Imagine a Arena Pantanal lotada. Todas as cadeiras ocupadas e mais 10 mil pessoas dentro de campo. Agora imagine todos esses ocupantes sendo mulheres e vítimas de violência de gênero. Imaginou? Por mais assustador que possa parecer, em 2022 o Brasil registrou 50.962 casos de mulheres que sofreram algum tipo de violência, seja física ou psicológica.
Os dados foram apresentados pela promotora de Justiça Valéria Diez Scarance Fernandes, do Ministério Público de São Paulo, que ministrou a palestra “Violência Psicológica e Revitimização”, um dos temas abordados no curso “Violência de Gênero: Desafios e Perspectivas para Elaboração de Um Protocolo Institucional”, realizado pelo Ministério Público de Mato Grosso, por meio do Centro de Apoio Operacional sobre Estudos de Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher e Gênero Feminino e Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional – CEAF – Escola Institucional do MPMT.
Para ela, que já atuou em diversas áreas no Ministério Público, inclusive de combate ao crime organizado, o que a deixa sem dormir é a violência contra mulher. E não é para menos. Em 2022 o Brasil bateu recorde de feminicídios, com uma mulher morta a cada 6 horas.
O número de vítimas cresceu 5% no último ano, segundo levantamento do Monitor da Violência. Ao todo, foram 1,4 mil mortes motivadas pelo gênero. O aumento do número de casos vai na contramão dos assassinatos em geral, que tiveram queda de 1% em 2022.
“Para mim, falar sobre violência psicológica é virar a chave. Infelizmente esse tipo de violência ainda é muito pouco identificada, é banalizada e nós precisamos mudar isso. Trabalhar com violência psicológica é ir muito além das leis, é ler a pessoa, é escutar a vítima, pois a violência psicológica está na sutileza e não nos grandes atos do agressor”, ressalta a palestrante.
Em 2022, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 8.390 casos de violência psicológica contra mulher e 27.722 casos de stalking (perseguição), novos tipos de crimes contra a mulher, que juntos com agressões, ameaças e mortes têm feito crescer de forma exponencial a violência contra o gênero feminino no país.
As promotoras de Justiça do MPMT, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria e Gileade Pereira Souza Maia, que atuaram como debatedoras no painel, agradeceram a exposição da palestra e ressaltaram a importância de debater a temática violência de gênero, mantendo-a sempre em pauta.
“Nosso papel é atender, acolher e proteger as vítimas. Não é nossa função tomar decisões pela vítima, oferecer falsa segurança, minimizar o problema, realizar intervenções prematuras e jamais, jamais esquecer que a vítima de violência não tem culpa”, finalizou a palestrante.