Leila Pereira resgatou memórias da infância ao representar o Palmeiras em reunião pela primeira vez. Era início de 2022, pouco após a eleição, e a presidente do Verdão, criada como filha única entre três irmãos no interior do Rio de Janeiro, abriu as portas da Federação Paulista para uma sala tomada por homens.
– Eu me senti em casa. Tanto que o presidente da Federação falou: “Leila, parece que você está aqui desde que nasceu” – contou a dirigente, abrindo um sorriso leve, durante entrevista ao quadro Abre Aspas do ge.
Calçando sapatos Chanel e um blazer rosa texturizado, a presidente – única mulher a dirigir um clube entre as três principais divisões do Brasil – domina os espaços que entra. Enquanto ajusta o caimento da roupa, ela confere a própria imagem na câmera, pergunta sobre o enquadramento e confessa, aos risos, que se arrumou para a entrevista que viria pela frente.
– Jamais imaginei que chegaria aonde cheguei, com essa visibilidade. Inclusive porque, por incrível que pareça, eu era extremamente tímida. Hoje, eu nem sei mais o que é isso, ser tímida.
Na Sala Mundial, da Academia de Futebol, Leila Pereira conversou por 1h20 sobre a própria vida no futebol. Negou ter temperamento forte (“eu sei o que quero”), explicou mudanças de posicionamento e a defesa às mulheres na CBF. Comentou os atritos com John Textor, Júlio Casares e Rodolfo Landim e respondeu sobre planos de suas empresas para Barueri, os aviões e investimentos futuros no futebol.
Também se manifestou sobre possíveis conflitos de interesses, a relação com torcidas organizadas, a (ausência de) participação de seu marido no dia a dia do clube e até o que faz nos momentos de lazer.
Sonhando com a reeleição no Palmeiras ao fim desta temporada, Leila diz ter encontrado no futebol o seu lugar no mundo:
– Eu ouço toda hora. “O que ela está fazendo aí? Ela não entende de futebol”. Você imagina se eu entendesse. Em dois anos e alguns meses de mandato, eu tenho sete títulos. Sete – reforça, mostrando o número com os dedos das mãos.
Ficha técnica:
- Nome completo: Leila Mejdalani Pereira
- Nascimento: 11 de novembro de 1964, em Cambuci (RJ)
- Profissão: cursou Jornalismo e Direito, e é dona da financeira Crefisa e do Centro Universitário das Américas (FAM);
- Títulos como presidente do Palmeiras: Recopa Sul-Americana (2022), Campeonato Paulista (2022, 2023 e 2024), Campeonato Brasileiro (2022 e 2023) e Supercopa do Brasil (2023).
Abre Aspas para Leila Pereira:
Você acredita que a passagem pela seleção brasileira como chefe de delegação e seus posicionamentos na CBF, como sobre os casos de Robinho e Daniel Alves, a fizeram furar a “bolha” do Palmeiras e até do futebol?
– Eu entendo que furei a bolha já tem tempo. Eu furei a bolha a partir do momento que fui eleita a primeira presidente mulher do Palmeiras, em cento e tantos anos, foi uma coisa muito diferente. Um clube tido como machista, de origem italiana, eu ser eleita não tendo nenhum parentesco com italiano, meu nome é Leila Pereira, eu sou uma carioca, eu falo Palmeiras (com ênfase no S). E as pessoas no Palmeiras entenderam que eu seria a melhor pessoa para administrar aquele clube gigante. Aí eu acho que comecei a furar essa bolha.
– Quando eu tive essa oportunidade, essa confiança dos associados do Palmeiras de presidir esse clube gigante, pensei comigo: o meu objetivo primeiro, sempre, é trabalhar em prol do Palmeiras, fazer o Palmeiras cada vez mais vencedor. Mas eu posso, com essa visibilidade que o Palmeiras dá para qualquer dirigente, aproveitar o fato de eu ser a primeira mulher, preciso me posicionar não só em relação ao meu clube, mas em vários assuntos, como futebol em geral, o posicionamento das mulheres no futebol.
– Eu vi essa oportunidade que não poderia deixar passar em hipótese alguma. E é óbvio, com toda essa visibilidade que o Palmeiras me proporciona, com todos esses títulos conquistados, porque isso me dá uma visibilidade muito maior, positiva, eu aproveito para entrar em temas extremamente relevantes, como foi esse meu posicionamento como chefe de delegação da seleção brasileira. Aliás, também fui a primeira, não é? Na história da seleção brasileira masculina, eu fui a primeira chefe de delegação.
Em qual momento percebeu a oportunidade ou necessidade de fazer estes posicionamentos?
– Na minha vida eu nunca fiz planejamento, sabe? Sempre trabalhei muito, sempre fui uma pessoa muito obstinada naquilo que naquele momento seria importante para mim. Vamos retroceder um pouco na minha infância em Cabo Frio, que é uma cidade no interior do estado do Rio, lindíssima, eu fui criada nessa cidade, e jamais imaginei que chegaria aonde cheguei, com essa visibilidade, inclusive porque, por incrível que pareça, era extremamente tímida. Hoje eu nem sei mais o que é isso, ser tímida.
– Nunca fiz grandes planejamentos, mas quando a vida me dá oportunidades, eu não perco. Eu sei o que eu quero, aonde quero ir, mas não a longo prazo. Acho que a vida você faz, são momentos. E a vida me colocou aqui nessa posição, como presidente desse clube gigante, que eu trabalhei muito por isso. Nada caiu do céu, não existe sorte, existe trabalho. Só eu sei o que passei para chegar aonde eu cheguei. Então, as oportunidades vão me abrindo portas que eu vislumbro. “Poxa vida, eu posso colaborar com esse tema, eu posso colaborar com o meu gênero como mulher”.
