*Por Jaqueline Pessôa
Assinar dois ambientes na CASACOR 2024 – De Presente, o Agora – foi um marco inesquecível em minha trajetória profissional. Os projetos “Memórias da Água” e “Filhos do Barro” transcenderam o design de interiores, tornando-se plataformas de expressão cultural e impacto social. Esses espaços ressignificaram a arte mato-grossense, combinando ancestralidade, sustentabilidade e inovação em celebrações vivas da nossa identidade.
“Memórias da Água” é mais que uma Fachada; é uma declaração poética. Sob minha curadoria e a co-curadoria de Marcela Lopes, reunimos um coletivo de nove artistas: Kleyton Soares (Amarelo), Danusa VetArt, Nikko Kali, Thelma Pereira (Além dos Olhos), Guilherme (Guyllis), José Lisbran, Ricardo Freitas e Eloiza Santos, além da própria Marcela Lopes como artista. Juntos, construímos uma narrativa visual inspirada na cosmologia indígena do espírito das águas, dialogando com referências de mestres como Alcides Pereira e Gilvan Samico, que exploraram a gênese do mundo e da vida.
A fachada nasceu em um terreno inicialmente destinado à Copa do Mundo – um espaço “sem forma e vazio”, mas cheio de potencial. Sob uma visão curatorial, transformamos esse local em um símbolo de renovação, inspirado pela água como fonte de vida. Essa criação ao ar livre, uma das raras na CASACOR, desafiou limites ao unir arquitetura, paisagismo e arte em uma estrutura de magnitude única.
Guiados pelas diretrizes do Pacto para o Futuro da ONU, cada etapa do projeto incorporou práticas sustentáveis, estabelecendo parcerias locais e inovadoras. Como um feito inédito, garantimos a inclusão dos nomes dos artistas no anuário oficial da CASACOR, um marco histórico para a valorização da arte mato-grossense.
Já o espaço Ateliê Vivo “Filhos do Barro”, que é extensão da Memórias da Água é nutrido pela mesma fonte criativa, floresceu como um ambiente pulsante onde arte, educação e saberes ancestrais se conectaram. Em parceria com o colecionador Murilo Espínola, o espaço reuniu obras de mestres como Benedito Nunes e Nilson Pimenta, além de artistas consagrados como Rimaro Soares, Antônio Ferreira, João Sebastião, Zeilton Mattos, Paulo Pires e Prestes Brasil. Um dos destaques foi a obra Jejé de Oyá, com experiência multissensorial, da artista Marcela Lopes, que proporcionou uma vivência inclusiva e inovadora, aproximando os visitantes das tradições mato-grossenses. O Ateliê dialogou profundamente com as forças do Cerrado e a potência da nossa “floresta invertida”.
O ambiente do Ateliê acolheu oficinas dinâmicas, rodas de conversa e gravações, enquanto iniciativas como o Urban Sketch e o Plantio de Sementes aproximaram a comunidade do processo criativo da Fachada. Alunos de escolas locais participaram de uma jornada educativa que uniu arte e consciência ambiental, reafirmando a arte como ferramenta de transformação social e cultural.
Finalizar a CASACOR MT 2024 com tamanha repercussão positiva é motivo de profunda gratidão. Foi um empreendimento coletivo que celebrou a essência da colaboração, plantando um legado que ultrapassa o evento e já projeta um futuro promissor para 2025.
Como profissional que transita entre São Paulo e Mato Grosso, sinto-me honrada por valorizar o meu estado natal, um celeiro de cultura e arte. “Memórias da Água” e “Filhos do Barro” simbolizam o poder transformador da união entre ancestralidade e inovação, deixando marcas indeléveis no tempo – frutos vigorosos que continuarão a florescer.
*Jaqueline Pessôa é Comunicadora, Art Curator e Dealer com uma formação diversificada que inclui teatro, moda, turismo, museologia, comunicação, marketing e design de interiores. Apaixonada por arte, cultura e pela vida, combina sua ampla expertise para criar projetos únicos e inspiradores.
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