Perda de receita, desestímulo no campo e risco de ter a credibilidade no mercado internacional prejudicada. Estas podem ser as consequências para o agronegócio mato-grossense, caso vá adiante a proposta de limitar a 50% da produção de algumas commodities, o volume máximo destinado às exportações. A afirmação é do Imea, que analisou os impactos que pode ser causados pelo PL 349/2020.

A análise mostra que o projeto de lei atingiria principalmente as vendas de soja, milho, algodão e farelo de soja. Hoje, os embarques internacionais representam entre 60% e 70% do destino destes produtos. Segundo o Imea, além da perda de receita, a restrição poderia gerar outros reflexos negativos nas relações comerciais.

“Os impactos são imensuráveis porque tem uma questão quantitativa. Mas vamos dizer assim, 10% da produção de soja de Mato Grosso ficam sem destino, e esse é o primeiro impacto. Se 60% são exportados e 40% ficam no mercado interno – que já estava ocupando a sua capacidade ‘full’ – a gente tem 10% ou mais, dependendo do que vai acontecer com a indústria brasileira nos próximos meses, que vão ficar sem destino”, explica Daniel Latorraca, superintendente do Imea. O raciocínio se aplica para a cultura do algodão. O mercado interno teria que absorver mais 15% da produção que sai dos campos de Mato Grosso e que não poderiam mais ser exportados.

Ele comenta ainda que esse ainda não seria o maior dos problemas: “O grande impacto, na verdade, é a quebra de confiança numa relação comercial. Por exemplo, se a gente está mandando para a China 12 milhões de toneladas (de soja) todos os anos e de repente podemos mandar 10 ou 8 milhões por causa de uma lei que me restringe, isso é um impacto sem precedentes”, alerta.

O estudo relembra que o mercado externo é o destino de pouco mais de 24% da carne bovina produzida em Mato Grosso. Representa apenas 5% das vendas das carnes de aves e 4% das de carne suína. Aliás, segundo o Imea, esta grande dependência do mercado interno, contribuiu para a queda de 30% do preço pago aos suinocultores do estado desde o início do ano. O exemplo reforça a preocupação com os efeitos da pandemia de Covid-19 na demanda por commodities dentro do país.

“O cenário atual é completamente o contrário do que está na justificativa da lei, que aponta um risco de potencial desabastecimento. Não! Na verdade o desafio de Mato Grosso para este ano e para os próximos é para onde endereçar a sua grande produção, já que a gente gera um grande excedente aqui por todos os produtos que a gente comercializa aqui no estado. Então, na verdade, as exportações deveriam ser fomentadas”, resume Latorraca.

No ano passado, as exportações do agro mato-grossense movimentaram mais de US$16,84 bilhões. Desempenho que reforça o papel de peso que o setor exerce na economia do estado, segundo o superintendente do Imea.

“A gente sabe que aqui é um pouco diferente da economia brasileira né, o agronegócio representa um pouco mais do PIB aqui no estado. E se eu pegar os itens de de PIB, se eu considerar o movimento de cada um deles, o que deve acontecer este ano é que o consumo das famílias deve cair, assim como os investimentos. Então o que vai segurar ou seja fazer com que Mato Grosso não caia tanto como o Brasil, é a balança comercial. De alguma maneira, um terço do nosso PIB é o saldo da balança comercial, é dolarizado, é uma proteção para a economia de Mato Grosso. Então, se de alguma maneira eu limito esse número, consequentemente eu estou reduzindo inclusive o PIB no final do dia. Aí, diminui ainda mais o emprego, a renda, aumenta a ociosidade e diminui o apetite e a confiança da iniciativa privada no estado”, conclui.