A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde deverá definir, nesta quinta-feira, 16, conjunto de ações visando o enfrentamento ao novo coronavírus nas aldeias do Parque Nacional do Xingu e também nas reservas dos índios Xavantes, no Vale do Araguaia. O anúncio foi feito pelo secretário de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, durante audiência pública da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que analisa o combate à Covid-19.
Diante das fortes críticas dos parlamentares, Silva informou que deverá se reunir com equipes do Governo do Estado para montar um plano emergencial de contingência, com instalação de barreiras sanitárias para controlar entrada e saída de índios e não índios das reservas. Também se comprometeu a dar solução para os problemas relacionados à falta de medicamentos, insumos e testes.
O senador mato-grossense Wellington Fagundes (PL), que integra a Comissão Especial Mista da Covid 19, presente na audiência pública, lembrou que há pelo menos 15 dias o secretário de Saúde Indígena é esperado em Mato Grosso. Ele disse que existe uma expectativa muito grande para que haja uma programação que possa trazer uma solução para a situação que classificou como “extremamente caótica”.
Com reconhecimento do próprio secretário, Fagundes lembrou que há um mês vem denunciando a situação junto a Funai, Ministério da Saúde e ao próprio gabinete do presidente Jair Bolsonaro. Ele lamentou a falta de uma melhor estrutura para atendimento dos índios e não índios na cidade de Barra do Garças, onde os leitos hospitalares se encontram praticamente esgotados.
O senador do PL cobrou do Governo a instalação de um hospital de campanha na cidade de Barra do Garças, conforme encaminhamento feito junto ao ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto, e também com o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello. Para ele, a participação do Exército, que mantém uma base no município de Aragarças, na divisa de Goiás com Mato Grosso, seria fundamental para ajudar a combater a proliferação do vírus nas reservas.
“Nesse ponto, o Governo está demorando demais. E a meu ver, essa responsabilidade é do Governo Federal, com ação junto com o Governo do Estado para que chegue nos municípios. Hoje, essa responsabilidade está toda nas mãos dos prefeitos” – lamentou. O foco é salvar vidas. Uma vida pode mudar toda a situação de uma comunidade e levar ao extermínio cultural, extermínio moral, extermínio da motivação de viver”.
A deputada Rosa Neide (PT-MT) também enfatizou a realização de três grandes reuniões remotas, com a participação de prefeitos, Fundação Nacional do Índio (Funai), representantes do Ministério Público, do próprio Governo, além de lideranças indígenas e dos parlamentares que integram a bancada federal, em que foram abordadas as dificuldades para conter o avanço do vírus sobre as aldeias. Ela relatou o que chamou de ‘desespero’ dos líderes indígenas com as perdas que vêm ocorrendo nas aldeias devido à infecção causada pela Covid-19.
Os números da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde mostram 4.213 infectados e 216 óbitos. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), entidade da sociedade civil, informou quase 15 mil infectados e 501 mortes. Entre os Xavantes, números apontou que há mais de 200 infectados e 23 casos de óbito.
Ao confirmar a visita a Mato Grosso nesta quinta-feira, Robson da Silva detalhou a estrutura de atendimento, o trabalho das equipes multiprofissionais e a distribuição de mais de 800 mil itens de proteção. Disse que a taxa de letalidade, de 2,2%, é menor do que entre os não indígenas, mas reconheceu a vulnerabilidade dos povos.