Quando assumiu como presidente do Palmeiras, essa era uma causa que você pensava defender?
– Nunca na minha vida eu senti que deveria levantar qualquer bandeira feminista. Não! Calma, mas hoje eu levanto. Por quê? Eu sempre lutei tanto pelo que eu queria que, naquele dia a dia, você não consegue se dar conta de que está tendo muita dificuldade por ser mulher. Eu sempre lutei muito. Sou de uma família em que sou a única filha mulher. Eu tenho dois irmãos, então sempre vivi em meio masculino. Para mim, aquilo era normal, até piadas bobas que a gente, quando é mais jovem, ouve e não dá muita importância. Acho que, até numa certa ignorância do passado, a gente achava que aquilo era normal, por ser mulher eu tenho que aguentar. Não. Não! A mulher não tem que aguentar.
– As coisas mudaram muito. A gente vai amadurecendo, percebendo que não têm que ser daquele jeito, têm que ser do jeito que nós quisermos. Eu não tinha essa visão, por incrível que pareça, até eu entrar para o futebol.
E como era sua visão sobre isso em sua trajetória como empresária?
– Sempre trabalhei muito com meu marido. Eu sou a principal executiva de todas as empresas dele, e por ser casada com o acionista majoritário nunca tive grande dificuldade, porque a vida sempre foi mais fácil para mim, por ter como base o meu marido. Mas estou onde eu estou nas empresas dele, não tenho dúvida nenhuma, por capacidade. Claro, se a mulher dele é capaz, ele confia no trabalho da mulher dele. Então, nunca tive muita dificuldade por ser mulher. Aí eu entro nesse ambiente do futebol, que é completamente diferente do que eu estava acostumada.
– Apesar de ser um ambiente muito machista, masculino, o mercado financeiro tem muitas mulheres fantásticas também. No futebol, não. Sou só eu, sozinha. E fui eleita para esse cargo. Aí eu comecei a ver as dificuldades que eu tenho, até com relação aos meus posicionamentos.
– Se é um homem que se posiciona dessa forma, ele é corajoso, ele é valente, ele luta pelo seu clube. A mulher, não. A mulher é escandalosa, é histérica. Eu falei: não, não é assim. Então, por isso que eu bato muito forte, às vezes, em alguns posicionamentos. A mulher precisa se mostrar muito mais forte por ser mulher. Mas, pelo que eu vejo, eu estou me saindo bem.
Diante destes posicionamentos, hoje se vê como feminista?
– Não tenho dúvida alguma. Nenhuma. É um nível que eu cheguei de popularidade, hoje me tornei uma pessoa muito conhecida, até por ser a única mulher presidente de um clube na Série A e na Série B, que eu tenho a obrigação de me posicionar, obrigação de defender mais oportunidade para as mulheres. Nós não queremos privilégio, nós queremos as mesmas oportunidades. É por isso que a gente luta.
– E nas minhas empresas eu nunca tive essa preocupação, para mim era muito comum você dar a mesma oportunidade para homens e mulheres. Mas quando eu vejo no futebol, isso não é comum. Eu vejo aqui no Palmeiras a quantidade de mulheres que trabalham no nosso clube. São 20%. É muito pouco, gente. Nas minhas empresas, são 75%. Isso é uma curiosidade que eu tinha depois que me tornei dirigente de futebol nesse mundo masculino. Falei: quantas mulheres têm no nosso grupo de empresas? 75% são mulheres. E são mulheres em todos os cargos, de gestão, de diretoria, de gerência. Mas lá não é porque são mulheres, mas sim porque as oportunidades foram dadas de forma igualitária. Eu perguntei no Palmeiras, quantas mulheres nós temos aqui? Gente, 20%, é muito pouco.
– Eu falei: por favor, não dá. A presidente aqui é mulher, gente. É óbvio, eu sou uma mulher justa, nós temos homens fantásticos aqui no Palmeiras. Eu jamais vou tirar um rapaz que esteja trabalhando extremamente bem para colocar uma mulher porque é mulher. O que eu quero hoje, como presidente do Palmeiras, é que se dê oportunidades idênticas para homens e mulheres.
As mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil até os anos 1980. Uma árbitra uma vez me contou que quando erra dizem que é porque ela não sabia a regra, a crítica é diferente de quando é com um homem. O que foi mais difícil para você?
– Isso que essa árbitra falou, eu ouço toda hora. “O que ela está fazendo aí? Ela não entende de futebol”. Você imagina se eu entendesse. Em dois anos e alguns meses de mandato, eu tenho sete títulos. Sete. Imagina se eu entendesse. Essa mentalidade tem que mudar. Essa é a dificuldade que as mulheres têm. “O lugar de mulher não é no futebol”. É no futebol, sim. E eu comprovo isso.
– Eu não tenho dúvida nenhuma que hoje o Palmeiras, se não for o mais bem administrado… Como que eu digo mais bem administrado? Nós administramos profissionalmente, com transparência. Aqui no Palmeiras não tem nada obscuro, aqui é tudo transparente. Eu não admito, eu não permito. E é uma mulher que está administrando isso aqui. Eu não tenho dúvida que o Palmeiras é um dos clubes mais bem administrados da América do Sul. Não conheço a fundo os outros, mas eu imagino.
Este preconceito diminuiu com as conquistas de títulos?
