A decisão da Justiça, que permitiu ao Vasco jogar no Maracanã contra o Atlético-MG, neste domingo (20), é motivo de celebração no clube, mas, por outro lado, a equipe ainda pode não atuar com público em São Januário. Mesmo com o fim da punição de quatro jogos sem jogar em casa, após os incidentes na derrota para o Goiás, em junho, é necessário precisa obedecer a uma ação que, há dois meses, mantém a interdição do estádio. Isso, afinal, vem causando indignação entre dirigentes, torcedores, moradores locais e até figuras políticas.

O CEO da SAF vascaína, Lúcio Barbosa, falou à ‘ESPN’ nesta quinta, classificando como “absurda” a decisão e, sobretudo, repudiando o texto do juiz Marcello Rubioli, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos. Ele classificou São Januário como um local inseguro e citou a comunidade da Barreira do Vasco como “um local de tráfico de drogas, disparo de arma de fogo (…) e pessoas embrigadas”, o que viralizou nos últimos dois dias. O dirigente, então, saiu em defesa de São Januário.

“É claro que a gente se incomoda quando falam que São Januário é perigoso. O Vasco cresceu com a Barreira. Frequento a Barreira desde moleque e nunca aconteceu nada comigo. Acontecem coisas? Acontecem, assim como em todo o Rio de Janeiro. Mas acabar com público em um estádio é muito delicado quando se fala que os arredores são perigosos”, disse, garantindo que o Vasco logo voltará à sua casa:

“Acreditamos que o melhor será feito, por isso mesmo queremos abrir São Januário e iremos abrir. Jogamos no ano passado inteiro com todos os jogos lotados, nesse ano também e em nenhum deles teve confusão (nota da redação: à exceção, claro, do dia 22 de junho, contra. Isso não impede que a torcida volte. Não tem nada a ver com arredores, nada a ver com a Barreira. Mas estamos falando de 20 mil famílias impactadas sem o público no estádio”, disse, sobre a geração de renda na comunidade com os jogos.

São Januário não recebe público desde 22 de junho – Foto: Daniel Ramalho/CRVG

Vereadores lutam por liberação do estádio

E a repercussão do conteúdo da decisão do juiz foi tão negativa que até a Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro se pronunciou. Nesta quinta (17), a Casa aprovou uma moção de repúdio à interdição de São Januário, de acordo com proposta do vereador Pedro Duarte, (NOVO). Ao todo, 26 vereadores assinaram a moção.

Pedro afirma que a mobilização é necessária devido à importância do estádio, não só para o Vasco, mas para o futebol carioca como um todo. Ele também ressalta que o clube já cumpriu a punição do STJD, o que deveria, portanto, fazer com que os jogos voltassem a ocorrer com presença de público, a exemplo, inclusive, do que ocorre com clubes como Santos e Sport.

“Simbólico, mas necessário nessa mobilização. É absurdo que a torcida não possa usar seu próprio estádio. A pena do STJD já foi cumprida, acabou. Moção Coletiva de Repúdio à interdição de São Januário aprovada na Câmara! #LiberemSãoJanuário”, escreveu o parlamentar, em suas redes sociais.

Moção pela liberação de São Januário feita pela Câmara Municipal – Foto: Divulgação

Decisão do juiz revolta moradores locais

A bem da verdade, a decisão de Marcello Rubioli é ainda de julho, pouco após após o jogo contra o Goiás, que terminou em confusão. Foi a partir deste despacho, feito junto ao Ministério Público, que o estádio acabou interditado. Mais tarde, foi mantida. Entretanto, a divulgação recente do texto repercutiu negativamente. O próprio Vasco emitiu nota dizendo que “o estádio (…) e as comunidades localizadas no seu entorno vêm sendo alvo de ataques preconceituosos e elitistas”.

“Uma tristeza e a certeza de que ainda existe preconceito e racismo por uma favela. Vem conhecer no dia dos jogos para ver. Não tem essa criminalidade, essa violência que colocaram para gente. A favela é de paz”, disse Vânia Rodrigues da Silva, presidente da associação de moradores da Barreira do Vasco, apontando ainda a insatisfação de comerciantes locais pela falta de jogos no estádio.

Em entrevista à TV Globo, o juiz Marcello Rubioli lembrou que proferiu a decisão há mais de um mês e que se preocupava com a segurança dos torcedores. Por outro lado, afirmou que o trecho de sua decisão, relativo à Barreira do Vasco, está fora de contexto.

“Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio”, escreveu o juiz, na altura.

EXPECTATIVA PARA O JOGO DO DIA 19/9

Caso a interdição acabe, São Januário poderá receber o próximo jogo do time com público somente no dia 19 de setembro, contra o Coritiba. Afinal, após o duelo com o Galo, no Maracanã, o Vasco pega Palmeiras e Bahia fora de casa e o Fluminense em clássico também no Maraaca. (Jogada 10)