Aos 46 anos, a jornalista Luciane Mildenberger é mais um desses exemplos de que o esporte pode transformar a vida de uma pessoa. Há oito anos, era uma profissional estressada, sedentária e à beira de um colapso na saúde quando começou a praticar corrida por brincadeira, sem nenhuma pretensão e depois viu a vida mudar completamente.
Hoje consagrada como uma campeã de triathlon, a jornalista que é natural de Pitanga (PR) e mora em Cuiabá há 25 anos, se realizou como atleta amadora correndo pelo mundo disputando maratonas. Depois dos desafios de Chicago, Boston, Paris e Berlim, ela vai representar Mato Grosso na famosa Maratona de Nova York em novembro deste ano, onde já está confirmada.
Na sequência, serão mais duas provas – uma em Londres (2020) e outra em Tóquio (2021) – para fechar a mandala e ganhar a medalha como a primeira mulher mato-grossense a concluir as ‘majors marathons’, que é o circuito das maiores maratonas do mundo.
Há algum tempo, isso era inimaginável para a jornalista que só agora está deixando o anonimato no cenário esportivo, para despontar na maratona em sua categoria (45 a 49 anos). Foi algo acima da expectativa para quem só buscava a saúde através do esporte, diz ela.
Sedentarismo e saúde em baixa
Tudo começou há oito anos, quando Luciane Mildenberger era funcionária da Sefaz e vivia sob uma rotina de stress e muita pressão. “Na época, eu trabalhava intensamente na área de comunicação e não tinha tempo para me dedicar a qualquer atividade física. E pude perceber que o sedentarismo estava fazendo muito mal à minha saúde. Resolvi virar a chave quando já estava ficando doente por causa do estresse e excesso de trabalho. Era a hora de me preocupar comigo e minha saúde. Foi quando aliei alimentação saudável e atividade física para mudar minha qualidade de vida”, conta Luciane.
A sorte estava do lado da jornalista que encontrou um caminho com facilidade. “Felizmente onde eu trabalhava havia um grupo chamado ‘Sefaz Runner’, que reunia alguns servidores para participar de corridas. Eu trabalhava sempre na cobertura dos eventos desse grupo e de vez em quando era provocada a participar”.
A jornalista conta que ‘não tinha coragem de encarar’ qualquer desafio que fosse. “Eu achava meio absurdo. Quem está de fora, acha o atleta ‘meio doido’, principalmente os que se dedicam muito e correm para valer. Mas, entendi que é sim uma boa loucura”, brinca ela, revelando que não era propósito correr, mas foi atraída a começar fazendo caminhada. “Consultei nutricionista com foco na mudança de minha alimentação, já que tinha uma rotina indefinida. Até então, não almoçava, não jantava e às vezes ia direto para uma mesinha de bar. A alimentação era muito errada”.
Maratonas
Luciane conta que começou a se sentir melhor a partir do momento em que iniciou no grupo de corredores da Sefaz, participando de algumas brincadeiras. “Foi bacana porque eu já estava me sentindo muito bem. Comecei a treinar e quando vi, já estava participando das corridas. Minha primeira prova foi uma corrida de 5km. Depois, disputei a Corrida do Servidor (7km) e na sequência, a Corrida de Reis. Não demorou e fui para as meia maratonas de 21 km. Então, já me achava preparada e resolvi enfrentar uma maratona em 2015. Enfim, eu era uma atleta amadora”. E como o foco era o bem estar e a saúde, os resultados das corridas não eram considerados tão importantes: “Estava sempre entre as primeiras da minha categoria, mas não estimava muito isso. Nunca tive a vaidade por vitórias. Minha qualidade de vida era o objetivo”, argumenta.
Mesmo sem nenhum patrocinador, Luciane afirma que realizou um sonho ao participar da corrida de Berlim, sua primeira maratona internacional. “Foi um estímulo e tanto. Em 2016, fiz a Maratona de Porto Alegre, quando consegui o índice para correr a Maratona de Boston (EUA). Me lembro que precisava de uma marca inferior a 3h40min para alcançar índice e consegui tempo de 3h35min os 42 quilômetros de Porto Alegre que garantiu meu passaporte para Boston. Resolvi me especializar em maratonas”, afirma a jornalista que em novembro vai disputar a sua oitava maratona, que é a de Nova York.
“Essa é a quarta maior maratona do mundo e meu maior desafio. Mais de 50 mil pessoas disputam essa prova. Depois, ficarão faltando duas corridas, sendo Londres, em abril de 2020 e Tóquio (fevereiro de 2021), para fechar a minha mandala”, complementa.
Triathlon
“Em 2017, comecei a praticar o triathlon, uma modalidade que entrou de forma muito espontânea na minha vida porque estava com uma lesão no pé, o que me atrapalhou de correr. Foi quando comecei a praticar natação e fiquei por três meses fora do circuito de corridas. Também passei a pedalar e o triathlon entrou de vez na minha vida. Em 2017, participei de competições regionais nesse esporte. No ano de 2018, fui para uma competição de alto nível no triathlon e fui campeã. Este ano, participei do Meio Ironman. No final do ano, em Santos, vou para a disputa do Troféu Brasil de Triathlon Olímpico”, conta.