– Eu acho que diminuiu um pouco. Hoje é muito difícil você criticar o Palmeiras. Por quê? Porque o Palmeiras é vitorioso, é equilibrado financeiramente, é administrado profissionalmente. Eu reconheço demais os profissionais que trabalham conosco. Eu não tenho dúvida que esse sucesso do Palmeiras é pela tranquilidade que a presidente passa para os seus profissionais, para os seus atletas. Eles se sentem seguros aqui. Por isso é difícil criticar o Palmeiras hoje. Então, quando querem criticar, aí vem com essa conversa: “Ela não é de futebol, ela não entende de futebol”. Não entendo de futebol, mas conquisto títulos, estou sempre brigando lá em cima, e nós vamos continuar assim.
– Acho que muitos clubes gostariam de ter uma mulher à frente, muitos torcedores gostariam, não é? Administrando da forma que nós administramos o Palmeiras. Hoje eu não tenho dúvida que o Palmeiras é um exemplo de administração para o futebol do Brasil e da América do Sul.
Torcedores criticam dirigentes, mas no seu caso há ataques claramente machistas, como quando a chamam de “bruxa feia”. Isto a afeta de que forma?
– Você só se ofende quem não se conhece. Eu não me acho feia (risos). Eu me acho jeitosinha. Estou brincando. É tão ridículo, sabe? E ainda mais de quem vem. Eu presto muita atenção e gosto de ouvir críticas, porque você só melhora quando tem uma visão global. Quando você ouve determinados posicionamentos que vão te fazer crescer, te fazer refletir.
– Você quer diminuir a pessoa chamando ela de feia? Quer dizer que eu posso ser competente, mas se sou feia eu não sirvo? Isso não existe. Eu não ligo. Para você ser dirigente de futebol, você tem que ter um atributo: coragem. Isso é o que não me falta. Eu não tenho medo de absolutamente nada, eu sei o que eu estou fazendo, eu sei aonde eu quero chegar, eu sei quem eu devo ouvir. Esse tipo de coisa eu deleto.
Com que frequência você usa as redes sociais?
– Eu tenho redes sociais, sou ativa em redes sociais, sempre publicando coisas relacionadas ao Palmeiras, nunca a minha vida pessoal. Eu gosto de ver, vejo outras redes também, mas não vejo mais essas redes que não vão preencher a minha alma. Isso foi um conselho que me deram: “Leila, para. Isso não vai acrescentar absolutamente nada”. Então, podem falar o que for, podem gritar o que for, entra por um ouvido, sai pelo outro. Mas eu tenho certeza absoluta que a maioria dos torcedores está muito orgulhosa com o trabalho do Palmeiras, com a administração do Palmeiras. E quando eu sair da presidência, vão sentir muita saudade da Leila Pereira.
Seus posicionamentos geram expectativas de mudanças dentro do próprio Palmeiras, e conselheiros propuseram uma emenda no estatuto por maior participação das mulheres na política. Você vai levar este tema adiante?
– Não há dificuldade absolutamente nenhuma para mulher ser candidata ao Conselho no Palmeiras, nenhuma. É só ela ser uma sócia titular. Vota no Palmeiras quem é titular do título, como todos os clubes. O que a oposição pleiteia é que não só o titular vote, como também o dependente. Isso não é possível. Isso é simples: se a pessoa quer ser titular, ela paga uma pequena taxa, se torna titular e ela vai poder votar. O que essas pessoas pleiteiam é essa inclusão do dependente votar, mas quem tem que votar é o titular.
– Se o dependente quer se tornar titular, paga uma pequena taxa e se torna titular. Mas aí tem um grande problema, que quando você se transforma em titular a mensalidade fica um pouco mais cara. A mensalidade do Palmeiras não é tão exorbitante, não é cara. Mas essas pessoas querem continuar sendo dependentes, pagando aquela mensalidade menor, mas ter o direito de votar. Aí não dá. Para ter o direito a votar, tem que ser titular. Se a mulher quer votar, ela se transforma em titular e vai ter os mesmos direitos de qualquer homem votar, ser votado, dependendo do tempo que é associado.
No Palmeiras, o diretor de futebol feminino Alberto Simão chegou a ser alvo de relatos de assédio moral contra jogadoras. Na época, o clube defendeu o dirigente e ele segue no cargo ainda hoje. Você acha que algo poderia ter sido diferente na condução do caso?
– Não, esse caso foi uma denúncia de ex-atletas, acho que foram duas atletas, que saíram do Palmeiras chateadas, porque não queriam sair, e fizeram essa denúncia contra o Alberto Simão. Nós apuramos e era totalmente improcedente. Temos que tomar muito, mas muito cuidado para que isso não se torne um oportunismo de pessoas que saem magoadas, que gostariam de continuar trabalhando e não estão mais aqui.
– Não podemos ser injustos. Nós apuramos, sim. Eu, como mulher, tenho todo o interesse, que seja o mais transparente possível esse tipo de apuração dessas denúncias, mas não posso ser injusta. E, nesse caso, apuramos sim e foi totalmente improcedente. Tanto é que o Alberto continua trabalhando conosco.
E voltando à sua passagem como chefa de delegação na CBF, em que momento você entendeu que precisava se posicionar sobre Daniel Alves e Robinho?
