Gostaria de destacar a importância deste momento em que participamos da primeira Audiência Pública sobre o Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de Mato Grosso, proposta pelos deputados Allan Kardec e Suelme Fernandes, ambos do IHGMT.

 

A Lei Marília Beatriz, em homenagem à poeta, intelectual e multiartista que infelizmente nos deixou no início da pandemia em 2020. Para além dos 11 anos que foram necessários para a elaboração deste documento, com a participação não só do poder público, mas da sociedade e cadeias criativa, produtiva e mediadora do Livro, podemos nos lembrar, ao longo da história, dos que nos garantiram o conhecimento da trajetória da gente mato-grossense neste centro geodésico da América do Sul.

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Gente como o cronista José Barbosa de Sá e o vereador Joaquim da Costa Siqueira, garantiram que chegasse até os nossos dias as narrativas dos primeiros tempos de Cuiabá, de 1719 a 1786… nos Annaes do Sennado da Câmara do Cuyabá, por exemplo, escrito por ordem da rainha de Portugal, Dona Maria I. E hoje conhecemos parte dessa história graças aos seus escritos, registros, a guarda dos manuscritos pelas instituições ao longo dos séculos, sua conservação, transcrição, organização, publicação e divulgação por meio de livros impressos e digitais…

 

Nos séculos XIX e XX muitos autores/pesquisadores/amantes das Letras e da Literatura continuaram garantindo a nós, aqui, hoje, o conhecimento das diversas narrativas ao longo da nossa trajetória neste território histórico-geográfico: Ricardo Franco de Almeida Serra, Francisco José de Lacerda e Almeida, Bartolomé Bossi, Joaquim Ferreira Moutinho, Joaquim da Costa Siqueira, João Severiano da Fonseca, Francisco Antônio Pimenta Bueno, Francis Castelneau, Luiz D’Alincourt, Augusto Leverger, José Vieira Couto de Magalhães, Cândido Mariano da Silva Rondon, Virgílio Corrêa Filho, Estevão de Mendonça, Nilo Póvoas, Lenine de Campos Póvoas…

 

Como poderíamos saber sobre os desafios do século XIX e início do XX sem os registros do Álbum Graphico do Estado de Matto-Grosso, publicado em 1914, que coletou e organizou muitos textos e imagens de todo o território do então Mato Grosso Uno? Essa publicação foi editada em Corumbá e impressa em Hamburgo, na Alemanha. Um grande feito para a época. De lá para cá, muita coisa mudou!

 

Hoje, felizmente, contamos com muitíssimos autores, pesquisadores de diversas áreas nas universidades; com editoras competentes e diversos profissionais da área de edição, ilustradores, artistas plásticos, revisores, parques gráficos… que realizam o trabalho importantíssimo de registrar e divulgar a produção intelectual mato-grossense.

 

Olhando do ponto de vista da História e Geografia, por exemplo, modernamente contamos com muitos autores/pesquisadores igualmente dedicados, como Carlos Rosa, Elizabeth Madureira Siqueira, Maria de Fátima Costa, Tereza Cristina Higa, Gislaene Moreno, Leodete Miranda, Leny Caseli Anzai, Paulo Pitaluga…

 

A produção de todos eles e de muitos mais precisa estar disponível aos professores, alunos e comunidades em cada ponto do Estado de Mato Grosso, principalmente, em bibliotecas atrativas em todos os nossos municípios e nas escolas públicas e particulares.

 

Neste momento, ao tratar da aprovação deste Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de Mato Grosso, estamos cuidando para que as atuais e futuras gerações tenham garantido o seu direito de acesso à sua história, ao conhecimento do seu território, à essência de sua cultura, com suas manifestações artísticas abrangendo todas as linguagens, notadamente a Literária – a partir da qual tudo pode derivar.

 

Na qualidade de representante designada pelos meus pares no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, instituição centenária criada por intelectuais do início do século XX que compreendiam a importância do conhecimento registrado nos Livros e sua divulgação, trazemos o nosso total apoio às diretrizes propostas por este Plano, uma construção coletiva que define uma Política de Estado para o Livro em Mato Grosso. Faz-se imprescindível a aprovação e a implementação deste Plano, pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso.

 

Temos problemas urgentes a enfrentar em nossas Bibliotecas Públicas Municipais, Comunitárias e Particulares: a modernização desses equipamentos culturais e a constituição de acervos consistentes e representativos da produção intelectual, de pesquisa e editorial de Mato Grosso é uma necessidade há muitas décadas.

 

Todos nós que fazemos parte do IHGMT queremos que a sociedade mato-grossense venha a ter acesso ao conhecimento tão competentemente registrado por historiadores, geógrafos, pesquisadores de todas as áreas das ciências humanas e sociais, e toda a criação do espírito humano aqui em Mato Grosso, realizada pelos autores e autoras da nossa Literatura e Cultura ao longo destes três séculos.

 

A falta de bibliotecas e a defasagem dos acervos das que existem é um problema que precisaremos enfrentar e o Plano Estadual do Livro, Leitura e Biblioteca nos ajudará, ao estabelecer que 30% deste acervo seja constituído por obras e autores de Mato Grosso.

 

O passo seguinte será levar este conhecimento e valores para as escolas dos sistemas Público e Particular de Ensino. Assim, conhecendo nosso território, sua História, Arte e Cultura, teremos condições de buscar os melhores caminhos para o conjunto da sociedade.

 

*NEILA MARIA DE  SOUZA BARRETO   é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História. É membro da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT).
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