Marcas em um pilar de pedra dentro de um sítio arqueológico de 13 mil anos, em Göbekli Tepe, no sul da Turquia, provavelmente representam o calendário solar mais antigo do mundo. Segundo os especialistas responsáveis pela descoberta, o instrumento parece ter sido criado no que parece ser o impacto de um grande cometa, cuja queda pode ter desencadeado mudanças fundamentais à época.
Em uma descrição do achado, publicada em julho de 2024 na revista científicas Time and Mind, os pesquisadores sugerem que os povos antigos eram capazes de registrar suas observações do Sol, da Lua e das constelações na forma de um calendário. O objeto teria sido criado, principalmente, para controlar o tempo e marcar a mudança das estações.
Desvendando os símbolos
A análise da estrutura indica que cada V desenhado no “relógio” poderia representar um único dia. Essa interpretação permitiu que os pesquisadores contassem um calendário de 365 dias em um dos pilares, consistindo de 12 meses lunares mais 11 dias extras.
O Solstício de Verão, especificamente, aparece como um dia especial e separado, representado por um V usado em volta do pescoço de uma besta parecida com um pássaro. Outras estátuas próximas, possivelmente representando divindades, foram encontradas com marcações V semelhantes em seus pescoços.
Como os ciclos da Lua e do Sol são ilustrados, as esculturas podem representar o mais antigo calendário lunissolar do mundo — anterior a outros calendários conhecidos desse tipo em muitos milênios. Os povos antigos podem ter criado essas esculturas em Göbekli Tepe para registrar quando um enxame de fragmentos de cometas atingiu a Terra há 13 mil anos, por volta de 10.850 a.C.
Resquício de uma queda de meteoro
Sugere-se que o impacto do cometa tenha inaugurado uma mini era glacial com duração de mais de 1.200 anos, exterminando muitas espécies de animais de grande porte. Também pode ter desencadeado mudanças no estilo de vida e na agricultura, que se acredita estarem ligadas ao nascimento da civilização logo depois no crescente fértil da Ásia Ocidental.
Outro pilar no local parece retratar a chuva de meteoros Taurid, que se acredita ser a fonte dos fragmentos do cometa, com duração de 27 dias e emanando das direções de Aquário e Peixes. A descoberta também parece confirmar que os povos antigos eram capazes de registrar datas usando a precessão — a oscilação no eixo da Terra que afeta o movimento das constelações no céu. Vale lembrar que a precessão é um fenômeno que só foi oficialmente documentado em 150 a.C. na Grécia Antiga por Hiparco. Ou seja, quase 10 mil depois da suposta queda do meteoro.
Implicações do achado
As esculturas parecem ter permanecido importantes para o povo de Göbekli Tepe por milênios, sugerindo que o evento de impacto pode ter desencadeado um novo culto ou religião que influenciou o desenvolvimento da civilização. A descoberta também apoia a teoria de que a Terra enfrenta mais impactos de cometas à medida que sua órbita cruza o caminho de fragmentos de cometas em órbita.
“Parece que os habitantes de Göbekli Tepe eram observadores atentos do céu, o que é de se esperar, dado que seu mundo foi devastado por um cometa”, explica Martin Sweatman, autor que liderou projeto, em comunicado. “Este evento pode ter desencadeado a civilização ao iniciar uma nova religião e motivar desenvolvimentos na agricultura para lidar com o clima frio. Possivelmente, suas tentativas de registrar o que viram são os primeiros passos em direção ao desenvolvimento da escrita milênios depois”.
(Por Arthur Almeida)