– Como vocês sabem, eu estava como chefe de delegação pela primeira vez, fui convidada e esse assunto surgiu e ninguém falava. Ninguém falava absolutamente nada. Eu não me posicionei espontaneamente, fui perguntada por um jornalista qual seria a minha posição, por isso eu me manifestei. Eu me manifestei até meio constrangida. Perguntaram para mim e ninguém tinha se manifestado. Aí eu falei aquilo, eu falei, juro, de coração. Eu não esperava que me perguntasse naquele momento, sabe? Inclusive o jornalista até falou: “Leila, podemos publicar?” Eu falei: “Claro que sim, em off, não”. Pode dizer que eu que falei, e que realmente é um absurdo.
– É um absurdo a legislação, porque as autoridades que autorizaram o pagamento da fiança, autorizaram aquele valor para ele (Daniel Alves) sair. Então, como que faz? Eu fiquei muito revoltada, e realmente é um tapa na cara de cada uma de nós. Enquanto não houver punição exemplar, essas aberrações vão continuar. Aquilo que falei do fundo do coração, eu não achei que fosse dar uma repercussão tão grande porque era óbvio o que eu estava falando.
– Uma pessoa já condenada e que está solta. Por quê? Pagou. Então, para estuprar, você paga. A mulher tem um preço para ser estuprada. Você paga e é solto, não acontece absolutamente nada. Aquilo é revoltante.
– A gente se torna até impotente. O que nós podemos fazer? Falar, falar, falar, denunciar. É isso que eu peço para as mulheres, porque a Leila sozinha não vai resolver o problema. Mas todas nós juntas podemos, sim, resolver. Como? Denunciando. Porque a coisa que o agressor, que o assediador mais odeia é o escândalo, eles gostam de agir na penumbra, sabe? Então todas nós devemos denunciar. E aí as autoridades precisam tomar uma providência para colocar esses condenados realmente na cadeia, que eles paguem não financeiramente, paguem presos.
Presidente, pouquíssimos jogadores falaram publicamente sobre esse assunto. Por outro lado, há poucos dias, jogadoras de vários fizeram um protesto contra a contratação do técnico Kleiton Lima pelo time feminino do Santos, após 19 denúncias contra ele. Por que praticamente só as mulheres se posicionam e não os homens ainda?
– Por que vocês não perguntam para os homens? Eu me manifestei porque um jornalista me perguntou. É muito importante também… A imprensa tem um papel fundamental. Nós, mulheres, temos vozes, mas quem repercute as nossas vozes é a imprensa.
A senhora vê, por exemplo, a possibilidade de um protesto desse dos homens contra um colega que é condenado?
– Deveria ter, não tenho dúvida nenhuma. Eu recebi nas minhas manifestações a respeito desse problema do Daniel Alves e até do Robinho muitos elogios de mulheres, mas também de homens. Mas agora ele pegar o microfone e falar, eu não sei o porquê que eles são mais reprimidos, entende? Mas a mim, vários homens (falaram). Por quê? O homem tem filha, tem irmã, tem esposa, tem mãe, todo mundo tem uma mulher importante dentro de casa, sabe?
– Então, eu acho que é uma questão até cultural. Que o homem é corporativista, mas não que ele ache, que aquela ação está correta do assediador. Mas ele precisa de mais estímulos para que ele abra a boca e fale: “Gente, isso é um absurdo, isso não pode acontecer”. Tem que aprender com as mulheres. Aliás, os homens têm que aprender muitas coisas com as mulheres.
Depois desse seu posicionamento, de que forma o comportamento das pessoas mudou ao seu redor? O que você percebeu logo depois disso?
– Quando eu estava lá na Seleção e me manifestei, ninguém me falou absolutamente nada. Nada. É uma coisa estranha, sabe? Falava em off comigo: “Leila, parabéns. Leila, você é corajosa”. Eu falei: “Gente, corajosa porque eu falava a verdade?”. Tanto que as pessoas falam para mim: “Leila, você tem posições fortes”. Eu não tenho posição forte. Eu falo a verdade. Sabe o que acontece? É que no futebol é tão difícil você encontrar pessoas que falem o simples, a verdade.
Por que, presidente?
– Porque o ambiente do futebol não permite, eu não sei. Aliás, é por isso que vários clubes estão numa situação catastrófica. Por quê? Porque não se pensa na continuidade do trabalho, não se pensa que depois de mim vão ter outros dirigentes. Eu não quero resolver o meu problema aqui no Palmeiras. Eu quero que o Palmeiras continue protagonista, continue vencedor. E eu acho que dirigentes pensam naquele mandato. Eu quero resolver o meu, então se eu quebrar o clube, endividar o clube, mas conquistar algum título, é isso que me interessa. Acho que é essa a visão. Tem que mudar muita coisa, viu?
– Se você quer cometer qualquer irregularidade dentro do futebol, não acontece nada. Vocês conhecem algum dirigente de futebol preso? Eu não conheço. Por causa de delitos no futebol? Não existe. Então, enquanto for essa festa, sabe, vai continuar assim.
– Quem sofre? É o torcedor, que se esforça para ir aos estádios, que investe comprando camisa, viaja para ver seu clube, e o dirigente não tem responsabilidade absolutamente nenhuma. Isso não acontece aqui no Palmeiras, porque se acontecesse eu não seria presidente do Palmeiras. Eu teria vergonha de entrar aqui e cobrar alguma coisa do meu jogador, do meu atleta, com quatro, cinco meses de salário atrasado, com um mês de salário atrasado.
– Isso é uma vergonha. E é comum nos clubes. Aquele negócio: eu finjo que eu recebo, ele finge que me paga e fica essa bagunça. Os clubes se endividando de uma forma absurda, continuam contratando, não pagam ninguém e disputando igualdade de condição comigo, que pago os salários em dia, que não comprometo o Palmeiras fazendo contratações que eu não possa arcar com os custos. Isso é desigualdade, não pode. Essas são as questões. Enquanto nós não resolvermos essa bagunça de compra, não paga, aí vai ser executado em milhões, continuam não pagando e contratando. E ninguém faz absolutamente nada.
