A verdadeira “tsunâmi tarifária” imposta ao mundo pelo presidente Donald Trump abre promissoras janelas de oportunidades econômicas para o Brasil em suas transações do comércio exterior.

A partir do dia 05 último, entrou em vigor a descomunal tarifação anunciada pela Casa Branca sobre as exportações de 185 parceiros comerciais dos EUA, com tarifas que variam de um patamar mínimo de 10%, chegando a 54% para alguns países. Ao colocar o Brasil na tarifa mínima de 10%, considerada neutra sob o aspecto do comércio exterior, a nova política tarifária aduaneira americana cria, involuntariamente, boas possibilidades para o Brasil expandir mercados para as empresas brasileiras, aumentar suas exportações para parceiros comerciais com os quais já transaciona e deve acelerar a celebração do acordo comercial Mercosul-União Europeia, fato que vai beneficiar diretamente a economia brasileira.Além das retaliações já anunciadas pela China, aquele país asiático deve reduzir drasticamente as importações de produtos agrícolas americanos, aumentando suas compras do agronegócio brasileiro.

Como, aliás, já havia acontecido no primeiro mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos quando sobretaxou as importações de produtos chineses. Em retaliação, o governo de Pequim aumentou as tarifas e barreiras aduaneiras sobre produtos americanos, reduziu compras de carnes, soja e milho e passou a comprar mais do agro brasileiro, tornando-se nosso maior parceiro comercial. Seis meses depois, os EUA foram forçados a firmar, às pressas, um acordo com os chineses, retirando a sobretaxação e combinando um pacto que previa elevadas cotas de compras de commodities agropecuárias americanas que os asiáticos nunca cumpriram e nada sofreram pelo descumprimento.

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Grandes bancos americanos atualizaram suas projeções aumentando para 60% a possibilidade da economia dos EUA entrar em recessão em 2025/2026. (Marcello Casal Júnior / Agência Brasil)

A União Europeia, além das sobretaxações recíprocas, deve acelerar acordos comerciais com outros continentes como parte da estratégia de enfrentamento à ameaça americana ao atual sistema internacional de comércio, construído a duras penas por décadas de aprimoramentos e complexas negociações comerciais e diplomáticas. Nesse contexto, o acordo comercial Mercosul/União Europeia surge como uma alternativa óbvia para manutenção do fluxo comercial e reduzir a dependência das compras americanas.

Formou-se um consenso entre analistas financeiros, grandes universidades americanas e consultorias que as medidas anunciadas pelo governo americano guardam um evidente desconhecimento macroeconômico e de relações internacionais, a partir do “fetiche da reindustrialização”. Como resultado, produzirão retração da economia do país, aumento da inflação e, por conseguinte, reduzirá a rentabilidade das empresas e a renda das famílias americanas. Em editoriais, os principais jornais americanos consideram que foi o maior ato de autossabotagem do país, já visto na história. Os grandes bancos americanos atualizaram suas projeções aumentando para 60% a possibilidade da economia dos EUA entrar em recessão em 2025/2026.

Em relatório distribuído a clientes, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne mais de 400 bancos e instituições do mundo, considera que as medidas aumentam exponencialmente as possibilidades de queda da atividade econômica americana e aumento da inflação pois encarecem insumos essenciais da indústria (aço, alumínio, cobre refinado, semicondutores, farmacêuticos, fertilizantes) e atingem todas as cadeias de suprimentos vitais para a produção doméstica americana.

A tarifa neutra estabelecida na nova política tarifária trumpista oferece ao Brasil um dos maiores impulsos ao seu comércio exterior. O país ainda pode se beneficiar do enfraquecimento do dólar, redução dos preços internacionais do petróleo e abertura de novos mercados para os produtos agropecuários como Vietnã, Japão, Indonésia. Além, naturalmente, de aumento das vendas para China e mercado europeu.

É muito provável que o presidente americano recuará da maior parte das mudanças tarifárias, pressionado pelos consumidores-eleitores, grandes corporações empresariais americanas e pelo resto do mundo. Considero completamente improvável o redesenho de todo o sistema de comércio internacional de forma unilateral. Uma arquitetura de comércio que começou a ser construído desde o final da segunda guerra mundial pelos maiores líderes políticos e empresariais do mundo civilizado O atual sistema de comércio exterior teve como principais arquitetos os estrategistas econômicos e geopolíticos americanos. A intensa expansão da comercialização de bens e serviços entre as nações é responsável por grande parte do enriquecimento dos EUA e contribuiu, juntamente com a industrialização e inovação tecnológica, para o país se tornar a maior economia do planeta.

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP. Autor do livro “Mato Grosso, Território de Oportunidades”.  

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Vivaldo Lopes DIAS é economista e professor universitário.  (Fotos: Luiz Antônio Alves / Secom-Cuiabá)