GABRIEL NOVIS NEVES
O compositor e cantor Chico Buarque é o autor de Geni e o Zepelim, música de 1978.
Não sou fã de carteirinha do compositor e escritor, mas a letra da música Geni e o Zepelim é uma narrativa poética e dramática, cheia de hipocrisia social.
‘Joga pedra na Geni’ transformou-se em uma espécie de bordão.
Geni era a representação de pessoas ou instituições que sofrem preconceitos que, em determinadas situações políticas, tornam-se alvo de execração pública, ainda de forma transitória ou volátil.
‘Joga pedra na Geni ‘ simboliza o linchamento moral e social que Geni, uma mulher travesti, sofre diariamente, sendo tratada como bode expiatório de uma sociedade que precisa descarregar seus ódios em alguém ou instituição vulnerável.
A ironia central da música está no momento em que a cidade, que antes repudiava Geni, se ajoelha e aplaude seu ‘sacrifício’ diante um pedido de um rico Comandante, para salvar todos.
Essa inversão mostra como a moralidade dessa sociedade é oportunista: Geni só foi valorizada enquanto servia a um propósito.
Assim que o perigo passa, ela volta a ser alvo de desprezo, retomando o refrão que a condena.
A obra critica como a sociedade transforma certos indivíduos e instituições em alvos de exclusão, ao mesmo tempo que os explora quando necessário.
Chico Buarque faz uma analogia com questões maiores, como desigualdade social, intolerância e a hipocrisia de normas que variam conforme o interesse coletivo.
O bordão ‘Joga pedra na Geni’ carrega o peso do julgamento coletivo, muitas vezes irracional, que transforma pessoas e instituições em símbolos de tudo que a sociedade rejeita, ignorando a complexidade e humanidade do indivíduo.
A música, portanto, é um grito contra essa moralidade perversa e contra a incapacidade da sociedade de enxergar e respeitar o outro como igual.
Estamos na época das posses de autoridades em cargos eletivos importantes.
Tenho recebido convites para as festas de muitas posses.
Lembrei muito da minha saudosa mulher, que não compareceu nas nove posses quando assumi cargos públicos importantes em instituições federais, estaduais, particulares.
Eu sempre a convidava e ela respondia dizendo que o ato público era uma hipocrisia!
Quem comparecia nem sempre gostava de mim, e sim dos benefícios que o cargo lhes podiam fornecer.
Ela ficava em casa rezando pelo meu sucesso na empreitada.
(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT.
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