– Eu trabalho aqui dentro do Palmeiras. Por isso que eu digo, o Palmeiras é exemplo de administração. Por que o Palmeiras é tão protagonista? Por que o Palmeiras é tão vitorioso? Por que as pessoas querem vir trabalhar no Palmeiras? Por que que sai um atleta lá da Europa para vir jogar no Brasil?
Mas eu digo trabalhar para melhorar o futebol brasileiro, além do Palmeiras. É uma ambição que a você tem? Seja na CBF, numa federação, liga…
– Não, a minha ambição é continuar trabalhando aqui, como vocês sabem, eu sou candidata à reeleição no final do ano. Se o associado continuar confiando no meu trabalho, eu gostaria de ficar mais três anos. Eu gostaria de ficar seis anos como presidente, e terminado esses seis anos, eu vou continuar nos bastidores, ajudando o meu grupo dentro do clube. Não é possível que outros clubes não queiram estar no nível que o Palmeiras está. Então, que o Palmeiras continue servindo de modelo.
– Quando você me pergunta se eu quero ter algum cargo na CBF, não. Eu acho que, por exemplo, fair play financeiro, que é isso que eu acho que resolveria esse problema desses clubes que se endividam de uma forma irresponsável. É só com fair play financeiro. Isso eu acho que só com uma canetada da CBF, entendeu? Ou um projeto de lei, aprovado no Congresso, que obrigue a esse fair play financeiro. Se for depender dos clubes, isso não vai sair nunca.
Nunca pensou em ser presidente da CBF?
– Não. Nunca. Eu gosto de clube. Eu gosto do dia-a-dia do clube. Eu gosto… Não, nunca. Nunca. Mas também, meu caro, eu nunca pensei em ser presidente do Palmeiras (risos). Eu sou uma metamorfose ambulante, entendeu? Mas eu não penso nisso, não. Eu penso em continuar aqui administrando o Palmeiras e ajudando os meus parceiros aqui dentro numa próxima gestão.
Você fala que uma solução seria a CBF dar uma canetada, especificamente nesse assunto. Em outros temas, tem muita gente que defende que a criação de uma Liga ajudaria. A senhora ainda acredita que é possível a Libra acontecer ou uma outra liga?
– Eu acredito sim, mas vou ser muito sincera, não a curto prazo. Porque nós tentamos muito, muito. E aí a nossa Liga se transformou em blocos comerciais. Eu faço parte da Libra, como vocês sabem, nós fechamos um acordo de direitos de transmissão com a TV Globo e tem a outra, a Liga Forte União, que eu não sei com quem estão negociando, não tenho conhecimento.
– Então, a curto prazo, eu não acredito. Para não ficar aguardando os clubes se entenderem para formar essa tão sonhada Liga e para resolver a curto prazo, seria a CBF determinar que, se você não paga em dia seus compromissos, você não pode sair contratando e endividando ainda mais o seu clube.
A gente viu a celebração do contrato de transmissões para o próximo ano. Você era a única mulher na foto e, curiosamente, estava ao lado do Casares, presidente do São Paulo. Como está essa relação depois do que aconteceu naquele Palmeiras x São Paulo?
– Eu conheço o Julio há muito tempo, antes de ele ser presidente do São Paulo, antes de eu ser presidente do Palmeiras, e sempre tive um ótimo relacionamento com ele. E com relação ao que ocorreu nesse episódio lá do Morumbi, eu fiquei muito chateada, achei que foi uma falta de respeito e, principalmente, nós lutamos tanto contra a violência no futebol, que nós, dirigentes, a gente não pode comentar esse tipo de… Aquilo foi uma violência que fizeram com o meu treinador, com os árbitros. Aquilo é inadmissível.
– Depois daquilo, nós conversamos, fomos à Federação Paulista e eu deixei aquilo para o passado. Mas nós ficamos bem chateadas, eu fiquei muito decepcionada. Porque eu acho que aquilo não é postura de um dirigente. Ainda mais quando você está recebendo na sua casa, você tem que tratar bem os seus convidados. Então, nós ficamos muito decepcionados. Essa é a palavra. Mas vida que segue.
E o Textor? Ele estava engajado no começo da Libra com vocês, acabou saindo e agora há problemas, inclusive, na esfera judicial.
– Esse senhor tem falado do Palmeiras desde que nós conquistamos o título brasileiro. E ele continuou falando. Nós entramos com o processo na esfera civil e pedimos a instauração de inquérito policial para apurar essas denúncias. Ele diz que tem provas, mas não apresenta provas absolutamente nenhuma. Esse é mais um caso que as autoridades brasileiras precisam tomar um posicionamento muito firme. O que o senhor está dizendo é que o Brasil não é um país sério, não é?
– Ele tinha que ser banido do futebol brasileiro, porque ele não pode desrespeitar as autoridades e os clubes sem prova absolutamente nenhuma.
É possível ver um dia uma união dos clubes? Palmeiras e Corinthians sentando juntos e decidindo para os dois, ou Palmeiras e Flamengo? Por que isso ainda não acontece?
