A CBF pagou o plano de saúde do ex-presidente Marco Polo Del Nero (que ficou no cargo entre 2015 e 2018) durante três anos depois que ele foi banido do futebol pela Fifa, em abril de 2018. Segundo o ge apurou, o corte no pagamento só ocorreu no dia 8 de junho de 2021.
No dia 6 de junho, o presidente Rogério Caboclo foi afastado da presidência da entidade por uma denúncia de assédio feita por uma funcionária. Ele nega as acusações.
A entidade também bancou benefícios para os ex-presidentes José Maria Marin (mandato de 2012 a 2015) e Ricardo Teixeira (1989 a 2012) quando eles já não tinham vínculos formais com a CBF.
Procurado, Del Nero não respondeu aos contatos da reportagem. Em nota, a CBF informou que “não concede mais nenhum benefício de plano de saúde para ex-presidentes”.
Del Nero, Marin e Ricardo Teixeira já foram presidentes da CBF — Foto: Editoria de arte
Teixeira renunciou aos cargos que ocupava em março de 2012. Marin foi preso em 27 de maio de 2015. Del Nero foi banido do futebol em abril de 2018. Mesmo assim, os três ex-presidentes da entidade – e familiares deles – continuaram a ter seus planos de saúde pagos pela confederação pelo menos até novembro de 2019.
Um deles, Marco Polo Del Nero, continuou a ter suas despesas médicas pagas pela CBF até junho de 2021. Esta informação foi publicada primeiro pelo colunista Lauro Jardim, de “O Globo” e confirmada pelo ge, que teve acesso a documentos internos da entidade, como planilhas e uma denúncia apresentada ao Canal de Ética da entidade.
Os três ex-presidentes e seus familiares estiveram incluídos no plano de saúde até novembro de 2019, quando Rogério Caboclo contratou Marco Dalpozzo como diretor de Recursos Humanos da CBF.
Na lista estavam Ricardo Teixeira e dois dependentes, José Maria Marin e um dependente, Marco Polo Del Nero e sete dependentes. Os planos custavam à CBF entre R$ 1.000 e R$ 1.500 por pessoa, por mês. Planos semelhantes no mercado para pessoas de mais de 60 anos custam cerca de R$ 6 mil mensais.
De Del Nero a D Netto em planilha
Segundo a denúncia, foi Dalpozzo quem informou a situação ao presidente Rogério Caboclo – que desde 6 de junho está afastado do cargo por uma denúncia de assédio sexual e moral a uma funcionária; acusações que ele nega. Até a chegada de Dalpozzo, quem acumulava a área de RH da CBF era Gilnei Botrel, atual diretor financeiro. Procurado, Dalpozzo não quis dar entrevista.
Caboclo então teria determinado a Botrel que tirasse os ex-presidentes e seus familiares do plano de saúde da CBF. Segundo a denúncia apresentada ao Canal de Ética da CBF, apenas José Maria Marin, Ricardo Teixeira, os familiares desses dois e alguns dependentes de Marco Polo Del Nero perderam o benefício na ocasião. Mas não o próprio Del Nero e um dependente.
Segundo uma planilha vista pelo ge, que foi anexada à denúncia, o nome do ex-presidente da CBF passou a ser registrado como Marcos Paulo D Netto. A CBF não tem nenhum funcionário com este nome. A dependente também teve o nome adulterado. No sistema interno da entidade, esse nome não aparecia. Procurada, a CBF enviou a seguinte nota:
– A CBF não concede mais nenhum benefício de plano de saúde para ex-presidentes.
Entidade em crise
A CBF vive uma crise há meses. No dia 4 de junho, uma funcionária da CBF protocolou denúncia de assédio sexual e moral contra Rogério Caboclo. O documento foi entregue à Comissão de Ética da CBF e à Diretoria de Governança e Conformidade.
Entre os fatos narrados por ela, estão constrangimentos sofridos por ela em viagens e reuniões com o presidente e na presença de diretores da CBF. Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se “masturbava” – o áudio desta conversa foi revelado pelo Fantástico em 6 de junho. Entre outros episódios, segundo a funcionária, Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de “cadela”.
Dois dias depois da denúncia, em 6 de junho, Caboclo foi afastado da presidência da CBF por 30 dias, por determinação da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro. Na ocasião, a entidade informou que o processo seguiria em sigilo. Em 4 de julho, a Comissão renovou o afastamento de Caboclo por 60 dias.
O dirigente nega as acusações e afirma ser vítima de um complô liderado por Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF e seu padrinho político, com quem rompeu após a revelação do caso. (Globo Esporte)