A elevada pressão política e empresarial sobre o Banco Central para reduzir o atual patamar dos juros básicos tem levado o Brasil a discutir apenas esse tema, deixando de lado outros de maior relevância para o desenvolvimento do país. A excessiva importância atribuída aos juros, e a confusão entre medidas de curto e longo prazo, além de colocar em dúvida o regime de metas de inflação, adotada pelo Brasil desde 1999, tira do radar o debate sobre as verdadeiras razões que enfraquecem estruturalmente a dinâmica da economia brasileira.

Temas como modernizar e tornar mais competitiva internacionalmente a indústria do país, inovações educacionais e reforma tributária, todos temas de extrema relevância para o futuro do país, ficaram secundarizados pelo oportunismo e imediatismo dos ataques políticos à condução da política monetária pela atual direção da autoridade monetária nacional.

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Não se pode esquecer que o setor industrial é mais sensível aos rumos da política econômica no curto prazo e também aos juros. No entanto, a análise dos ciclos da produção industrial recente mostra que a exposição a choques externos e internos produzem efeitos positivos e negativos na indústria de forma mais expressiva que a política de juros ou erros de política econômica. Basta lembrar o estrago que a crise financeira mundial de 2008-2009 causou na produção industrial do Brasil.

Antes dessa crise, nos primeiros anos dos mandatos do presidente Lula, a produção industrial cresceu mais de 30%, mesmo em ambiente de taxas médias de juros próximas de 11%. A paralisação dos caminhoneiros em 2018 e a pandemia (2020) também causaram rombos na indústria infinitamente maiores que políticas monetárias restritivas. Em sentido contrário, a produção industrial cresceu fortemente com o boom internacional de consumo e valorização das commodities brasileiras em períodos antes e posterior à crise financeira global de 2008.

Deixados de lado os efeitos desses choques externos e internos, a produção industrial apresenta pouca oscilação, demonstrando sensibilidade apenas moderada aos efeitos da política monetária.

Já no primeiro ciclo do governo Dilma, a indústria deu os primeiros sinais de retração, mesmo com os investimentos em infraestrutura para a Copa Fifa 2014 e taxas de juros moderadas, desaguando na maior recessão econômica do país em 2015-2016. A retomada da produção industrial tem início na gestão Temer, apesar das taxas de juros elevadas, até sofrer o baque, em 2018, causado pelo errático movimento de greve de caminhoneiros e transportadoras. Em 2020-2021, enquanto todos falavam em “desindustrialização”, a taxa nominal de juros permaneceu em 2% ao longo de mais de dois anos.

A redução de consumo de bens e serviços tem mais correlação com a perda de renda e precarização do mercado de trabalho, ressaca da pandemia, do que com as elevadas taxas de juros

Não podemos, de jeito nenhum, menosprezar os efeitos nocivos que taxas de juros elevadas produzem na economia e, particularmente, sobre o setor industrial. Como, aliás, prejudicam também os setores de serviços e da agropecuária. Todavia, focar apenas nesse tema e não debater reformas estruturais também pode ser trágico para o crescimento econômico do país.

Temos que discutir e exigir decisões como avanço na educação para melhorar a qualificação do capital humano, reforma tributária para reduzir o “custo-Brasil”, segurança jurídica, modernização e ampliação da infraestrutura do país. Todas importantíssimas para melhorar o ambiente de negócios e aumentar a produtividade do Brasil e promover sua inserção competitiva no mercado global.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP. Autor do livro “Mato Grosso, Território de Oportunidades”.  

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