– Eu, como presidente do Palmeiras, sento com qualquer presidente de clube. Nesse acordo que nós fizemos de direitos de transmissão, o grupo da Libra sentou, e o Palmeiras abriu mão de receita, o Flamengo abriu mão. Então, houve conversa, sim, do nosso lado, do lado da Libra. E eu achei que foi muito produtivo, que esse é o caminho. Todo mundo desarmado, foi um ambiente muito produtivo. Eu tenho esperança, sim, mas não a curto prazo. Para montar uma liga eu preciso de todos os clubes, não uma parte aqui, outra parte ali, é inviável. Mas vamos trabalhando dia a dia, vamos evoluindo.
– Muito boa. Para que as pessoas evoluam, precisa ter atrito, porque é impossível pensar da mesma forma que o Flamengo, que o São Paulo, que o Corinthians, mas todos com bom senso e lutando pelo melhor para o futebol, para o espetáculo. Tem atritos, mas a gente resolve entre nós. Todos os atritos foram resolvidos. Nós fizemos semana passada um almoço de celebração do nosso acordo de transmissão, e acho que ficou todo mundo muito feliz.
[Nota da redação: os dirigentes tiveram uma nova rusga na última sexta, quando Leila rebateu Landim sobre o sintético do Allianz Parque: “Ganhamos Libertadores e Supercopa em grama natural”]
Ouvimos que seus pares estavam te chamando de rainha até nesse evento da Libra. Como foi para ganhar a confiança dos outros dirigentes? No primeiro momento foi difícil ser a única mulher numa sala com 20, 30 homens?
– A primeira reunião que eu fiz como presidente do Palmeiras foi na Federação Paulista, com os presidentes dos clubes aqui de São Paulo e eu, a única mulher. Eu me senti em casa. Tanto que o presidente da federação falou: “Leila, parece que você está aqui desde que nasceu”. Eu me sentia em casa, sabe? Eu não me senti diminuída por ser mulher. Eu acho que é também pelo meu temperamento. Não tenho um temperamento forte, eu sei o que eu quero. O meu enteado me chama de tia e fala: “Tia, você não é mulher, você é um homem”. Eu não sou um homem. Eu sou mulher.
Durante este processo na Libra, você teve posicionamentos em alguns momentos até críticos…
– Eu me sinto como fazendo parte de todo aquele processo, sabe? E lá na Libra, a mesma coisa, tanto que eu me posicionei de uma forma muito forte, muito clara. Eu sou uma pessoa que eu detesto reunião muito longa. Eu não suporto. Chega num ponto que você nem sabe mais o que está fazendo ali. E não se decide absolutamente nada. E na Libra, eu me posicionava dessa forma.
– Falei, eu não vou ficar aqui duas, três horas, conversando, conversando, conversando, para não chegar a lugar nenhum. Não dá. Tanto é que na última reunião, que nós estávamos com propostas com relação aos direitos de transmissão, aí começaram a fazer aquelas apresentações imensas com o PowerPoint. Eu falei: “Gente, pode parar”. Isso não é querer ser prepotente, é querer ser direta. É um respeito que eu tenho pelos outros. Eu não vou ficar três horas conversando, já sabendo o que quero. Você sabe o que você quer? Começa de trás para frente, começa no fim.
Como é sua postura à frente do Palmeiras?
– Aqui no Palmeiras não é assim. Como aqui eu sou a presidente, quem determina as regras aqui sou eu. Porque o presidente do Palmeiras tem muito poder. Por um lado é bom e por um lado não é bom. Porque se tem uma pessoa que entra aqui, é correta, quer fazer o que é melhor para o Palmeiras, isso é ótimo, porque te dá liberdade. Mas se é uma pessoa mal-intencionada, é um perigo. Então, como eu estou aqui para ajudar o Palmeiras, para fazer o melhor para o Palmeiras, aqui eu não deixo, não tem nada obscuro aqui, nada. Se tiver, vai embora a pessoa.
– Eu costumo dizer que eu passei a minha vida inteira para construir uma credibilidade. O futebol não vai tirar essa minha credibilidade. Pelo contrário, eu vou ensinar para os clubes de futebol como que se administra um clube.
Qual é a relação da senhora com as organizadas hoje? A senhora já foi parceira deles, hoje parece que essa relação não existe mais.
– Eu sou uma pessoa que sempre respeitei todo torcedor. Acho que todo torcedor tem que ser tratado de uma forma respeitosa e de uma forma igualitária, sabe? Então, sempre os tratei de uma forma muito respeitosa. Como você disse, eu sempre colaborei. E o problema é que quando você para de colaborar, existem as cobranças. E eu não vou ser refém de pressão desmedida. Eu estou aqui para trabalhar pelo melhor para o Palmeiras e todo torcedor sabe disso.
– Com relação às organizadas, eu já dei várias entrevistas e não é produtivo nem para o Palmeiras e nem para torcida ficar me manifestando mais sobre essa parte da torcida do Palmeiras. Lembrando sempre que nós somos cerca de 20 milhões de torcedores. Então eu represento todos os torcedores do Palmeiras, que tenho certeza absoluta que estão muito felizes com a nossa administração.
–Acho que todo clube gostaria de ter uma presidente que tem a concessão de um estádio e tem aeronaves que possa emprestar para o seu clube, porque com esse calendário louco do futebol brasileiro, essa logística é fundamental. Nós adquirimos a concessão por 35 anos sim, da Arena Barueri, mas a prioridade sempre do Palmeiras é jogar no Allianz Parque. Infelizmente, nós não podemos jogar sempre no Allianz Parque por causa da quantidade de shows que temos em nosso estádio. Nós não temos a autonomia de dizer: “Olha, não vai ter esse show, que o Palmeiras vai jogar”. Infelizmente, o contrato que fizeram não deu essa autonomia para o Palmeiras.