E o que começou de forma despretensiosa, virou caso sério na vida da jornalista. Para se ter uma ideia, ela acorda todos os dias religiosamente às 4 horas da manhã para treinar. “O triathlon exige muito treinamento. Então treino de madrugada para poder conciliar o trabalho com a vida de atleta amadora. E não para por aí. À noite, volto aos treinos com natação, musculação e mais corrida”, enfatiza.
Rotina – Luciane faz parte da equipe de corrida ‘AD Training’, do seu técnico Alexandre Dias. O treinador a passa uma planilha, onde executam juntos as atividades. Segunda, quarta e sexta, treina corrida, natação e musculação. Nas terças e quintas faz pedal e às vezes natação. No sábado e domingo é prá valer: treinos de percurso longo com 80 quilômetros de bike e 30 de corrida.
“Muitas pessoas me questionam como comecei no esporte. Sempre digo que isso é uma coisa que não passava pela minha cabeça. Mas, as circunstâncias me levaram e logo virou uma paixão. Fiquei completamente viciada. A endorfina me estimula muito e fora isso, criei um círculo de amigos que virou uma família. Além disso, a corrida e o triathlon são esportes desafiadores que nos estimulam e até nos levam à exaustão. Mas a sensação de bem estar e prazer fazem valer a pena”, diz a atleta que banca suas viagens com o dinheiro do próprio bolso.
Uma vencedora
Luciane começou a praticar o triathlon em 2017, quando participou do campeonato Triathlon Sprint do Pantanal – Fast (350 mts natação, 10k de pedal e 2,5k de corrida), quando foi vice-campeã. Em 2018, participou do Campeonato Triathlon Sprint do Pantanal – Short (750 mts de natação, 20k de pedal e 5k de corrida). Também foi a vencedora.
Em 2018, Luciane também levantou o título de campeã do Mato-grossense de Duathlon (5k de corrida, 20k de pedal, 2,5k de corrida). Em abril de 2019, participou do primeiro Triathlon 70.3, em Caiobá, Paraná (1.900 metros de natação, 90k de pedal e 21k de corrida). Ficou em terceiro lugar na sua faixa etária.
Em agosto de 2019 ela participou do Ironman 70.3, em Maceió, Alagoas (1.900 metros de natação, 90k de pedal e 21k de corrida). Ficou na 15ª colocação.
Ainda em 2019 ela disputou corridas de 10k e 21k (Corrida de Reis, Corrida do Aniversário de Cuiabá, Corrida da Advocacia, entre outras).
Na sua agenda ela tem a última etapa do Campeonato Triathlon Sprint (750 mts de natação, 20k de pedal e 5k de corrida), em outubro, em Cuiabá. Nessa disputa, Luciane é a vice-líder do campeonato. No seu currículo, são centenas de provas realizadas, com muitos pódios, troféus e medalhas.
Algumas provas que Luciane Mildenberger participou
2013 – 25km no Deserto do Atacama/Chile2014 – Meia Maratona de Paris/França (21km)
2014 – Meia Maratona de Melbourne/Austrália (21km)
2015 – Maratona de Berlim/Alemanha (42km) – uma das maiores do mundo
2016 – Maratona de Porto Alegre/Brasil (42km) – nela consegui o índice para correr a icônica Maratona de Boston/EUA
2017 – Maratona de Boston/EUA (42km) – mais antiga, mais famosa e uma das maiores do mundo
2017 – Maratona de Buenos Aires/Argentina (42km)
2018 – Desafio do Dunga 78km – Orlando/EUA (quatro provas em 4 dias – 5k/10k/21k/42k)
2018 – Desafio Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro/Brasil – (duas provas em 2 dias – 21k/42k)
2018 – Maratona de Chicago/EUA (42km) – uma das maiores do mundo
Próximos desafios
2019 – Maratona de Nova York/EUA (42km) – uma das maiores do mundo – vou participar dia 03 de novembro
2020 – Maratona de Londres/Inglaterra (42km) – uma das maiores do mundo – vou participar dia 26 de abril de 2020
2021 – Maratona de Tóquio/Japão (42km) – uma das maiores do mundo – vou participar em fevereiro de 2021, quando completo o circuito das 6 maiores maratonas do mundo e recebo a mandala.
Você pode
Luciane se afirma grata ao que o esporte fez em sua vida e, de sua experiência leva a mensagem àqueles que não acreditam ter capacidade para praticar atividade física em favor de uma vida melhor: “Você tem que dar o primeiro passo se realmente quer qualidade de vida. É mito dizer que se você já tem 30 ou 40 anos não dá mais conta. A sua força de vontade de virar a chave e mudar a sua vida é que faz a diferença. É necessário que as pessoas tenham atitude e se conscientizem de que têm que buscar o que é saudável”.
“Eu tive essa atitude. Mudei de vida e não me arrependo nunca de me levantar todos os dias as 4 da manhã para treinar. Pelo contrário, isso me faz muito bem. Eu tenho muito mais disposição para meu trabalho e mais disciplina. Então é algo que você leva para a sua vida. É o que recomendo a todos. Que mudem de vida e façam pelo menos alguma atividade física. Não é necessário virar atleta, mas só o fato de andar duas a três vezes por semana durante 30 minutos, vai fazer muita diferença em seu bem estar, em sua saúde e até em sua vida”, recomenda.