O termo mãe solo vem ganhando popularidade e, cada vez mais, substituindo o “mãe solteira”. Isso se deve pela carga negativa que a segunda expressão traz consigo, como se faltasse algo. Ser mãe não é sinônimo de estar em um relacionamento estável. Além disso, uma família composta apenas pelos filhos e pela mãe é tão completa quanto qualquer outra.
Com objetivo de aproximar mais as pessoas sobre o tema, de criar uma rede de apoio entre as mulheres que estão nessa situação e de mostrar as verdadeiras dificuldades de criar um filho sozinho, a Thaiz Leão, mãe do Vicente, idealizou o projeto “A mãe solo”. A página já conta com mais de 90 mil curtidas, desmistificando, diariamente, o conceito de mãe solteira.
O aumento de mãe solos
O número de crianças criadas em um lar monoparental, ou seja, que moram apenas com a mãe ou com o pai, vêm crescendo. Isso se deve a diversos motivos. Entre eles o aumento de divórcios, a adoção, o abandono e a viuvez.
Contudo, apesar de todos esses aspectos poderem afetar tanto o pai como a mãe, segundo o IBGE, entre 2005 e 2015, o país ganhou 1,1 milhão de famílias compostas por mães solos. Nesse último ano da pesquisa, enquanto os pais solos representavam apenas 3,6% das famílias com filhos, o número das mães foi bem mais significativo, com 26,8%.
Andrea Zoli é uma das mães que compõe esse número. Grávida aos 23 anos de um namoro que não deu certo, ela se encontrou em uma situação na qual deveria criar seu filho sozinha. “A dificuldade em fazer tudo sozinha começa já na gravidez”, afirma.
No entanto, a maior dificuldade para Andrea é educar o filho. Pois o cuidar, como levar para escola, dar banho, ajudar nas tarefas, entre outras atividades, virou rotina. Porém, “a parte de ensinar o que é certo e errado, responder os ‘porquês’ e ser firme enquanto ele vai crescendo” já se torna uma dificuldade maior quando não se pode contar com “uma segunda pessoa que deveria ser tão responsável por ele quanto você”.
Segundo ela, o pai de seu filho, Vinicius, que hoje tem 10 anos, nunca foi presente. Assim, a chegada da criança não modificou a rotina dele. “Não tive nenhum apoio do pai. E, para piorar o sentimento, a vida dele continuava normal, como se o filho não existisse. Apenas a minha vida estava se modificando”.
O peso de ser mãe solo
Ainda é muito comum o peso da criação dos filhos recair quase que inteiramente nos ombros das mulheres. Eduardo de Oliveira Leite, pós-doutor em Direito da Família pela Universidade “Jean Moulin “, afirma em seu livro “Famílias monoparentais: a situação jurídica de pais e mães solteiros, de pais mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal” que a crença em relação à maternidade, que a mulher nasceu com um dom de cuidado inato, portanto a criança e o adolescente devem viver e serem cuidados por ela, ainda é muito forte no imaginário social.
A sociedade brasileira é profundamente marcada por um modelo patriarcal de família, apesar da constante desconstrução do conceito família nas últimas décadas. Dessa maneira, o homem muitas vezes é visto como o provedor e a autoridade máxima, enquanto a mulher é responsável pelos cuidados do lar e dos filhos.
Sendo assim, em situações de divórcio, geralmente a guarda vai para a mãe. Isso é um fator que contribuiu muito para o aumento significativo de famílias compostas por mãe solos. Esse é o caso da Ana Maria Delbin, que arcou com a criação do seu filho, Jorge Luiz, quando ele tinha sete anos. Segundo ela, a parte mais difícil de se tornar uma mãe solo foi não se apavorar e “recobrar as forças para os próximos passos”.
Reconhecimento constitucional
A família monoparental é reconhecida pelo Estado brasileiro. O artigo 226 da Constituição Federal Brasileira de 1988, afirma: “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Sendo assim, qualquer família composta por pai ou mãe solo possui os direitos familiares assegurados pelo Estado.