– Hoje, se o Palmeiras não pode jogar no Allianz Parque e se eu não tivesse a concessão da Arena Barueri, onde o Palmeiras iria jogar? Pacaembu está em obra. O Palmeiras teria que sair de São Paulo para jogar em outra cidade. Olha a logística, olha o custo disso, não só financeiro, como físico dos meus atletas. Então, o Palmeiras joga em Barueri, que quem cuida do gramado somos nós, as minhas empresas, não o Palmeiras. O Palmeiras não tem despesa absolutamente nenhuma com o gramado, com absolutamente nada. Não tem locação do estádio. Isso é um privilégio que o Palmeiras tem. E sempre a decisão de jogar em Barueri não é da presidente Leila Pereira, é do departamento de futebol. Eu pergunto sempre pra eles: “Onde que é melhor pro Palmeiras jogar?”. Não tem o Allianz Parque. “Leila, Barueri”. Então vamos jogar em Barueri.
E quando acabar seu mandato? Porque são 35 anos de concessão na Arena Barueri.
– Depois que eu for, quando sair do Palmeiras, tenho a Arena Barueri. Se o Palmeiras quiser usar, estará à disposição. Se não quiser usar, não tem problema absolutamente nenhum. O meu negócio não é a Arena Barueri. Eu peguei a concessão da Arena Barueri para colaborar também com a Sociedade Esportiva Palmeiras, porque eu estou aqui para trabalhar pelo Palmeiras. Invertem as situações. Em vez de falarem “a Leila é a presidente, ela conseguiu a concessão para colaborar com o Palmeiras” dizem “ela está usando o nome do Palmeiras”. Nós não precisamos usar o nome do Palmeiras para fazer jogos em Barueri, para fazer shows em Barueri.
– A da Placar, criou aquela polêmica absurda… Hoje o Palmeiras paga uma fortuna nesses fretamentos. É um absurdo quanto se paga. E a gente não viaja no horário que a gente quer. A gente consegue no dia mais apropriado para o Palmeiras, mas não no horário. Às vezes no retorno, não dá para voltar no mesmo dia, como a gente gostaria. Com a minha aeronave, o Palmeiras, não paga absolutamente nada, nada. Viaja a hora que quer e volta quando quer. Veja: quando o Palmeiras freta pagando esse valor absurdo, que é caríssimo, está lá o nome, está lá a marca, o logo da empresa que freta aeronave. Mas ali, a empresa está fazendo propaganda com o nome do Palmeiras, e o Palmeiras está pagando. Por que ninguém reclama?
– Na minha empresa, que o Palmeiras não paga absolutamente nada, zero, dizem: “Não, ela está usando o Palmeiras para divulgar a empresa dela”. Eu não preciso do Palmeiras para divulgar minhas empresas. O que o Palmeiras precisa é de uma aeronave para viajar a hora que quer e voltar a hora que quer. Mas eu não dou ouvidos a quem faz esse tipo de crítica, porque, na verdade, o que eu quero é fazer o melhor para o Palmeiras. E o Palmeiras vai continuar, sim, utilizando a aeronave da presidente, e vai continuar sim usando Barueri quando o departamento de futebol achar que ela é a melhor solução.
Você ou suas empresas poderiam no futuro investir no futebol fora do Palmeiras? Adquirindo naming rights de estádios ou investindo diretamente em uma compra de SAF, até pela experiência que está adquirindo no futebol.
– Eu penso muito a curto prazo, penso neste ano. Eu gostaria de ser reeleita, gostaria que o Palmeiras conquistasse o máximo de títulos possíveis. Eu estou no Palmeiras porque amo o Palmeiras. As pessoas falam que eu torço por outro clube, tudo conversa fiada. Se eu torcesse por outro clube, não estaria no Palmeiras. Eu estaria investindo em outro clube, como fiz aqui no Palmeiras. Eu me transformei em patrocinadora do Palmeiras pelo amor que tenho ao meu clube. Tinha certeza absoluta que nós poderíamos colaborar, como colaboramos, não é?
– Eu não me vejo em outro clube. Mas isso eu estou falando hoje. Porque, como eu disse, as coisas vão evoluindo, as coisas mudam na vida da gente.
– Mas não tenho dúvida que toda essa minha trajetória aqui no Palmeiras está na história. Tanto na minha história, como na história do futebol brasileiro, como na história do Palmeiras. Isso me deixa profundamente feliz e honrada.
Todo mundo conhece a Leila empresária e dirigente, mas o que a Leila faz quando precisa desligar?
– Eu sou uma pessoa muito feliz, sabe por quê? Porque eu só faço o que realmente eu gosto. Se eu estou no futebol, é porque amo estar aqui.
Assiste às mesas redondas quando está em casa?
– Claro que assisto. E detalhe, fico chocada com determinadas coisas que falam. Põe palavras na minha boca, entendeu? Que eu não falei, sabe? Falam determinadas coisas que… Não é verdade. Dá vontade de pegar o telefone e ligar. Eu gosto de futebol. Olha, vou te falar uma coisa, na minha vida, eu descobri que aqui é o meu lugar. Isso é uma coisa muito filosófica e interessante. Que as pessoas, às vezes, passam a vida inteira sem saber qual é o meu lugar. Eu descobri meu lugar, por isso eu me sinto à vontade, conversando com vocês, eu me sinto à vontade na Federação Paulista, na CBF, porque aqui é o meu lugar.
