Dias atrás uma querida amiga relatou-me situação que havia passado em rede social, ao postar a seguinte frase: “O problema em ser mulher e querer discutir com homens é que quando você discorda, eles acham que você não entendeu. ”  E não é que foi criticada? Sim, por um homem.

O que ela disse está errado?  Desde sempre é uma tremenda ‘afronta’ delas em se questionar, ou ‘teimar’ discutir algo com eles. Como você ‘ousou’, querida? Então você não sabe que a palavra deles deve ser respeitada? Não sabe que eles possuem mais conhecimento que mulheres? Não sabe que são deles os adjetivos inteligência, competência e capacidade? Ah, eles até tentarão te ‘ensinar’, porém, debochadamente, em minúcias, especialmente para a ferir.

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O vocábulo mansplaining significa explicar algo a mulheres por eles, de maneira a causar perplexidade e arrogância, como se elas ignorantes ou burras fossem

E a retórica será sempre a mesma. Ainda que se cuide de assuntos sobre feminino ou feminismo, são eles os entendidos. Quando se insiste em mostrar a real, e elas estão com a razão na argumentação: grossas, histéricas, loucas, difíceis, feminazis, e por aí afora. O discurso é um ‘combinado’ machistamente. Após dizer o que desejam, é comum a afirmativa: “Nossa está complicado falar contigo. O feminismo, então, é sempre a mulher estar certa? Grossa demais! ”.

E aqui deve-se deixar bem evidente a diferença entre lugar de fala e protagonismo. Lugar de falar é, por liberdade, de toda e qualquer pessoa. Todavia, por protagonismo deve-se entender aquele ou aquela que na ‘pele’ sente a realidade, possuindo total direito de representar com a fala. Trocando em miúdos: aos homens é dado o direito de discorrer sobre o tema feminismo. Entretanto, o palco ou a mesa de honra deve ser delas.

Algumas figuras de linguagem importadas do inglês possuem o condão de explicar facilmente. O vocábulo mansplaining significa explicar algo a mulheres por eles, de maneira a causar perplexidade e arrogância, como se elas ignorantes ou burras fossem.  Quando se perde o argumento, então, o que resta é tratar como se ‘mimimi’ ou exagero delas fosse.

O termo passou a ser utilizado com maior frequência quando, em 2010, o New York Times o batizou como uma de suas “Palavras do Ano”. Contudo, o marco apareceu inspirado em um ensaio escrito por Rebecca Solnit: “Os homens explicam coisas para mim: os fatos não ficaram em seu caminho”, publicado em 2008. A autora relata sobre uma anedota que ouviu em uma festa, onde ela narrava sobre um livro por ela escrito, quando um homem a interrompe para mencionar o livro da escritora a aconselhando a ler, sem saber que seria dela a própria obra.

Do inglês, o vocábulo ‘man’ significa homem, e ‘splainnig’ denota explicação. E essa aclaração proferida por eles não quer dizer apenas pura e simplesmente elucidar, mas, sim, explicar condescendentemente e com extrema confiança de estar a ‘ensinar’ quem nada sabe.

Amiga querida: continue com os seus posts. Prossiga, você sim, a esclarecer que o machismo e a misoginia vão além dos vocábulos…

*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública em Mato Grosso.

CONTATO:         www.facebook.com/goncaloantunes.debarrosneto