um jogador do Botafogo contraísse o coronavírus porque precisou treinar.
“Você está combatendo uma doença traiçoeira, invisível, ninguém tem noção do que fazer. Tem gente que não sabe ainda se, mesmo tendo pego, pode pegar de novo. É tudo desconhecido. Eram 100 mortes por dia, agora são 500. Quando passa de 100 para 500, aumenta a pressão para voltar a treinar. É uma estupidez, cara. Se depender do Botafogo, o futebol só volta quando as coisas estiveram perto da normalidade. Como vou dormir à noite se um atleta meu sair para treinar e se contaminar? Aí vai para o hospital e não tem vaga para ele. Como vou dormir à noite, cara?”, concluiu. (Globo Esporte)