Existe uma máxima que anda por aí bastante difundida, circunspecta que só – não julgueis ou da forma que julgais, será julgado. É muito interessante adaptá-la à razão. Por exemplo, como a pessoa se reconhece? Poderíamos afirmar que seria conhecendo a si própria, ou mesmo através de um complexo processo de autoavaliação constante ou reflexão profunda sobre o “eu” individual. Poderíamos, mas não sem errar.

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Sabemos, a partir do pensamento moderno, em especial o de Lacan, que o ser se reconhece no outro; sim, na alteridade, na comparação dialética entre aquilo que sou – de comportamento, atitude, forma de posicionar frente às vicissitudes da vida – e o que tudo isso representa no outro ou de como esse outro se manifesta. Vejamos, então: o reconhecer-se no outro não é um processo de julgamento? Pois bem. Nos acertos e erros do outro é que descobrimos a nós em acertos e erros, também. Assim, a partir daquilo que julgamos acertado ou errado no outro é que definimos e caminhamos solitariamente para a própria subjetivação.

Neste exato momento, lendo estas palavras iniciais, já estamos concordes ou discordes; julgando, portanto. Talvez o pregador queira se referir a um julgamento mais puro, sem os pecadilhos da maledicência, inveja e outros sentimentos tão ou bem menos nobres. Seria desta forma: não julgueis por preconceito, sem razoabilidade, senão… O julgamento dos amigos, do vizinho, dos colegas de trabalho, da família, enfim, todos e dos mais variados tipos, estão no dia a dia de cada qual e para cada qual.

Nas redes sociais, os julgamentos são mais abertos, transparentes, à exceção é o anonimato, deste o sufixo já diz tudo. Consideremos o Facebook – das curtidas ou não, já que a ferramenta está a um “clic” do interessado, se pode sentir a reprovação ou aprovação de seu texto ou comentário; ou ainda, a teimosia ou mesmo a indiferença a ele, que não é surda, mas eloquente. Julgou-se eletronicamente e em tempo real, e o autor pode avaliar os “amigos”.

O anonimato se relaciona mais com os sites de notícias, nos comentários. Tirando o conteúdo que de cara se percebe a veia da vingança ou de falta de cultura e conhecimento, têm-se verdadeiras lições a tirar. Os teóricos sociais deveriam debruçar mais sobre isso. Há uma coerente participação popular neles. Antes, os comícios e reduzida plateia; agora, uma corresponsabilidade no produzido e no resultado. A máscara cai ou lhe é devida dependendo da argumentação dos comentaristas, anônimos ou não. Contra eles se tentou até regulamentação. Suas potestades permaneceram incólumes.

O recato, a paz dos inocentes, não prevalece mais, foi-se embora, impotente. Está-se a criar novas tolerâncias. Se seu nome aparece no Google, e de forma injusta, a justiça dos novos julgamentos te servirá como redenção. Para analisar todo esse material histórico, somente os historiadores não bastam, tornamo-los. Nisso somos bacharéis e sem qualquer certificado universitário ou ético, muito menos dos necessários referenciais teóricos e da disciplina acadêmica. O grito de Fidel – “condenem-me, não importa, a história me absolverá” – ecoa livremente na consciência, mais ou menos crítica, de seus amigos ou detratores, tudo a depender dos julgamentos modernos, de tempo real, e da “generosidade” postada nos bancos de dados eletrônicos. A profundidade dos acontecimentos não importa mais, todos queremos participar. A capacidade é detalhe dos desavisados.

E diante disso, como ser feliz na comédia contemporânea? Ser ou não ser, que desculpemos a Shakespeare, não é mais a questão. É outra a inquietação: de sobrevivência, de dramaturgia. De minha parte, creio no julgamento divino e na   misericórdia de Seu Filho primogênito. Àquele que não o procurou durante a vida, posto seus honorários não se pagar com qualquer vintém, o que terá? O julgamento dos iguais e anônimos, de sentença arquivada no Google. Ou não?

É por aí…

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto)   é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de CuiabáE é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e You Tube).

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