A figura da mãe é extremamente marcada na vida dos seres humanos. O ‘ideal’ maternal, sem qualquer filtro, é da mulher que se sacrifica pelos filhos, filhas e toda a família. O nome ‘mãe’ ecoa, e, a doçura, a leveza, a compreensão, dentre tantos sentimentos positivos adentram o imaginário, como se essas fossem absolutas obrigações delas. Seriam todas as mães colocadas em formas a seguir determinadas condições?

Em tempos de outrora, a figura da ‘matriarca’ habitava as famílias, como forma afirmativa de dizer que as mães ficavam incumbidas de ajudar a buscar a felicidade dos seus, com a falácia de que elas ‘mandavam’. Na verdade, essa era apenas uma forma de as encher de responsabilidades afirmando que exerciam certo ‘poder’.

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Sim, as mães tinham a finalidade de serem incansáveis, e, ainda, deveriam trazer um belo sorriso a alegrar os dias daqueles e daquelas que com ela conviviam. E se algo não saísse conforme o esperado, elas eram as culpadas incondicionalmente. A filha não efetuou um casamento conforme ‘desejado’, cadê a mãe? Cuidar com quem os filhos convolariam as núpcias, para uma boa ‘escolha’, também não fugia ao controle delas. Até culpadas pelo cometimento de crimes de suas ‘crias’ elas eram. E com o passar do tempo, as mães passaram a acumular o dever de ‘super mulher’ mesclando trabalho doméstico e fora de casa a serem desenvolvidos com maestria.

O ‘ser mulher’ abarca a todas as mulheres. A visão feminista da maternidade deve ser a realidade atual. Não se destaca a mulher da mãe. E aí, o pensamento sobre todas é o mais importante. Existem sim: mães que laboram fora; mães que  ficam em casa; mães mais preocupadas ou não; mães que querem parto normal e outras cesarianas; mães que passaram por violência obstétrica; mães vítimas de violência; mães de pessoas em situação prisional; mães de muitos filhos e filhas; mães de um rebento somente; mães cujo trabalho fora de casa é imenso, outras nem tanto; mães que estudam eternamente; mães que possuem um par amoroso ou não; mães alegres ou tristes; mães que saem com as amigas e amigos; mães mais reclusas em casa; mães na política… Nossa, quantas mães! Na verdade, quantas mulheres em suas faces.

Com tantas mães e mulheres, como pensar em uma forma de bolo a colocar mulheres, e as rechear de obrigações e responsabilidades que as aprisionam? Não, não há como. A maternidade atual não segue padrões, sendo exercida sem submissões ou comparações. O feminismo tem se debruçado em torno da maternidade para que o patriarcado não continue a rondar. Não é possível idealizar o ‘ser mulher’ maternal. Assim como qualquer mulher, as mães necessitam de liberdade. Elas podem escolher ser quem quiserem ser, a mãe ou a mulher que almejam, e não aquela construída pela história em laboratórios formados pelo machismo estrutural.

O mundo ouve que ‘ser mãe’ é exercer a possibilidade de conhecer o verdadeiro amor. E as mulheres que optaram por não desempenhar a maternidade, não conhecerão o amor? Ser mãe não é um dever, uma obrigação, mas, sim, um direito. Respeitar como cada mulher deseja ou não exercer esse direito, é entender que ela não escolheu um ‘fardo’, mas, sim, uma das faces das mulheres.

Maternar é emancipador às mulheres! Querer ou não. Ser mãe raiz ou Nutella, como se diz na atualidade. É exercer a política, já que a maternidade também o é. E o que é ser mãe? Como é ser mãe? Como deve uma mãe se portar com a escolha?

É preciso entender que os corpos das mães não são públicos e à disposição da sociedade. Ser mãe é também ser mulher. É proporcionar educação libertadora para a prole. É romper com a maternidade patriarcal. É viver livre, aberta ao mundo e às pessoas como qualquer ser humano. É conviver sem imposição. É não buscar satisfazer a um ideal maternal que inexiste. É criar filhos, filhas e filhes com a certeza de que o respeito deve permear essa relação, sem qualquer possibilidade de se realizar em pessoas.

 

*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS      é defensora pública do Estado de Mato Grosso.

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