A relação entre o Vasco e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, está em crise. O motivo principal é o Maracanã. Desde a chegada da 777 Partners, empresa norte-americana que comprou a SAF vascaína, o clube tem interesse em participar da licitação do estádio, atualmente administrado por Flamengo e Fluminense. Porém, um vídeo de Castro no domingo caiu muito mal em São Januário.

– Fomos surpreendidos ontem (domingo) com as infelizes declarações do governador com respeito à licitação do Maracanã. Mas um ponto foi importante: ele disse que o Maracanã vai ser administrado por clubes de futebol. O Vasco é um clube de futebol. Saibam que iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que, quando as regras forem publicadas, o Vasco consiga entregar a melhor proposta possível – disse Luiz Mello, CEO do Vasco.

A 777 também se manifestou de forma oficial. Juan Arciniegas, diretor geral e chefe de esportes, mídia e entretenimento da empresa, afirmou que “o compromisso é transformar este ícone global esportivo em uma das melhores arenas no mundo”.

O capítulo mais recente da desavença começou na sexta-feira, quando o colunista Lauro Jardim publicou no jornal “O Globo” relato sobre uma reunião entre o governador e o Vasco. Segundo a nota, quando perguntado sobre garantias de que a concorrência seria justa, Castro respondeu: “Isso aqui é Brasil, ninguém pode te dar qualquer garantia”.

Participaram da reunião o CEO Luiz Mello, o diretor-geral da 777, Juan Arciniegas e o 1º VP Geral Carlos Roberto Osório. O secretário da Casa Civil, Nicola Miccione, também esteve presente. O Vasco na ocasião registrou o encontro em seu site oficial com o título: “Governador promete processo justo na concessão do Maracanã”.

No domingo, dois dias após a publicação da nota de Lauro Jardim, Cláudio Castro publicou um vídeo em seu Instagram que caiu como uma bomba em São Januário. Segundo ele, quando respondeu que não poderia dar garantias, referiu-se apenas à data da publicação da licitação.

No vídeo, Cláudio Castro ataca dirigentes presentes à reunião e se refere à holding americana como “esse tal fundo 777”. O governador revela ainda sua preferência de que o Maracanã seja administrado por clubes.

– O Maracanã deve ser administrado por clubes de futebol e não simplesmente por empresas. A vocação do maior do mundo é para o futebol, e quem faz o espetáculo são os clubes. É dessa premissa que nasce a minha certeza de que o melhor para o Maracanã é ter clubes de futebol à frente de sua gestão – afirmou o governador.

No processo de licitação que acabou sendo suspenso em 2022, o Vasco (em parceria com a WTorre e a empresa norte-americana Legends) disputaria a concessão contra a dupla Flamengo e Fluminense, que atualmente administra o estádio. Um consórcio com os gestores do Mané Garrincha, em Brasília, também estava na disputa.

O Vasco se manifestou na noite desta segunda-feira sobre o comunicado do governador Cláudio Castro.

Luiz Mello divulgou um vídeo:

– Fomos surpreendidos ontem com as infelizes declarações do governador com respeito à licitação do Maracanã. Mas um ponto foi importante: ele disse que o Maracanã vai ser administrado por clubes de futebol. O Vasco é um clube de futebol. O Vasco é o primeiro time a ganhar um título no Maracanã. O Vasco ganhou muitos títulos, e essa torcida entende que o Maracanã também é a sua casa. Por essa razão, a gente fica feliz em cumprir com esse requisito. Eu quero tranquilizar a torcida vascaína. Saibam que iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que, quando as regras forem publicadas, o Vasco consiga entregar a melhor proposta possível. O melhor produto possível para que a gente consiga administrar o Maracanã junto aos nossos parceiros.

Carlos Roberto Osório, citado nominalmente no vídeo, compartilhou a seguinte nota:

“Com relação à nota publicada na sexta-feira na coluna de Lauro Jardim, eu gostaria de esclarecer que estive presente na reunião do Vasco com o Governador Claudio Castro no último dia 12/12/22. Acho importante contextualizar a situação. O tema principal da reunião era a Concessão do Maracanã. O Governador falava sobre a dificuldade dos ritos do sistema público brasileiro e por isso afirmou não poder dar garantias de datas para a conclusão da licitação, que foi suspensa pelo TCE”.

Juan Arciniegas, diretor geral e chefe de esportes, mídia e entretenimento da 777 Partners, divulgou comunicado:

A 777 Partners decidiu investir no Brasil porque acredita no país e nas suas incontáveis oportunidades. Levamos ao Governo o projeto “Maracanã para Todos”, um consórcio formado por um gigante clube de futebol como o Vasco e as renomadas empresas Legends e WTorre, duas das maiores gestoras de arena no planeta.

Nosso compromisso é transformar este ícone global esportivo em uma das melhores arenas no mundo. Estamos confiantes de que nossa oferta é a melhor e que qualquer processo justo e objetivo chegará a esta mesma conclusão.

Reiteramos publicamente nosso pleito de que a licitação do Maracanã seja justa e transparente. E renovamos nossa promessa de tornar o estádio disponível para todos os clubes e seus torcedores.

Estamos prontos para trabalhar com o governador e sua equipe neste processo, desde que seja sempre de forma respeitosa e profissional.

O deputado estadual e vascaíno Chiquinho da Mangueira, presente na reunião e também citado pelo governador, disse o seguinte em contato com a reportagem:

“Essa notícia é uma total inverdade. Eu só fiquei sabendo disso tudo hoje, estava viajando no feriado. Mas a única coisa que o governador Cláudio Castro disse foi: ‘Eu não posso garantir prazo porque aqui as leis do Brasil são diferentes. Os Tribunais de Contas do Estado são independentes, temos que esperar. Na hora que eles liberarem, vamos licitar em uma semana no máximo’. E disse mais: ‘Fiquem despreocupados quanto à lisura do processo e jamais deixarei prejudicarem o Vasco’. Ele ainda foi mais além. Disse: “Ora, se o Vasco perder, farei de tudo para tentar um acordo para o Vasco poder jogar no Maracanã’.”

Como está o processo de licitação?

Em novembro do ano passado, o Governo do Rio de Janeiro adiou a licitação do Maracanã e renovou por seis meses a concessão a Flamengo e Fluminense, que agora tem contrato de administração do estádio até abril. Na ocasião, o Vasco havia encaminhado dois pedidos para gerir a arena provisoriamente e ficou sem resposta.

O processo foi paralisado pelo Tribunal de Contas do Estado, que executou uma avaliação técnica e pontuou diversos trechos que precisariam ser modificados. O TCE, então, determinou que a licitação fosse refeita. Essa nova licitação está em fase de elaboração na Casa Civil do Estado. Não há data para o recomeço do processo. (GE)