Mas a senhora deve ter hobbies fora do Palmeiras…
– Eu gosto de futebol. Não gosto de outra coisa. Antigamente eu lia muito, até perdi um pouco meu hábito, precisaria até voltar. Mas o futebol não me deixa. Aí, quando vou ler, eu vou ler sobre futebol. Eu gosto muito de viajar, viajo quando posso. É isso que faço. Eu gostava muito de ópera. Aliás, eu gosto de ópera, mas você vai me perguntar: “Leila, qual foi a última vez que você foi a uma ópera?”. Foi antes de eu ser presidente do Palmeiras.
– Eu vivo hoje full time. Inclusive eu falo até com meu marido. Porque sempre trabalhei muito com ele, não é? E eu sei também que esse período é muito especial na minha vida. Como presidente do Palmeiras. São três anos, se eu for reeleita, mais três. São seis anos. E depois acabou. Porque eu não vou voltar mais. Não volto mais para ser presidente do Palmeiras. Eu acho que esse é o momento e acabou. Então tenho que aproveitar até a última gota esses momentos, mas mais do que especiais que vivencio aqui, sabe?
– “Você vai falar para mim, Leila, ah, você gosta de viajar?”. Mas eu sempre viajei muito. “Ah, Leila, você gosta de ver ópera?”. A minha vida inteira eu fiz isso. Eu adoro o Rio de Janeiro. “Você gosta de ir à praia?”. Não é possível ir à praia… Não é possível. Aliás, o Palmeiras é meio traumatizado com esse negócio de dirigente que foi à praia. (risos) Então, eu não vou. Isso dá azar. Mas são outras épocas, tá?
[Nota da redação: Leila Pereira faz referência a Arnaldo Tirone, ex-presidente do Palmeiras, que foi flagrado na praia no dia seguinte ao rebaixamento do clube para a Série B, em 2012]
No shopping, às vezes, dá pra dar uma escapadinha, presidente?
– É impossível ir ao shopping. Quando você fica com muita visibilidade, não tem muita liberdade. Esse é um problema de um dirigente de futebol. Tudo depende do resultado. Hoje eu posso ir ao shopping, mas tudo depende do resultado, senão você fica muito exposta, é meio complicado. O futebol te tira um pouco da sua liberdade. Mas como eu amo o que faço, não ligo para isso. Quando eu quero ter liberdade, viajo porque tenho apartamento no exterior.
– Quando, em Datas Fifa, eu viajo e posso andar tranquila. Mas tento vivenciar ao máximo esse momento mais do que especial que eu estou vivendo. Vocês viram eu cantar Emoções lá para os atletas (na Seleção)? Você vê que a presidente do Palmeiras tem mil e uma utilidades, eu canto também, sabe? (risos) Mas escolhi uma música muito representativa. Por tudo que eu estou vivendo, vivenciando no futebol, que é fantástico.
Como é sua relação com torcedores hoje, inclusive de outros clubes?
– Os torcedores que amam o Palmeiras mesmo, veem em mim (um bom trabalho), e vou te falar mais, até de outros clubes. Eu tenho experiências fantásticas com torcedores de outros clubes. Eu nunca fui hostilizada por torcedor de outros clubes. Pelo contrário. Eles chegam em mim e falam: “Leila, você não quer vir pra cá?”. Não vou falar o nome dos clubes. “A gente precisa de uma pessoa como você”. Isso é muito bacana. O que que isso representa? O torcedor sabe, né? Da minha responsabilidade com o meu clube e o respeito que eu tenho com os outros torcedores, que é fundamental.
Você falava muito desse momento de ter se encontrado no Palmeiras e me parece que essa relação com o clube foi passada pelo seu marido, José Roberto Lamacchia. Hoje ele é conselheiro do Palmeiras. O quanto a senhora se aconselha com o “Beto”?
– Zero. Meu marido, ele é péssimo conselheiro (risos). Meu marido é um torcedor. Às vezes eu preciso fazer algumas negociações aqui e ele grita: “Você não vai fazer”. Eu vou fazer. Quem manda lá sou eu. Eu sou a presidente. Então, ele como conselheiro, é péssimo. Porque é um torcedor, age com o coração. E eu estou aqui para agir racionalmente.
Com quem a senhora se aconselha para tomar decisões no Palmeiras?
– Eu administro o Palmeiras de uma forma extremamente profissional, me aconselho única e exclusivamente com os nossos profissionais aqui de dentro da Academia. Eu respeito os torcedores, respeito meu marido como torcedor e ele sabe disso. E não tenho dúvida nenhuma que ele tem um profundo orgulho da mulher dele ser presidente desse clube gigante. Ele é uma pessoa muito inteligente e fala pra mim: “Leila, tudo na minha vida, tudo passa pela minha cabeça. Tudo, tudo passa pela minha cabeça”. Ele sempre fala isso para mim. Aí eu falo com ele: “Beto, você podia imaginar que eu seria a presidente do Palmeiras?”. Ele fala: “Não, isso nunca”. Você vê que eu sou uma mulher surpreendente, não é? (risos)
– Ele está muito feliz por tudo, por todo esforço que nós fizemos e continuamos fazendo para colaborar com o Palmeiras. Eu não tenho dúvida nenhuma que ele confia muito no meu trabalho. E ele está vendo o resultado, fica muito orgulhoso. Porque antes eu era conhecida como a esposa do José Roberto Lamacchia. Hoje ele é conhecido como o marido da Leila Pereira. É engraçado, quando ele está comigo, as pessoas chegam para tirar foto comigo, né, e empurram ele, ele fala: “Dá licença, dá licença”. Sai, para tirar foto comigo, e ele fica super orgulhoso. (GE)