ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

 

O mês de agosto geralmente vem recheado de informações que trazem reflexão sobre os direitos humanos das mulheres. Os muitos lugares são mencionados, tendo em vista os estereótipos de gênero a aprisionar mulheres.

O Ipea apresentou, em 15 de agosto do corrente ano, a nova versão da plataforma Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, com dados de 2016 a 2022, que foi mostrada pela Forbes Mulher e Agência Brasil. A manchete da notícia evidencia a desigualdade: “Mulheres são maioria da população, mas apenas metade no mercado de trabalho”. Não é de hoje que esse é um tema que precisa ser tratado com maior responsabilidade, tendo em vista a historicidade a acompanhar a vivência das mulheres.

O espaço doméstico foi reservado indelevelmente e “sem dó” para elas, enquanto aos homens os locais de poder. Assim, quando adentraram no terreno do labor fora de casa, não conseguiram se desvencilhar e compartilhar, como deveria, das tarefas de casa. Segundo dados da citada pesquisa, elas costumam dedicar 10 horas a mais por semana nos afazeres não remunerados. Logo, pouco mais da metade das mulheres estão no mercado de trabalho no país. Dessas, 52% são negras e 54% brancas. A diferença se comparada com os homens é latente, com o índice de 75%.

O prospecto para o futuro, para elas, consegue ser um pouco pior. A proteção delas quanto à Previdência Social está em queda. Na verdade, caiu para todo o gênero feminino, sendo mais sentido para as mulheres negras, porquanto, mais de um quinto delas, 21%, não conseguem contribuir para a previdência. Visível fica a falta de acesso delas à rede de seguridade social.

Sobre esse estudo, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, fez referência aos dados do relatório de transparência de salários das empresas no Brasil: negros representam 80% dos 10% mais pobres no país, e, ainda, os mais ricos são os brancos, com 70%.

Quanto aos cargos de liderança e direcionamento, no ano de 2023, foi divulgado que apenas 38% dessas posições foram ocupadas por mulheres, pela FIA Business School. Na diretoria e no C-Level das companhias a proporção é de 28%.

Para a manutenção da divisão social, é premente que o regime capitalista continue ditando as regras. Dentre a camada da sociedade mais pobre e explorada se encontram as mulheres. A exploração da força de trabalho do gênero feminino fica evidenciada, pois a força de trabalho recebida em pecúnia é bem menor que o gênero masculino. O combate à pobreza tem sido realizado de maneira individual, não conseguindo chegar no cerne da questão.

As mulheres são tratadas de queixosas e estigmatizadas quando mencionam a necessidade de rede de apoio dentro e fora de casa, para poderem ocupar com dignidade o mercado de trabalho.

Heleieth Saffioti, sobre o trabalho feminino eternizou: “A mulher das camadas sociais diretamente ocupadas na produção de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e lugares tem ela contribuído para a subsistência de sua família e para criar a riqueza social”.

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é Defensora Pública Estadual.

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