Tão logo avistou sua família no saguão de desembarque do Aeroporto de Guarulhos, na manhã desta quinta-feira, Júnior Moraes correu. Para quem tanto esperou, aqueles segundos eram preciosos: era preciso abraçar as pessoas que ele temeu nunca mais ver.

O atacante do Shakhtar Donetsk, uma espécie de líder do grupo de brasileiros escondidos no bunker de um hotel em Kiev desde a invasão da Rússia à Ucrânia, chegou ao Brasil sob forte emoção. Ao abraçar a esposa e os filhos, chorou muito. Em seguida, falou sobre o alívio de ter retornado.

– Não desejo a guerra para ninguém. Estou feliz por estar com minha família, por abraçá-los. Desde o início, foi só nisso que pensei – disse o jogador.

Para ele, a guerra teve um diferencial: o risco de ser convocado para integrar a resistência ucraniana à Rússia. Júnior Moraes tem dupla cidadania. Também é ucraniano.

– Eu não nasci para entrar em zona de confronto de guerra. Eu não sabia se ia sair ou não – relatou.

Júnior Moraes ganha abraço da família no Aeroporto de Guarulhos — Foto: Reprodução

Júnior Moraes ganha abraço da família no Aeroporto de Guarulhos — Foto: Reprodução

Por estar há cerca de uma década na Ucrânia, Júnior Moraes foi decisivo para os brasileiros que o acompanhavam. Ele tinha contatos para pedir ajuda, para agilizar uma forma de sair do país.

–Só pensei em ajudar a tirar o pessoal de lá. Tinha muito bebê, muita criança, todo mundo muito assustado.(…) Eu ficava o tempo todo tentando achar uma solução, uma saída, tentando achar leite para as crianças, fraldas. Para passar à minha família que eu estava bem, eu virava para uma parede, tirava uma foto, dava um sorriso e dizia: “Ó, tá tudo OK”.

– Eu não fui forte em nenhum momento. Em vários momentos, quando estava no limite, eu me escondia no banheiro ou me trancava no quarto, orava, pedia força para Deus, porque eu não podia fazer isso na frente de ninguém.

Agora, Júnior Moraes quer aproveitar alguns momentos de paz antes de decidir o futuro no futebol. Ele sabe que levará consigo memórias dos dias de guerra na Ucrânia.

– Tem mais brasileiros lá, a guerra continua, estou tentando fazer o máximo para tirar as pessoas de lá, tem famílias ucranianas também precisando de ajuda. De fora, é difícil ajudar, é mais o pessoal local que pode dar um suporte pra gente. Como estou no país há quase dez anos, conheço muita gente e estou tentando fazer o máximo para poder ajudar.

– Foram quatro dias de uma tensão muito grande. Quando começamos a chegar perto da fronteira, fiz questão de levantar (no ônibus) e olhar rosto por rosto. Era importante ter isso dentro da minha cabeça. Era uma expressão de ansiedade, de tensão, só que a esperança estava no olho de todo mundo. (GE)