A origem do zodíaco que conhecemos hoje é fruto de uma fusão cultural de povos antigos. Enquanto os babilônios desenvolveram 12 signos astrológicos, os gregos atribuíram nomes de constelações a esses signos, consolidando a base do zodíaco ocidental.

Um novo estudo da Universidade Macquarie, na Austrália, sugere que outro povo também pode ter conhecimento do zodíaco: os egípcios. Um petróglifo recém-descoberto pode representar o signo de Capricórnio, uma criatura metade cabra metade peixe. A novidade foi divulgada em um artigo publicado na revista Journal of Egyptian Archaeology.

Nunca antes um símbolo do zodíaco tinha sido identificado na arte rupestre egípcia. O achado ocorreu em El-Hosh, na margem ocidental do rio Nilo, uma área que também abriga evidências das eras greco-romana e islâmica. Próxima a essa representação, havia uma figura intrigante, que parece retratar um camaleão – algo igualmente raro.

Petróglifo em el-Hosh — Foto: Linda Evans, Fred Hardtke e Wouter Claes
Petróglifo em el-Hosh — Foto: Linda Evans, Fred Hardtke e Wouter Claes

A imagem do peixe-cabra chamou a atenção dos pesquisadores por não existir registro de algo semelhante na iconografia animal relacionada aos faraós egípcios, que eram representados por animais específicos.

“Os egípcios não criaram animais híbridos à toa; em vez disso, eles uniram as características de animais que compartilhavam certas qualidades, como o animal Seth, que combina as características físicas de uma gama de predadores agressivos para criar um ser verdadeiramente poderoso”, explica Linda Evans, primeira autora do artigo, em comunicado. De acordo com a pesquisadora, isso alimenta a teoria de que o petróglifo é de fato, o símbolo de Capricórnio.

A equipe estima que o petróglifo foi esculpido entre o século 1 a.C. e o século 2 a.C. Os pesquisadores ainda sugerem que a figura singular do peixe-cabra tenha despertado a curiosidade de seu autor, o que motivou a reproduzi-la na rocha. O traço rudimentar da gravura pode sugerir que o desenho foi criado de memória, sem o auxílio de referências visuais. Além disso, é provável que o criador compreendesse o simbolismo da figura e desejasse preservá-lo ao registrá-lo na pedra.

Uma cultura antiga

Os primeiros registros do que viria a se tornar o símbolo de Capricórnio remonta à Mesopotâmia. Nessa cultura, foi identificado um ser híbrido, metade cabra e metade peixe, retratado aos pés de uma divindade em selos cilíndricos datados de aproximadamente 2112–2004 a.C.

Para eles, os deuses representavam manifestações das estrelas e dos planetas, incluindo Enqui (também conhecido como Ea), o deus da água e da sabedoria que simbolizava a constelação de Capricórnio. Acreditava-se que os corpos celestes exerciam influência sobre a vida humana e podiam ser utilizados para prever eventos naturais, conflitos e diversos aspectos do cotidiano.

Exemplos de peixe-cabra desenhados em registros babilônicos, romanos e egípicios — Foto: Emily Corbin
Exemplos de peixe-cabra desenhados em registros babilônicos, romanos e egípicios — Foto: Emily Corbin

A astrologia chegou à Grécia e Roma sob influência mesopotâmica. Com a ocupação romana no Egito a partir do século I a.C., os zodíacos se acabaram se tornaram conhecidos também entre os egípcios. Suas primeiras representações no Egito apareceram em tetos zodiacais de templos dedicados aos deuses Montu e Rattawy, datados de aproximadamente 44–30 a.C.

Esses registros não eram apenas evidenciados principalmente para as elites, mas para toda a população. Assim, é possível dizer que o peixe-cabra e seu simbolismo eram reconhecidos no Egito durante o período greco-romano.

“Durante esse período, podemos encontrar inscrições gregas com nomes e dedicatórias a deuses. Ocasionalmente, há exemplos de representações figurativas de deuses e animais junto com textos”, explicou Frederick Hardtke, que descobriu o petróglifo.

(Redação Galileu)